terça-feira, 3 de maio de 2011

Humana, 22 anos.

Hoje, eu recebi flores. Abracei muitos dos que amo. Escutei a voz de outros, que também amo. Eu almocei e jantei com pessoas que eu amo. Eu escutei palavras doces, senti os olhares de Amor. Hoje eu senti minha saúde. Hoje eu vi o mundo e me lembrei de que isso só é possível porque existe o Sol.
Hoje eu senti saudade de mim, da criança que fui, da adolescente que fui. Mas me confortei com a certeza que eu tenho de que eu sempre vou sentir saudade do passado e um dia vou sentir saudade de hoje. Por isso, pelo fato de saber que sempre vou sentir saudade de algo, eu tento cada dia mais perceber o milagre de estar viva em cada dia meu. Tento ir aos poucos e num exercício diário, minimizar minha vaidade e meu orgulho. Tento não ser medíocre com o que sou, com meus sonhos. Tento não sentir medo da minha luz, como Mandela certa vez falou.
E todos os dias enxergo o quanto sou privilegiada de ter um corpo saudável, de não sentir fome, de ter a família e os amigos que eu tenho. De, apesar de tudo, morar no Brasil.
Eu me sinto bem com a história que construí nesses 22 anos. Lembro dos enredos, dos personagens e da fotografia de cada momento que vivi. Tudo está aqui.
O que eu quero pra minha vida? O que eu quero, eu estou fazendo, sendo e vivendo. O que me anima é ser útil, é fazer algum sentido para quem está do meu lado, é poder de alguma forma ser positiva para alguém, é ser útil para o crescimento do outro. O sentido, em última instância, é sempre o outro. É sempre o outro a razão de estar viva. E é através do meu trabalho, dos meus estudos, das minhas escolhas que eu posso viver a práxis dos meus valores.
Minha casa é o meu corpo, é através dele que minha evolução na Terra se dá. Quero cuidar bem dele, quero cuidar bem do corpo do outro, sempre lembrando que "quando se toca um corpo, se toca uma história, uma memória". E é aqui nessa pele, sangue, carne e ossos, que todas as minhas expriências estão pintadas, onde a tinta entra na tela e tudo vira uma coisa só. Mas, mais do que isso, em meus genes, existem todos meus antepassados, minha árvore de raízes infinitas que me unem à toda humanidade e me fazem ousar chamar com voz trêmula, esses Homens de irmãos.
Sou Humana e quero fazer parte da construção desse "Humano" que nós, de forma incansável, tentamos alcançar. Quero alcançar o tempo em que Ser Humano dispensa qualquer forma medíocre de identidade, como números em contas correntes, cor da pele, em qual Deus se acredita ou deixa de acreditar ou em qual pedaço de terra se mora.
Nesse momento, eu acredito que, ou nossos valores mudam, ou a gente de forma global, se mata, através de todos os tipos de violência e pela agressão ao nosso planeta, que chora, esquenta, seca e inunda.
Os valores e a ética não estão mais ligados à uma religião ou qualquer tipo ideal de "bom samaritano". Eles devem ser reconstruídos e devem ressurgir urgentemente, para não entrarmos em colapso, em âmbito global. Com esses valores instituídos pelo sistema que vivemos, onde o capital rege nossas relações, naturalmente as relações são corroídas pelo capital. Subjetividade e comportamento estão sempre ligados à cultura que estamos inseridos, e esses aqui, estão fadados ao fracasso. E por conta desse meu Amor natural (?) pela minha espécie, eu tento todo-santo-dia à trancos e barrancos ser esse Humano ideal, sabendo que vou morrer caminhando atrás dele.
Mas... no mais é bom viver. Muito bom viver. E eu estou me sentindo mais velha com 22 anos. Não era pra ser natural esse sentimento. Ele só existe por causa do calendário. Mas, sim! Eu me sinto mais velha da noite para o dia, como se houvesse passado centenas de dias em minha vida. Sem calendário, esse ano não existiria. Ele é só uma tentativa nossa de dar ordem as coisas, porque sem uma noção de tempo linear, nossa cabeça piraria.

Mais uma que me acompamnha:
"Não é a perfeição, mas a totalidade que se espera de vc" - C.G.Jung

Gracias a la Vida!

Mais um ano se passou. Mais um ano chegou.

Já ouvi uma história de que de sete em sete anos o ser humano renova seu ciclo. Quando escutei isso, de imediato eu não concordei. Mas foi só pensar um pouco e vi que comigo essa idéia se encaixa. Os meus 21 anos, foi o ano mais produtivo, mais forte, mais consciente, mais reflexivo e mais amoroso de minha vida. Muitas vezes eu me vi aos avessos. Me surpreendi comigo inúmeras vezes. Comecei de fato a me realizar com a psicologia e ter a consciência de tudo o que eu posso com ela, e eu posso muito. Redescobri meu corpo. Redescobri o gosto das comidas. Comecei a capoeira. Estudei fotografia. Viajei, viajei, viajei.
E agora, eles se foram.
Ontem de noite, antes de dormir, tomei um susto quando senti a necessidade irrecuperável de me despedir dos meus 21 anos. É estranho não ter mais essa idade, já é saudoso ter passado por ele.
21 anos, foi um ano de passagem. O meu rito de passagem. Agora eu estou maior, já posso mais coisas e devo mais coisas pro mundo, pras pessoas. E como todo rito de passagem, foi também doloroso, minha pele descamou e eu, sem aceitar, voltei no caminho várias vezes pra catá-la. Hoje eu percebo, os pedaços tinham que ficar lá, voltar pra terra.
Com outra pele, eu começo a ter 22 anos nessa Terra. E como todo começo, grande parte minha ainda está lá atrás. E hoje, várias vezes eu percorri em imagens, aqueles caminhos passados. Re-senti o não, os sim, o adeus, as saudades, as vitórias, os re-começos, os choros, os abraços, as despedidas. Eu re-senti, mais uma vez, o Amor.
E aqui estou. De pele nova, ainda desbotada, em algumas partes cicatrizando, em outras firmes e regeneradas, outras intactas como pele de bebê. E com essa pele, com essas marcas eu sigo.
Eu continuo. Eu continuo...
Eu reafimo: nada passa. Aqui dentro tudo fica. As minhas memórias não acessadas, minhas células, matéria-energia. Está tudo aqui, nesse Eu-espaço-sem-fim.
Eu vivo essa Vida que me foi dada. Vivo essa família, esses amigos, esse Amor, esse corpo que sou eu. Vivo essa Terra, esse novo século, esse ano, esse dia, esse único eterno - o agora.
Eu quero a Vida com tudo o que ela me traz. Como um copo de suco, eu bebo o sumo, a espuma e os caroços. Tudo o que me for dado, eu vivo. Eu ando, eu vejo, eu respiro, eu corro, eu abraço, eu choro, eu grito, eu destruo, eu re-construo, eu tropeço, eu levanto, eu... Vivo.
Com esse corpo que me acompanha, com  essa alma que anima, com esse espírito que vivifica. Com minha mãe e meu pai e tudo o que eu sou, por eles.

Em Deus, em mim.

E, com meu Vovô Rai, eu verbalizo: Vence o Amor!