quinta-feira, 31 de março de 2011

vontade de colo

me deito na rede cheia de preguiça, ela é meu colo quando minha mãe não está.
mas deitar nela é pouco, eu quero ser o seu emaranhado de linhas, quero ter seu balanço de ninar e envolver quem nela deita.

na rede...

sábado, 26 de março de 2011

e se a bateria acabar, será que vai salvar?

permissão ao meio-termo

o único meio termo que eu gosto é a meia-luz. ela tem uma cor só dela, amarelada, que em fotos deixa a pele bem bonita. a meia-luz toca nas coisas, chega devagarzinho e por si só já é uma companhia. ela trisca os objetos, quase que enconstando, se debruçando preguiçosa. é tímida-atrevida: mostra pela metade. é essa a graça dela.
eu estava quase dormindo, levantei para escrever sobre ela. as palavras não podiam esperar. ela também não.
meia-luz tem voz, também: ela fala manso e o seu ritmo é vagaroso e intenso. ela respeita o escuro, eles se entendem, por isso eu gosto dela. ela é mais feminina quando é mais clara e masculina quando é mais escura.
eu agora tô dando pra personificar as coisas, objetar cheiros, colorir movimentos. eu tenho uma séria tendência à sinestesia e eu gosto disso. esses dias passei minutos com um amigo descrevendo o cheiro do eperfume dele e no final, deu uma fotografia: o cheiro é acolhedor e dá vontade de abraçar, é amadeirado, a cor dele é marrom-médio, ele é morno, é uma casa de madeira com a luz do sol no final da tarde deixando a madeira mais dourada, em volta da casa tem árvores baixinhas e alguns eucaliptos, na mesa um café foi derramado.

quanto à luz... eu tenho astigmatismo e isso que deu início ao meu apreço por ela.
além da sinestesia, uma vez eu experimentei a cinestesia: eu acordei(devo ter acabado de sair do sono REM) e não sabia onde estava meu braço esquerdo. quando voltei ao estado de vigília, isso passou.
as palavras são semente aqui dentro, quando sentimento.
brotam quando viram pensamento.
caem de madura quando escritas ou faladas.
e eu as mordo, gosto do seu sumo.
e engulo suas sementes pra nascer mais aqui dentro.

assim é ciclo do fruto do verbo.

A Flor que avoa

"Deus não dá asas à cobra. Mas têm umas que ele abriu uma exceçãozinha".
Minha amiga disse que está aprendendo a voar. E eu acredito. Ela voa, mas não é cobra. É pássaro que confunde as suas asas com as folhas e o resto do que a envolve de tão grande que elas são. De perto, ela não consegue ver o tamanho de suas penas e do que lhe faz voar. Eu as vejo de um outro ângulo e de mais longe, então eu posso sinalizar: "Flor, vc sabe voar!".

vestida de universo

naquela mesa: destreza. o seu corpo se derramou. era jacarandá, mas ela não sabia mais o que era madeira e o que era pele. a textura da mesa foi como gelo para a sua pele, que era morna. e ela se confundiu com aquele objeto, quando se viu esparramada nele. e deixando o seu corpo escorrer dele... e... e... não existia mais nada para ser dito, além de tudo o que pulsava e gritava pelos poros. ela tinha certeza de que a sua pele não só a cobria, como também a expunha. e ela se desabotoou por dentro, botão por botão. desabotoou-se e ao fazer isso, as linhas de disolveram com o suor. elas eram muito finas e qualquer desejo as rompiam. elas se desfizeram em suas mãos... e a menina se assutou, seu ar se suspendeu. ela se viu vestida de universo e só de universo. mas depois, sem esforço ela percebeu o quanto é bom se desfazer aos poucos, com suas próprias mãos e o olhar do outro. ele olhou seu cheiro.

era jacarandá. ela gosta do verbo que fecha a palavra.

dar nome é bom, parece que assim ela sente mais o que sente. dar nome limita, mas também clareia.
ela queria um nome, era jacarandá.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Só não ajoelho, porque não dá pra dançar.

Está muito bom viver a época do Baiana System. Estou me sentindo nos tempos dos Tropicalistas, da "A cor do Som", do Mangue-beate.
Eles estão re-revolucionando a música com a guitarra baiana. Não fazem parte de nenhum movimento musical, mas são Ponta de Lança. Só não ajoelho, porque assim não dá pra dançar.

Merecem e eu dou toda a minha energia corporal e todos os meus sorrisos em seus shows. O último assisti em Recife, no polo do Rec-Beat, com direito à máscaras da banda e tudo. Fora a minha sandália de couro que esgaçou, foi gostoso demais.


                                                                                                   

Sobre mãos, cheiros...

Cheguei no quarto de minha mãe, ele cheirava à jasmim. Minha mãe não sentia... tirei ela do quarto, quando ela voltou, ela sentiu. Perguntei se era algum perfume, algum desses cheirinhos de ambiente. Ela disse que não. "É Jesus que está presente". Que felicidade eu senti. O engraçado é que, faz um tempo que todas as vezes que eu passo por um pé de jasmim, eu arranco uma e coloco em meu peito. Minha roupa e minha pele ficam com o seu cheiro. Mais engraçado é quando eu soube que minha avó materna (que eu não conheci), também fazia isso.

Falando em cheiro, uma vez, na faculdade eu fui no banheiro, lavei as mãos só com água. Quando cheguei na sala, senti um cheiro de rosas bem forte... cheirei minhas colegas e não era ninguém. Passou uns minutos, percebi que eram minha mãos.

Falando em mãos, uma vez dormi com Minha Vovó Ange, na mesma cama. No outro dia, quando acordei, ela me disse: "Vi, essa noite vc colocou a mão em minha cabeça e ela estava muito quente. Eu tentei te acordar e não consegui. Vc estava dormindo e ficou assim alguns minutos".

Um dia eu quero entender isso. Sobre mãos e cheiros.


Acabei de falar com meu avô no telefone, fui agarader à um cd de Carlos Gardel que ele me deu de presente, porque segundo ele, era pra eu viver a Argentina aqui também. Dentro da conversa ele me disse uma coisa: "Tudo é novo quando acontece".

Eu quero chegar na idade dele surpreendendo. Assim como ele à mim.

Asco

"A sua inveja faz a minha fama"

Ô frasezinha triste. Como diz um amigo: "Esquizofrenia social da porra!"
Pior é quando colocam Deus no meio disso: "Deus que me deu", escrito atrás de um carro é triste... talvez pior que a Idade Média e o Concílio de Trento.

É ser muito mesquinho, criar a sua identidade baseada na inveja do outro.

Eu só me sinto MAIS, quando eu sou MAIS para o outro e não do que o outro. Mas hoje, as coisas estão tão viradas, que a gente chegou a esse ponto, a gente criou essa cultura do ganha-perde se sobressaindo ao ganha-ganha.
Chegamos ao ponto de precisarmos gerar inveja e cobiça no outro para nos afirmamos como gente.
O individual sempre acima do coletivo. Resultado: um bando de zumbi com colunas duras e coração que bate em ritmo de baladas.

Tá, eu sei que estou sendo radical... mas nessa fase eu preciso disso. Preciso negar muita coisa, pra depois afirmar com mais leveza. E agora eu nego radicalmente tudo que passa por essa lógica.

Ensaio sobre a lucidez

Subversivo, utópico, louco, natureba.


Eu não suporto essas palavras, me dói escutá-las.
A sociedade capitalista que nós construímos historicamente é falida por ser excludente, doentia e decadente.
O que se prega hoje, é que os valores e a estrutura social atual são um fato. Esquecem de nos dizer que, se ela foi constríuda, ela pode ser desconstruída. Estão aí o Terceiro Setor, os movimentos socias, o Orçamento Participativo, etc. Essas, que são as formas encontradas pela pouplação de criar melhorias em nossa qulidade de vida, enquanto o Estado e a "Democracia" não dão conta...

Borderline, depressão, esquizofrenia: se é para dar nome, esses são alguns deles que são consequência dessa estrutura social que nós criamos.
Subversivos, loucos, utópicos e naturebas, são muitas vezes uma manifestação de saúde no meio dessa real loucura que vivemos. Existem as pessoas que vivem de fachada, existem os radicais dogmáticos, mas eles não são todos. E esses nomes são, para mim, pessoas que criaram estratégias e novos caminhos para uma socidade mais igualitária e lutaram pela real democracia, que está longe disso que vivemos. Lutaram e lutam para a existência de Cidadãos, com direitos e vão além dessa cidadania castrada e amputada.

O que me traz vontade de viver é ter a certeza de que existem outros caminhos, outros valores e uma outra ética. E quem me traz isso, um dia foi chamado de SUBVERSIVO, UTÓPICO, LOUCO E NATUREBA.

Eles são os mais sensatos e os mais lúcidos. O resto, é zumbi andando.



Tudo isso veio depois da bendita hora que eu assisti o "Saia Justa", onde eles apresentaram ao seu público um economista norte americano que afirma, através de um livro, que a cidade gera felicidade, riqueza e alegria.

Resta saber pra quem.


"A verdade desse mundo vêm de uma grande mentira. Mas está tudo mudando..."

"Se vc cortar a raíz demais, vc pode ser levado pelo vento"

 E eu quero esse vento, porque essa raíz que me foi dada, eu tenho aversão. Esses valores que rondam como fantasmas... eu não quero.

Eu escolho. Eu nego. Eu afirmo. Eu cresço.

Ode ao Insignificante

Com licença, Inignificante, o seu mal cheiro tomou o meu lugar
Com licença, Insignificante, sua idade é alta e seu preço é baixo
Com licença, Insignificante, os panos que te cobrem são farrapos e seus pés estão rachados de tanto andar
Com licença, Insignificante, o que vc diz? Não me interessa escutar
Com licença, Insignificante, a sua casa fica nas margens de onde eu moro e eu não quero te encontrar
Com licença, Insignificante, suas doenças criam filas e eu quero ultrapassar
Com licença, Insignificante, vc não tem cultura e nem é educado, não há o que conversar
Com licença, Insignificante, os seus dedos estão sujos do que vc chama de comida, favor não encostar
Com licença, Insignificante, vc é gente? eu te confundo com o meu lixo e suas cores se confundem com o asfalto e à noite fica difícil diferenciar
Com licença, Insignificante, eu não tenho mais centavos para dar
Com licença, Insignificante, vc insiste em incomodar


Com licença, Insignificante, eu posso tropeçar.

terça-feira, 22 de março de 2011

de quem eu sei

agora eu me pergunto o que é conhecer uma pessoa. e se é necessário conhecer, para confiar. existem pessoas que eu só sinto e já confio. outras que eu demoro pra desvendar. outras que são sempre uma pessoa nova em cada encontro. quem pode garantir que eu te conheço? vc e eu? e se a resposta for sim, o que muda? se eu não te conhecesse e só te sentisse uma vez, seria diferente?
o que me faz confiar em vc? não é tempo e nem a quantidade de informações que eu tenho sobre vc e sua vida. é a linguagem da alma. é por conta dela que eu te conheço e ela não sabe sua cor, seu preço, seus medos e seus anos. ela sabe e isso basta.
eu te conheço porque eu te sinto. em uma tarde, debaixo de uma sombra da árvore mais bonita eu posso conhecer vc e de forma tão profunda, que talvez os anos não fossem nunca capazes de condensar tamanha compreensão do que vc é.
quanto mais eu te sinto, mais eu te conheço. eu sinto o tom de sua voz, sinto seu olhar e seu silêncio. as palavras e os fatos são muitas vezes desculpas, são como o pretexto pra vc se desabotoar em minha frente.
e assim eu te conheço. e assim eu te sinto.
é do tato, é do olfato, é da intuição... é assim que eu te conheço.
não é do tempo. e as referencias escorrem entre meus pensamentos e escapolem aos pouquinhos pelos meus pés.

Jung e meu caderno.


É verdade, tudo chega na hora certa, até a hora de estrear um caderno.
Faz dois anos que comprei um caderninho. Ele é japonês, é bordado, tem capa floral de tecido e as folhas são mais finas e amareladas e cada uma tem três camadas. Eu sempre tive pena de usar. Mas hoje, o meu dia foi feito pra ele.
Faz dois dias que eu tenho exercitado mais o meu tempo e forma de meditação e oração. E sinto que uma das conseqüências disso, é a minha maior percepção sobre as sincronicidades de cada dia. E hoje, quando cheguei em casa, em meditação, eu percebi que vivi quatro momentos lindos em meu dia. Me parece que o dia foi feito pra mim hoje. Eu não ganhei na mega-sena, eu não entreguei meu TCC, eu não ganhei mais uma coleção de Cd´s e não descobri mais um livro maravilhoso. O que mudou foi o meu olhar e por conta disso, os fatos também mudaram.
O caderno agora vai ser ocupado. Ele vai guardar o meu olhar atento. Meu mais novo companheiro.

Na hora certa.

"Quando o melhor momento chegar, vai entrar sem bater e o chão vai tremer alto com um trovão"

segunda-feira, 21 de março de 2011

Personagem

Eu lhe desejo e lhe amo. Lhe admiro, também. Eu amo a forma que seus lábios tomam, quando vc ri de mim. E olhar vc sendo, é uma das minhas maiores diversões. E eu rio de vc, descaradamente. E vc sabe do que eu acho graça... é que eu te acho tão peculiar...
Cada formato que seu corpo toma, seus contornos e linhas são tão maleáveis... e eu sempre tenho a certeza de que elas são desenho pra eu colorir. E eu te sujo com todas as minhas cores e vc, mais uma vez, ri e me chama de criança. Brinca comigo, ri, gargalha até a barriga doer e o ar faltar. Vc é meu parque, meu circo, minha folha em branco e meus potes de tinta, minhas linhas coloridas, meus confetes.
Vc é festa pra mim. Festa-de-todo-dia.

Lembra de quando vc me perguntou quanto era o ingresso?
Quero escrever assim. Vc já me disse que eu não tenho muita ordem em minha cabeça e isso faz vc ter prazer em me escutar. Vc me acha distraída e já me chamou de Flor-da-noite, foi só uma vez, mas até hoje eu me sinto "A Flor-da-noite". Vc me deu um nome.
Como vc consegue falar sobre o peso da vida de forma leve? Vc diz que eu sou leve, mas eu quase nunca concordo. Vc gosta de laranja e eu de verde; a gente precisa parar de comprar roupas dessas cores... o que acha de vermelho? Vc nunca entendeu minha difilculdade com o vermelho.
Naquele dia, eu não esqueci meu casaco em seu carro, deixei lá mesmo. Foi pra vc ficar mais com meu cheiro. Me deixei aquela noite com vc.
Eu não uso só um perfume. Tenho uns 20. Mas com vc, só uso um. Eu não queria te dizer, pra vc não ter certeza do quanto vc é pra mim, aí inventava aquela história de que não sabia qual era o perfume que usava. Sempre soube e sempre foi o mesmo desde a primeira vez. Eu te enganei. Desculpa.
Antes de te conhecer, eu já te via, te olhava e era cheia de vontade de saber como era sua voz e seu cheiro. Queria saber, também, quem cortava seu cabelo. Uma vez, eu me tropecei perto de vc sem querer e pedi desculpa, vc não disse nada. Tá bom, eu te desejava. Nunca senti vontade de lhe falar isso, sempre achei irrelevante... mentira: tinha vergonha. Uma vez, te vi dançando e eu acho que nunca te quis tanto, tanto! E naquele dia eu te tive, só de te ver. Foi bom. O tecido de sua blusa parecia confortável e eu quis te abraçar.
Vc me acha bonita de saia e vestido. Vc não entende como que eu tenho tanta roupa de flor e como eu consigo unir tantas cores quando me visto e "parecer um carrossel em movimento".
Até hoje vc não entende como que eu, te desejando, não demonstrei nada. Vê uma coisa: nem eu me entendo, vc não precisa entender essa minha estrofe, ela vai ser reescrita. Mas, talvez fosse só pura vontade de vc me ler por dentro. De alguma forma, eu achava que vc me conhecia, até mais do que eu mesma e sabia que vc iria fazer a coisa certa.
Vc me acha engraçada com minha roupa de capoeira. Vc gosta dos meus sinais e eu também gosto deles.
Eu nunca esqueci o dia que vc disse: "Eu acho linda a forma que vc movimenta suas mãos".
Eu amo lhe ver dançar e amo dançar com vc. Não sei o que eu amo mais.
Eu não suporto sua  calça desbotada em baixo. E eu sei que vc não gosta da minha saia verde musgo. Mas a gente se gosta, apesar dessas peças.
Eu sinto mais frio e mais calor do que vc, por isso acho seu corpo resiliente.
Eu gosto tanto, tanto da forma como vc segura no copo e como vc o deixa na mesa. Vc nunca bebe o último gole, porque? E eu nunca como o último pedaço.
Eu tomo susto o tempo todo, por qualquer coisa e desde que vc descobriu isso, vc faz disso sua maior brincadeira. Só quero te lembrar que eu também tenho arritmia.
Eu amo acordar e lhe abraçar. Gosto de lhe ver com os olhos inchados e escutar sua voz rouca... e vc fica bonito, cheio de preguiça. Vc fica tão lento quando acorda, que eu acho que vc tem certeza de que o mundo tem o seu relógio. Eu amo seu ritmo. Quando vc está concentrado em alguma coisa, sua respiração fica mais profunda e vc pisca os olhos mais lentamente. Os seus sons vivem em mim.
Os meus dois livros que estão com vc, eu vou te dar de presente, mas só vou dizer quando vc for me entregar. A sua felicidade vai ser maior.
Vc dança quando anda. Vc canta quando fala. Vc me desenha quando me toca.
Nada que vem de vc é brusco, vc sabe mudar de assunto, de lugar e de feição de uma forma tão fluida, que eu mal percebo que vc mudou. Até pra desligar o telefone, eu não entendo direito se é a hora ou não. Eu amo a sua fluidez.
Eu te abraço mais forte do que vc me abraça, vc sente isso? Tem dias que eu tenho certeza de que do seu lado eu sou frágil. Outros, posso jurar pra qualquer um que eu sou a pessoa mais forte do mundo.
"Ah! Vc... é... huummm.. esqueci! " Por favor, não faça mais isso. Vc abusa da minha curiosidade e a sua falta de curiosidade, ás vezes me irrita. Vc é tão vc e às vezes eu queria ser assim.
Não quero falar mais nada. Quero vc aqui.

E sabe?

Aqui. Essa é sua casa, sim.




(sobre uma menina que criei e um menino que ela encontrou)

Do que eu não posso mais me gabar

Meu corpo é um paraíso quando consigo sentir minha saúde. E agora eu sinto isso e fico muito feliz. Como já foi dito, o bem pode anestesiar... e eu não gosto disso. Perceber o meu bem-estar é um dos meus exercícios diários. Isso tem me deixado mais sensível, pro bem e pro mal, claro. Mas está bom assim... ontem senti meu coração, bem forte e com toda sua vida, sem colocar a mão no peito e sem tapar meus ouvidos pra escutar. Faz tempo que queria senti-lo dessa forma, e agora eu consegui. Estou sentindo mais meu estômago e minha digestão, também. Eu gosto dos sons do meu corpo.
Mas... do que eu não posso mais me gabar? Duas coisas:
 Aconteceu essa semana, por conta de uma crise aguda de sinusite, passei dias com dores de cabeça bem forte. Vivi duas coisas que nunca tinha vivido nesses 21 anos: sentir dor de cabeça(eu sempre me gabei ao dizer que NUNCA senti esse tipo de dor e agora não posso mais fazer isso) e por conta dessa dor, não podia abraçar as pessoas, porque sentia pressão e doía mais. Agora que passou, acho que foi bom ter vivido... dou mais valor aos meus abraços e ao fato de “não sentir minha cabeça”.
Outra coisa que já não posso mais falar e me sentir a exceção do mundo: "Nunca fui assaltada". Hoje, tenho dois em minha ficha: um na Video Hoby, com direito a arma na cabeça; o segundo em Buenos Aires, depois de uma noite misturando tango com samba em uma milonga.
Acabaram meus anos de glória, mas me sinto mais pertencente ao mundo; por dois motivos ruins, eu sei.
É só desculpa que eu crio pra me consolar.

domingo, 20 de março de 2011

Carta à Palavra

"O ser humano é um ser espiritual, tendo uma experiência humana" Theilard Chardin

Que bom resumo que eu encontrei essa semana. Quando eu tiver preguiça de falar ou pensar sobre esses assuntos, vou usar essa frase.
E de uns tempos pra cá, está tão difícil usar as palavras para falar "do espírito", "do Amor", "do humano"... me dá preguiça e eu tenho logo a impressão de que não vou ser entendida ou não vou conseguir passar o que tem aqui dentro.
Mas, como eu não sou um Avatar e ainda vivo nesse corpo, me restam as palavras.



Palavra,

eu amo vc. Cada vez que te conheço mais, mais te amo. Cada uma que existe dentro de vc, é um mundo novo pra mim. E é tão bom te des-cobrir e re-des-cobrir...
Mas às vezes, vc é tão pouquinha... então, pra não te usar mal, através dessas minhas letras ou do som que sai de minha boca, eu prefiro te deixar em casa descansando. Aí, quando vc sair comigo, vc vai se entender mais com o que eu penso e sinto.
Por isso, te deixei em casa hoje. Além do mais, choveu... e eu não quis que vc se molhasse.
A minha voz e as minhas letras são só suas.

Só suas, Palavra.
Sempre que tem muita gente do meu lado, que eu conheço, eu fico meio tonta, não raciocino direito, começo um assunto com um, com outro e não termino. Fico nessa agonia, até me quietar com uma pessoa só. Pronto.
Foi difícil aceitar, mas eu assumo que eu não tenho recursos psíquicos pra lidar com muita gente que eu conheço ao mesmo tempo, de uma vez só. Eu realmente fico tonta de tanta coisa. É uma embolação danada. Me atrapalho toda. Mas hoje eu não aguentei e falei: "Uai, gente! Avê Maria, é coisa demais ao mesmo tempo!" e fiquei conversando com uma pessoa só. Resolvido. Me surpreendi comigo.
Pra mim, não existe coisa mais chata do que ter que cortar a fala de alguém ou ser cortada por uma pessoa, se o assunto for mais sério, claro. Fazer isso, pra mim, é uma agressão enorme... e ser tanto assim, me incomoda. É minha vontade de muito o tempo todo, que chega a pesar. Ser leve não é tão fácil.

"Cuidado com o que vc deseja!"

Não. Eu nunca acreditei em coincidência... mas também nunca tive tanta certeza do que ela é. E acho que coincidência, talvez nem seja a melhor palavra para dar nome à esses fatos, porque com ela, tudo perde qualquer sentido possível, tudo é por acaso. E fica tudo cinza. Eu prefiro descobrir o sentido que existe nelas.
Em uma época, vivia essas coisas e não associava à nenhum nome, depois usei "mistério" e "destino" ao mesmo tempo. Hoje estou sem nome. E quero ficar sem nome, pelo menos por agora. No lugar dele, eu simplesmente descrevo pra mim, ou pro outro, a experiência vivida. Aí, cabe ao outro querer dar um nome (o que é muito comum) ou só se espantar com o que eu digo.

Eu me espanto com as coisas da minha vida. Me espanto com as repetições, principalmente. Tudo que se repete, é porque ainda nao foi completamente vivido, e enquanto não for, vai continuar batendo na porta.
A questão é compreender o porque disso. E depois, o que fazer com isso. Ou, descobrir fazendo.
Bom... e aqui eu fico com meu álbum de coisas repetidas. Ele tem algumas páginas amareladas, de tanto eu folhear, tem outras que estão grudadas e eu não consigo abrir. Tem uma que as letras estão desbotadas e uma outra só tem rabisco. Algumas folhas eu já li e reli, e nada. Mas hoje eu quero ficar aqui, cheia de não entender nada.

Mas, qual é a relação da coincidência com o desejo? É que, quando eu quero uma coisa muito-muito aqui dentro, as coisas lá fora se movimentam. Aí, eu acho que é "coincidência" e esqueço do meu poder, por só desejar.

Agora lembro do que Mell me disse: "Cuidado com o que vc deseja, Vitória!".

Eu tomo cuidado.

sábado, 19 de março de 2011

Chegou.

"E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: "Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência - e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez - e tu com ela, poeirinha da poeira!". Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderías: "Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!" Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: "Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?" pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?"

F.N., em A Gaia Ciência




Faz um longo tempo que tento lembrar em qual livro de Nietzsche, ele fala sobre o Eterno Retorno. Desde a primeira fez que me deparei com essa idéia, ela não sai de minha cabeça. Procurava em meus livros e não achava. E ontem, depois de ter vivido mais um retorno... hoje eu encontrei. O que realmente importa, chega na hora certa. Nem um pôr-do-sol antes, nem três horas depois, com nenhum sorriso perdido, com nenhum adeus não dado. Tudo chega na hora certa quando se deseja profundamente. A consciência pode até pelejar contra o tempo, as veias podem saltar da pele, mas existe uma Pleni-consciência atemporal que me traz A Hora Certa.



http://www.youtube.com/watch?v=4sXGzFuoF8g&feature=related

quinta-feira, 10 de março de 2011

VIDA NO LIXO

O ser humano criou, como resultado de sua história, uma nova profissão, um novo ofício, um novo trabalho, uma nova forma de ganhar a vida: catador de lixo, ou melhor, catador de materiais recicláveis.
Na primeira vez que pensei sobre isso, me perguntei: como a gente foi capaz de oficializar e de criar uma profissão, de pessoas que vivem dos restos dos outros?
Depois de assistir ao "Lixo Extraordinário", pensei uma segunda coisa, que não anula a primeira: qualquer trabalho pode ser feito com dignidade e honestidade. Até sobreviver dos restos produzidos pelos outros.




                                                     

                                                                                    Sebastião Carlos dos Santos
                                                                                Mais um ponta de lança brasileiro


O documentário é bem produzido, real e forte. Como quase todo filme que eu assisto, chorei. Mas nesse, até meu pai chorou. Segundo ele, o melhor filme da vida dele. Para mim, foi mais um filme melhor do mundo. Muitos filmes são o melhor filme do mundo pra mim. Mas esse é o melhor de todos. E não é filme. É vida filmada, e vida vivida bem perto de mim. E 99 não é 100. E é bom ver Sebastião no Jô, explicando a diferença entre lixo e material reciclado.
É impressionante a beleza da sabedoria. E é até irônico quando ela desmonta qualquer castelo de intelectualidade.
Buenos Aires cheira a carne e tem o céu pequeno. Céu quadrado. Praças ao redor de mim onde me perco e me acho, homens que despertam desejos, passam por mim com suas barbas mal feitas, bem feitas, me lança olhares de doce e sabores. E de todos, de cada um e todos os cantos e gestos e passos... existe um. Um encontro, um instante que faz valer todos, que faz lembrar que trnsformo a existencia em puro sentimento e poesia.
- posso guardar seu cheiro?
Ela tocou a própria nuca e com as mãos em forma de concha, lhe entregou o seu cheiro. Os olhares se encontram e se fundem, naquele instante se deixa de saber quem se é e só há uma enorme consci~encia de estar viva. Ele respira profundamente seu cheiro e se deixa embriagar dela. E mais do que seu cheiro e mais do que seus poros e pele, mais do que toque, eles já tinham toda uma história de 3 minutos. O não dito comunicava, as palavras eram pronunciadas em pequenos gestos, não havia receio, ela se sentia amada por aquele estranho e ele estava entorpecido pela descoberta daquela mulher. Tudo de cada um era novo. Novo e antigo. Conhecidos caminhos sendo descobertos em cada canto do corpo. E esse mesmo corpo foi como porta para o que ela resolveu de puro desejo chamar de alma. Sentia que viver era desejar e a a alma só se faz viva quando desejante, falatosa, na busca do lançar-se para lá. E ela se lançava, sentia seu vazio se preenchendo, se vestindo de uma alegria rosada, cor de pôr-do-sol e mistério de noite.
E tudo se fez no agora. o maior presente que os dois tinham.
Os corpos se afastaram, os olhares se transbordaram e se recolheram, um último gesto, últmo beijo, as mãos deslizaram fluindo o derradeiro toque. As palavras foram "até logo", mas se sabia que era um adeus. Ela voltava para dentro, tentava secar o que fora inundado, precisava dar conta do turbilhão de seus pensamentos, novamente voltava para o seu vazio. A única verdade permanente é poder mover-se, lançar-se ao mundo e crar a si própria.


Wig e eu
(janeiro 2010 - B.A)

quarta-feira, 2 de março de 2011

http://www.youtube.com/watch?v=pw8USwDP-cg&feature=player_embedded#at=17

Do Amor

Quando vc sentir saudade, sente seu coração e lembra de que o meu, pulsa no mesmo ritmo que o seu.

Assim, estaremos sempre perto. Sempre dentro de nós.


Desde sempre,
até a matéria se transformar
e se con-fundir
com o
ar.
O que eu te dou de presente, é todo o meu presente, com tudo o que eu sou. Existe mais do que isso?

Se existir, os espaços vazios são preenchidos por Amor.

(Dezembro 2010)
O seu rosto foi desenhado por uma flor e seus movimentos foram dados pela dança do acorde mais bonito.


(Para minha amiga-flor)

nossa terra, nosso sal.

A vida parece ser uma grande viagem, com grandes encontros e também pode ser chamada de aventura. Depende da minha vontade. As pessoas e os lugares podem ser uma grande e (e)terna surpresa. Os cheiros, as cores e os olhares podem ter sempre cheirinho de novo. A passagem e o passaporte são a minha vontade de encontro com o outro. Eu desejo profundamente um greencard de gente. Passe livre para conhecer, da forma que nos for possível, cada um que atravessar meu caminho. E que cada um seja como um novo país, um novo território, um novo solo que piso. E que eu queira chegar perto de todas as ruas, que eu conheça as leis, os costumes e os tempeiros de cada um. Que eu não perca a vontade de estar. Que cada um seja como um país, mas se possível, que tenha nome, mas que não tenha fronteiras e se houver pedágio, que eu possa pagar com Amor.

Eu me arrepio, meus póros se abrem para a Vida, de meus olhos escorre àgua com sal.

A Vida agora me assusta com sua força.



Buenos Aires - Janeiro 2011

Qanto mais alto, menor fica.

Existe um tempo, que as palavras são vazias. Na verdade, são cheias de ausência de significado. São vasos sem flores. Eu coleciono momentos de palavras vazias. Elas ficam voando no ar, caem no chão, são chutadas, as letras se embaralham. A dor está em todas as três portas, o grito é mais alto em uma delas. Pai, mãe, filho, às vezes formam uma só palavra de letras embaralhadas. Nos corredores, o vício anda só.
Eu seguro a palavra com as duas mãos e entrego ao outro, ele olha e me entrega a sua interrogação.
Qual língua falamos?
Ontem eu engoli o Amor, mas não digeri bem... ele não passou do meu esôfago. Mas ontem, também ontem, eu engoli o choro e ele desceu todo, e em meu corpo o intestino dissolveu. Não sei se ele ainda está em minha carne ou se já virou outro tipo de matéria.
Hoje eu catei em meu quarto as palavras que usei ontem. Eu pisei em algumas, outras cairam atrás da minha cama e uma outra, eu joguei pela janela. Hoje pela manhã fiz um montinho delas aqui bem no centro do meu quarto. Aqui estão elas:

              família     choro        raiva

vontade      irmão                       saudade
força                                  fé                 unidade

cuidado

até quando                                    ?

passou        anos            sentir

                                                      Rompeu.


Agora seguro todas elas em minha mãos. Mas elas escorrem como água...
E só uma coisa me deixa feliz: poder olhar o medo, daqui de cima. E daqui, ele é bem pequeno. É um ponto vemelho.