quinta-feira, 28 de outubro de 2010

vamos conversar?

Sinal Fechado

Paulinho da Viola

– Olá! Como vai?
– Eu vou indo. E você, tudo bem?
– Tudo bem! Eu vou indo, correndo pegar meu lugar no futuro... E
você?
– Tudo bem! Eu vou indo, em busca de um sono tranqüilo...
Quem sabe?
– Quanto tempo!
– Pois é, quanto tempo!
– Me perdoe a pressa - é a alma dos nossos negócios!
– Qual, não tem de quê! Eu também só ando a cem!
– Quando é que você telefona? Precisamos nos ver por aí!
– Pra semana, prometo, talvez nos vejamos...Quem sabe?
– Quanto tempo!
– Pois é...quanto tempo!
– Tanta coisa que eu tinha a dizer, mas eu sumi na poeira das
ruas...
– Eu também tenho algo a dizer, mas me foge à lembrança!
– Por favor, telefone - Eu preciso beber alguma coisa,
rapidamente...
– Pra semana...
– O sinal...
– Eu procuro você...
– Vai abrir, vai abrir...
– Eu prometo, não esqueço, não esqueço...
– Por favor, não esqueça, não esqueça...
– Adeus!
– Adeus!
– Adeus!





 mas isso eu não quero pra minha Vida não... nem um pouquinho!
 então, repito:

"Eu odeio falar... mas eu AMO conversar"

sinal vermelho

acelera. pára. corre. pára. devagar. buracos. pessoas atravessam. espera. sinal abre. prédios. ruas. curvas. esquerda. direita. ré. buzina. sinal vermelho. sinal verde. pára. segue.

fumaça. carro grande como uma casa. carro velho. fusca. caminhonete. verde. vermelho. prata. preto. prata. preto.

caos. trânsito. vento no rosto.

cada um em seu caminho, dividindo o mesmo espaço e em lugares diferentes. é muita gente o tempo todo. passa. atravessa. corre. pula. grita. corre. corre. corre. bate.

mas hj vivi uma coisa nova: parei em um sinal vermelho e verde. as duas luzes estavam ligadas. podia seguir ou parar. eu parei. o vermelho pareceu mais forte.

porque eu segui o vermelho e não o verde? porque parar e nao continuar? na verdade, ele não estava mais forte não... isso é desculpa.

a vida é que ás vezes, não nos dá a opção do meio, da metade, do meio termo. e eu escolhi parar.

foi o melhor caminho.



faz alguns dias que comecei a dirigir sozinha. e depois de algumas saídas, percebi que ás vezes guiar um carro lembra como é tentar guiar minha vida.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Baby 

Caetano Veloso

"Você precisa saber da piscina, da 
Margarina, da Carolina, da gasolina
Você precisa saber de mim
Baby, baby, eu sei que é assim
Baby, baby, eu sei que é assim
Você precisa tomar um sorvete
Na lanchonete, andar com gente
Me ver de perto.
Ouvir aquela canção do Roberto
Baby, baby, há quanto tempo
Baby, baby, há quanto tempo
Você precisa aprender inglês
Precisa aprender o que eu sei
E o que eu não sei mais
E o que eu não sei mais
Não sei, comigo vai tudo azul Contigo vai tudo em paz
Vivemos na melhor cidade
Da América do Sul
Da América do Sul
Você precisa, você precisa
Não sei, leia na minha camisa
Baby, baby, I love you
Baby, baby, I love you"






Vestida de Universo - forma bonita de dizer: nua, pelada, com as vergonhas à mostra. Com nada, sem nada. Vestida de minha pele. Vestida de Universo.

domingo, 24 de outubro de 2010

"Nos seres profundos todas as experiências vividas permanecem por muito tempo"
                                                                                                       F. Nietzsche

Permanecem... e dessa maneira, tudo fica. Lá fora passa, aqui dentro tudo fica.

pegando no que sinto

Choro. Lágrima. Água salgada que escorre dos meus olhos.

Emoção materializada. Sente. Sai.

Quando choro, consigo pegar no que sinto. E vou pegando, tocando, molho meus dedos, sinto o gosto salgado. Fico extasiada. Me molha o que me doía, me molha o que não coube em meu sorriso.

Aqui dentro se encheu de tanto.

Pergunta secular

"O nascimento de uma alma é coisa demorada..."

Não existe frase que resuma tão bem a maior dúvida minha, e talvez de toda humanidade.
Como vim me parar aqui, desde quando que eu existo. Foi rápido, eu nascer? Foi aos poucos... ou não era e passei a ser? Assim: não era --- passei a ser. Ou: não era --- fui sendo?
Essa pergunta me toma um tempo danado. Outras também ocupam um espaço em mim muito grande. E eu fico me enchendo de perguntas milenares... até minha tampa. Mas é bom. E o mundo nunca fica óbvio, e nunca é resumido em uma revista científica e nas respostas que me são dadas. Eu quero mais do que elas, eu quero a minha resposta. E uma resposta pra cada dia. Ter uma só também é chato.

Outra coisa que me deixa curiosa: quando eu for só espírito eu vou sentir falta do meu corpo? Esse corpo aqui me traz muita coisa boa e eu acho que vou sentir falta dele, do contato, da contemplação, de parar e sentir tudo pulsando cheio de Vida. Mas lá pode ser melhor, como falam. 6 sentidos, 7 sentidos, 8 sentidos. Haja espírito.
Essa é outra coisa que eu acho maravilhosa: estar Viva. Eu não sei se eu escolhi, não sei como que vim parar aqui... mas quando vejo meu corpo cicatrizando, sem eu escolher isso, eu fico abismada. Tá, existem explicaçoes biológicas e até simples de entender esse processo. Mas eu não tô falando disso. O que me deixa paralisada é que sinto que parece que tem uma coisa que quer que eu viva. Primeiro: por eu existir e segundo: por eu cicatrizar. Eu vim, existo e além disso, ainda continuo. Impressionante. Nossa Senhora, demais isso. Eu continuo. Estou continuando. Estou sendo... sendo... sendo... Fui. Sou. Continuo sendo.
Isso me lembrou uma coisa que disse: "Eu sou para além do que as formigas e minhocas comem". E é isso mesmo. Isso é um fato, por motivos que  posso explicar e principalmente pelas coisas que me fazem calar.

Ver essa ferida em meu pé cicatrizar sem eu mandar é lindo demais. Isso pra mim é tão bonito que me dá mais vontade de viver, porque o meu corpo quer viver. Que coisa linda.

" Gracias a la Vida! "

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O não-dito

Não era sábado, nem domingo, tão pouco sexta-feira de lua cheia. Mas ela estava com vontade de sair, ser feliz com outros, beber sorrisos. A vontade era tanta, que esperar sair de casa já foi uma celebração. Vestiu o vestido mais colorido que tinha, pintou as unhas, esolheu o melhor cheiro. Não se olhou, no espelho não caberia ela.
Abriu a porta, o viu. Se encheu de Amor. O abraço de sempre. Nenhuma palavra e se alguma fosse dita, tudo aquilo ia ficar preso nela, como colocar o Amor numa jaula. Então, ficou quieta. Mas só por fora.
Lá dentro só ela sabia o tanto de coisa que borbulhava, feito água quente na panela. E aquilo era tão grande dentro dela, que tinha a certeza de ele estava percebendo.  Aquilo tudo era tão forte dentro dela, que ela tinha certeza de que não precisava fazer nada para alguma coisa acontecer. Ela sentia que todo o universo sabia do que pulsava lá dentro, então esperou que ele agisse.
Esperou.
E a noite foi embora como quem se despede só com o olhar e um leve movimento com a cabeça. Os dois sabiam. Ficaram com o não-dito.

Das pessoas

Tem gente que só de ouvir uma palavra ou ver a foto, eu já fico melhor.
As últimas que têm provocado isso em mim são Chico Science e Darcy Ribeiro.

Darcy, antropólogo, estudioso profundo da história do nosso país e da América Latina, intelectual e amoroso, otimista (no melhor sentido da palavra). Desenvolveu projetos e concretizou idéias na área da educação; viveu com os índios e sobre eles escreveu alguns livros, lutou pelo desenvolvimento da sua autonomia. Mas o que eu mais admiro nele é a leveza com que ele fala sobre o nosso país. Em qualquer entrevista sua, sempre há um sorriso e explicitamente uma vontade de que o nosso país seja melhor. Além disso tudo, ele foi capaz de falar a coisa mais linda que já ouvi : "Fracassei em tudo o que tentei na vida. Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui. Tentei salvar os índios, não consegui. Tentei fazer uma universidade séria e fracassei. Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei. Mas os fracassos são minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu"
Lembro da primeira vez que a ouvi. Chorei. Chorei de não sei o quê. Eu estava cheia de uma coisa que não sei dar nome. Não é esperança, não é felicidade, é muito mais do que isso. Até hoje não encontrei um nome e por isso é tão forte, tão vivo em mim.

VIVA DARCY!





Francisco de Assis França. De Recife, dos mangues, da lama, do maractu.
Ele é muito. No palco, é lindo. Seus movimentos expressam a sua vontade de Vida, de mudança, de revolução. São dez passos a cada segundo, mãos e braços se mexem numa dança cheia de graça. Inteiro na vontade de passar suas idéias e melodias que são reflexo da história de nosso país, da américa latina e de figuras que lutaram por um Humano melhor. E ele diz em seu monólogo ao pé do ouvido:

"Viva Zapata!
Viva Sandino!
Viva Zumbi
Antônio conselheiro!
Todos os panteras negras
Lampião sua imagem e semelhança
Eu tenho certeza eles também cantaram um dia"


Ele é uma manifestação ambulante e viva do processo de autonomia do ser humano. Não queria ser um líder. Era isso que ele queria:


"ÓI! ESCUTE! RELIGIÕES CONSTRÓEM TEMPLOS, CONSOMEM MENTES E MISÉRIAS ATRAVÉS DE SUAS MÚSICAS DE PALAVRAS IDIOTAS. VC QUE ESTÁ AÍ SENTADO, LEVANTE-SE! HÁ UM LÍDER DENTRO DE VC! GOVERNE-O! FAÇA-O FALAR!"


E eles me inspiram, me enchem de coisa boa.
Estiveram aqui, andando a passos largos. Com a utopia sendo o boi da carroça.

Estão aqui.

Procuro despir-me do que aprendi.
Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,
e raspar a tinta com que me pintaram os sentidos,
Desencaixotar minhas emoções verdadeiras.
Desembrulhar-me e ser eu, não Alberto Caeiro,
mas um animal humano que a natureza produziu.
Mas isso (triste de nós que trazemos a alma vestida!),
isso exige um estudo profundo,
uma aprendizagem de desaprender...
                                             (Alberto Caeiro)

Se eu estivesse em um programa sendo entrevistada e no final a entrevistadora perguntasse: "Vitória, uma frase, uma citação que vc goste", com toda minha certeza seria esse trecho de poema de Fernando Pessoa.
Me limpar do que me disseram que era viver, ser feliz ou ser triste. Me limpar dos desejos que não são meus. Daí, viver com um pouco mais de Verdade, um pouco mais de Realidade.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Homem ou homens?

Sempre me intrigou escutar "Isso não é humano!"

E depois de ouvir isso, me pergunto: o que é Ser Humano?

Em algum momento da nossa história, o ser humano se encaixou no perfil que temos de Ser Humano? Sim: em atitudes, pessoas isoladas, histórias de vida. No mundo existem vários exemplos que se encaixam nesse perfil e posso citar alguns: Darcy Ribeiro, Nelson Mandela, Chico Xavier, meu avô.

Tá. Mas são pessoas, atitudes. Nunca foi o Ser Humano, raça humana, homo sapiens


O que eu penso é que é humano tudo que é do Homem. O bom e o ruim. E essa expressão: Isso é/não é Humano, é na verdade uma verbalização de um ideal nosso, do que nós humanos desejamos do Homem.

Não foi fácil para eu entender isso. Pra todo mundo que eu já falei sobre isso, a reação sempre foi: "Essa conclusão que vc chegou é óbvia". Mas pra mim não foi. Foi importante.

Pelo menos menos temos um ideal de Homem. Essa frase é como um parâmetro nosso, um termômetro. Tem utilidade.

Só me arrependo do que não fiz?

"O que vc resiste, persiste" C. G. Jung

Ou seja... não dá para se esconder do que é latente, do que pulsa, mesmo que essa coisa esteja atrás da porta ou no fundo da gaveta. Isso eu já entendi faz tempo. Teoria é sempre linda.

Então...o certo é ceder para "a coisa" não persistir mais.

MAS, e se der errado, se "a coisa" não sair do jeito esperado? Que é que faz? Isso Jung não disse.

O que resta é tentar me convencer de que "eu só me arrependo do que não fiz".

Ô frazesinha boba. Nem todo erro é um grande aprendizado, nem todo erro traz de mãos dadas Aquela lição de moral dos contos de fada, nem todo erro é compreendido. Tem erro que a gente nem sabe que é erro ou que a gente nem sabe que o outro acha que foi um erro.

Por isso, me arrependo dos erros que sei e também dos que não conheço. Se podesse, voltaria atrás e faria diferente.

Tá. Se não tivesse errado, talvez não teria aprendido. Mas isso não me impede de me sentir arrependida.

Que necessidade é essa de estar bem com tudo sempre, até com os erros?

coisas do Amor Amoroso

vamos nos amar.
sem drama, dor ou rancor.
vamos viver de cuidado, carinho e colo.
sorte, suor e sabor.

cada dia, uma vida toda.
cada beijo, todo nosso corpo.
cada olhar, toda nossa alma.

flutuar. pisar já não é preciso.
respirar. meu ar, seu ar, nosso ar.

e de nós dois, um nascer.
florir nossa Vida, nossa casa.

e leve seremos...
forte e leve... nós seremos.
(08.09.10)

coisas do Amor Amoroso: me fazem confundir vontade com futuro.

Onde mais longe o Homem foi

- Mãe, o Homem foi na Lua?
- Foi filha?
- Foi.
- E ele voltou mais moço, não foi?
-Não mãe. Acho que voltou mais velho.
- E o que encontrou lá?
-Nada, mãe.
-Nada?
-Nada. Acho que areia.
-Areia?
-É. Areia.
                                    (Diálogo do filme "Casa de Areia")



Ás vezes é mais longe chegar aqui dentro.

Saudosismo

Resisti, resisti, resisti e estou aqui.
Meus caderninhos coloridos, perfumados e amorosos vão sentir falta de minhas mãos e de minhas letrinhas redondas. Isso aqui me faz perder muita coisa, mas ganhei tempo. Minhas idéias eram rápidas demais pro movimento de minha mão direita.
Não vou aposentar tudo o que tenho de material escolar, guardado em minhas caixinhas. Eles vão ficar sendo usados em dias mais calmos, com idéias com passos de formiguinha. Aqui os passos não são passos, não dá nem tempo de pisar no chão e nem de apagar com minhas borrachinhas com cheiro de morango.
Ó...
Não tem erro pra assoprar, não sai cheiro de tinta... não dorme do meu lado, não pego, não abraço, não molha quando choro... não viro a folha e nem rasgo de tanto apagar.
Sons do teclado, coisa que não pego.
Aqui o erro é apagado e não existe mais. Não tem nem marquinha pra lembrar que errei...
O grande amigo do erro é a memória. Se nao fosse ela, eu não estaria mais viva. Mas aqui ele é apagado e não deixa rastros... aí eu posso nem lembrar do que errei há dois segundos, já que minha memória não é das melhores.
Mas... a vantagem! Essa eu me lembro: tempo.
Tempo e praticidade. Coisa moderna... dois dos grandes deuses do meu tempo.
Mas não vou perder as coisas pequenas, não. Nunca.
É só questão de adaptação.

vassoura cheia de sentido

Dia de semana. Hoje mesmo. Estava no computador, lendo. O único som era o teclado e o vento cantando só pra mim. Escutei: "Vitória! Vc não quer casar não, é?", bradou Maricélia pra mim. "Mas como é que vc adivinhou"? "Ué! Eu passei a vassoura no seu pé! Quando passa vassoura no pé, a mulher não casa mais não! Oxe! Vc não quer casar não?".
Não. Não foi a pergunta que me assustou, porque a resposta eu tenho clara faz tempo. O susto foi o seguinte: ela perguntou se eu não queria casar, mas antes de perguntar já tinha o meu destino em suas mãos, junto com a vassoura.
Mas como que pode isso? Me pergunta uma coisa e depois já me dá a resposta, que era para ser minha? E o pior é ver o meu destino resumido á uma vassoura em meu pé!
Ok. Depois do susto que tomei por achar que ela tinha invadido minhas idéias inconscientes e conscientes, pensei: como se formam essas pequenas crenças, esses rituais do dia-nosso-de-cada-dia?
Não há relação de causalidade entre um fato e outro, também não consigo enxergar nenhum tipo de lógica, mesmo viajando muuuito.
Ok. Acho que devo recorrer á História, só ela pode ser capaz de explicar isso. Uma vez me explicaram a origem da idéia de que "comer manga não pode depois do banho", que veio nos tempos da escravidão aqui no Brasil, onde os senhores não queriam que os negros comessem as mangas que caíam do pé, então criaram essa mentirada para elas não serem comidas.
Se procurar, um sentido vou encontrar... na história ou em minha cabeça. E se não houver, acabo dando.
Ficar sem sentido ou achando que ela leu meus pensamentos é que não dava...
E essa coisa de dar sentido é um assunto que gosto muito.
Niilismo. Ele veio pra dizer que nada tem um sentido em si, mas de alguma forma acaba dando um sentido à tudo: ausência de sentido e consequentemente uma autonomia e responsabilidade nossa por tudo. Coitada das coisas-em-si.
Acho esse assunto de sentido pesado. Não queria acabar com ele.
Então... manga, amarelo, algodão, rosa, perfume, leve, gostoso.
Agora ficou mais leve. leve. leve.
leve com " l "minúsculo sempre. L pesa.