terça-feira, 14 de dezembro de 2010

efeito contrário

o medo da morte está me fazendo amar mais. ou melhor: estou mostrando mais o Amor que tenho aqui dentro.
eu coloco o meu Amor numa galeria de arte. levo pra brincar no quintal. coloco em uma caixa com fitas coloridas. escrevo na pele e no papel. canto no aparecer do sol. faço um jantar só pra ele.

estou mostrando. ainda mais.
qualquer dia pode ser o último. ou meu. ou seu.

qualquer dia pode ser toda a última chance. e a Vida não está de brincadeira, nem nunca esteve.

qualquer dia pode ser A Grande Estréia da minha peça de Amor. E eu lhe convido.

 E eu me convido agora e daqui a três minutos novamente.

amarcia

eu nao queria saber como, nao quero explicar, nao quero entender. eu só quero vida pura. coração exposto. palavras soltas no ar. quero respirar.
coisa ruim é fingir. coisa ruim é a dor. coisa ruim é ver e não enxergar. coisa ruim é não nos conhecer.
coisa ruim é não viver. passar... se arrastando, pelos cantos da vida.
tem minutos que a dor, aqui dói.
faz o que com ela?
espera passar, pra ver no que dá.
se dá Amor, se dá esquecimento, se vira cicatriz, se fica sozinha, se não dá em nada.
se arrastando, passando pelos cantos da vida.
dói. aqui. em nós. em casa dói.
suor, soluço.
abraça... me acalma.
está passando.
respira.
dorme, amanhã já passou.

hoje é amanhã. ainda não passou.

segura minha mão. deixa eu apertar até doer. sente meu sangue correndo. eu estou viva. sente que eu estou viva? consegue me sentir viva?
ainda não passou...
passa... passa... passa...

Mãe! Assopra que está ardendo! Mãe! eu tive um pesadelo! Mãe! Achei que vc tinha me esquecido! Mãe! Tô com saudade dele! Mãe! Cuida de mim...

Te amo, mãe. Te amo... de o Amor molhar meu rosto.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Uma vez... vai tudo.

Essa semana ia vender uma cama, um colchão e um armário para o filho de um conhecido. Minha mãe ligou para confirmar. Ele disse: "Ô Márcia, não vou precisar mais não. Meu filho morreu".
O filho dele de 18 anos estava voltando do trabalho, indo para a aula, a polícia chegou procurando "os bandidos" e "por engano" disparou três tiros na cabeça do menino que ia dormir em minha cama.
Minha mãe só soube chorar. Eu também. E dentro de cada lágrima eu tinha raiva, dor, pena, mais raiva... muita raiva. Depois de chorar em casa, tive que ir no shopping, fui no banheiro e chorei. Fui na casa de meu pai, chorei escondido no banheiro. De noite chorei em meu quarto. Mas o meu choro era para ter sido um grito. Eu queria gritar com o pai dele, queria dormir com a mãe, com a irmã dele. Eu queria fazer alguma coisa, mas não fiz nada. Só chorei. Eu fiz tudo o que podia? O que pode ser feito com essa família? Ainda não consigo falar muito sobre isso. As palavras são injustas com o que aconteceu.


Eu vi a morte. Ela apareceu em minha frente. Eu não pude ver seu rosto, ela era como uma sombra... e não era clara.
Eu comecei a pensar no que vai me tirar desse planeta, como quem procura num romance, qual é o vilão. O que vai me deixar sem corpo? Um tropeço, um cançer, uma dor, saudade ou "morte morrida"?
Mas eu só procuro saber, porque sei que nunca vou ter a resposta... só quando o dia chegar. Por isso, essa coragem toda de pensar nisso.
Do que esse vilão vai me levar? Não sei, mas de qualquer forma o agradeço pelos quase 22 anos sem me tirar daqui.
Como uma coisa pode ser tão forte ao ponto de me fazer deixar de existir? Logo eu, meu Deus! Será que pra aonde eu vou, tem música? Eu vou poder dançar? Vai ter música pra eu escutar?
Será, meu Deus, que eu vou poder abraçar esse menino que o Vilão me impediu de conhecer?

E lá, finalmente eu vou poder olhar para meu lado e dizer: "Agora vai ser pra sempre!"?

Mas quando ele não consegue me carregar, ele me engorda de Vida. Quando ele não consegue me levar, eu fico mais forte. E devo agradecer à Vida por todas as vezes que me desviou do caminho dele. Por todas as vezes que perdi o ônibus, que pisei no freio, que não fui à festa, que não atravessei a rua, que perdi o avião.

E a morte... ela mesma de cara limpa, eu acho que nunca vou ver. Quando seu rosto estiver se desembaçando em minha frente, eu vou passar para o outra lado... e viva eu vou estar... novamente.
Aí eu vou ter a certeza de que não era um Vilão, mas o Coringa da vida. Brincou comigo e eu acreditei.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

"Eu quero entrar nessa música, em cada acorde, cada melodia e em sua harmonia.
Meu Deus! Eu sou isso que eu escuto agora! Entra em cada canto meu!
É tão belo, tão belo!!!"     18.11.10

Escrevi isso na primeira vez que escutei "Stay or leave". Tinha chegado de uma festa... cheia de gente, de cores e um monte de som. Liguei o computador e escutei. Tudo parou e a escutei por mais de uma hora. De novo, de novo e de novo.
É tão bom que eu não consigo dizer o que sou eu e o que é ela, quando escuto. Me rendo. E é a coisa mais linda que já ouvi.
Tem coisa que a madrugada deixa mais bonita. Mas nesse caso não foi isso.




http://www.youtube.com/watch?v=-LiagSjiPXA
"O espaço entre
O que está errado ou certo
É onde eu estarei escondido, esperando por você"

"Coveiro,
Quando cavar minha cova
Você poderia deixá-la rasa
Para que eu possa sentir a chuva?"
 
"Você não gostaria de estar sentado no topo do mundo com suas pernas balançando?"

"Acordar nu bebendo café
Fazendo planos para mudar o mundo
Enquanto o mundo está mudando nós mesmos
Era bom, bom amor"


Dave
Matthews

respirAR

"Distraídos venceremos" P. Leminski

"O acaso vai nos proteger" - Sérgio Britto

"É só deixar pra lá que tudo se resolve" - Paulinho Boca de Cantor


E pensando nessas coisas ditas por eles três, conversando com uma amiga, chegamos à essa conclusão: Se vc fica em cima tudo se abafa. Se vc sai... tudo respira.
É bom deixar respirar.

Todos os poros respirando.

Amor pra quem, mesmo?


Sempre me pareceu que Amor que é Amor, não grita, não é espalhafatoso, não usa plumas, nem salto alto. Amor que é Amor, não manda carro de som com "palhaços-furta cor "que soltam fogos na porta do colégio, nem flores pra turma toda ver. Não entendo e nem quero entender a necessidade que alguns têm de mostrar para o outro o Amor, já que ele cabe tão bem nos que se amam... sem sobrar, nem faltar.  Quer dizer... entendo e acho meio estranho. Acho fraco também e quando me peguei fazendo isso, vi que por trás só existia insegurança. É a velha necessidade do olhar do outro. Se sentir invejado pra se sentir digno de alguma coisa boa. Essa lógica é triste. Tento fugir disso o máximo que posso, só pelo fato de ser perda de tempo. Afinal, eu quero viver a minha vida e não a vida que o outro acha que eu tenho.
Qualquer um consegue perceber o Amor que aparece com a decadente necessidade de aparecer e o Amor que aparece só pelo fato de ser Amor, de ser lindo e puro. E é tão bom quando vejo ou sinto esse Amor que aperece sem ambição... um casal de pré-adolescentes, dois amigos, uma menina que ama seu cachorro, que ama sua mãe ou que se ama. Uma senhora que ama a Vida, um senhor que ama dançar. Uma criança que ama o priminho, a mãe que ama o filho. João que ama Maria, que ama João, que ama Maria, que ama João...

Pois bem, pra mim Amor é calmo e forte e essas duas coisas nunca se chocam, mas andam de mãos dadas.



"Falais baixo se falais de Amor!"
Shakespeare


"Se tu me amas, ama-me baixinho.
Não o grites de cima dos telhados,
deixa em paz os passarinhos.
Deixa em paz a mim!

Se me queres, enfim,
tem de ser bem devagarinho, amada,
que a vida é breve,
e o amor mais breve ainda."

(Mario Quintana - Bilhete)

Dois Passos

Dave Matthews Band

"Diga, meu amor, eu vim para você com as melhores intenções
Você se deitou e me deu exatamente o que procurava.
...
Ei meu amor, você acredita que duraremos no mínimo 1000 anos
Ou mais se não fosse por isso:
Nossa carne e sangue
Isso amarra você e eu
Me limita

Iremos celebrar
Porque a vida é curta, mas doce com certeza
Nós estamos escalando de dois em dois
Para ter certeza que esses dias continuem
Essas coisas não podemos mudar

Ei meu amor, você vem para mim assim como vinho vem para essa boca
Cansada de água o tempo todo
Você sacia meu coração e você sacia minha mente

Iremos celebrar
Porque a vida é curta
Mas doce com certeza
Nós estamos escalando de dois em dois
Para ter certeza que esses dias continuem
Essas coisas não podemos mudar
Celebremos, você e eu, escalando de dois em dois,
Para ter certeza que esses dias continuem, coisas que não podemos mudar"

...

O que cabe num segundo?

Me parece cada vez mais, que a vida nunca é tão longe. O passado nunca está tão lá atrás e o futuro geralmente não demora muito... quando eu vejo: chegou!, quando acordo: passou!, e o passado está todo aqui em mim e quando eu penso, achando que passou, eu vejo: continua aqui dentro. E desse jeito, eu estou sempre perto do que eu fui e perto do que um dia eu achei que fosse ser.
Quando eu era criança de verdade, perguntei pra minha tia como eram os segundos e ela não respondeu. Então eu mostrei pra ela o que eram os segundos: "1,2,3,4,5.... é assim, tia?" E eu contei tão rápido que os números se embaralharam em minha boca, não sabia o que era 3, 4 ou 5 porque todos eles pareceram ser um número só, de tão pertinho que ficaram em minha voz. E então eu tive como resposta: "Sim! Assim são os segundos!". Pronto, eu soube o que era o tempo.
Passou dias, meses ou anos... não sei exatamente porque o tempo da criança é outro. Então se passou esse tempo e eu descobri que aquilo que eu achava que eram segundos, na verdade eram milésimos de segundos ou coisa menor. Depois dessa constatação, facilitada por um relógio de ponteiros, vi que os segundos são mais lentos do que eu pensava e aí o mundo ficou mais devagar e mais sem graça. Eu vi os ponteiros dando seus passos vagarosos e pensei suspresa: "Isso que é segundo? Que coisa mais sem graça" E todo meu corpinho de criança se encheu de uma monotonia sem tamanho. Eu achava que o mundo era mais rápido. Em um segundo dava pra fazer muito mais coisa do que eu imaginava: "Isso que eles dizem que é rápido demais, na verdade cabe muita coisa dentro".
Depois disso, toda vez que eu via um adulto com pressa, eu pensava: "Pra quê isso? Ele tem todo um segundo demorado e fica assim!" Passei a achar os adultos dramáticos, porque o meu segundo cabia um tanto de coisa e o deles não cabia nada... só pressa.


Esse foi o meu primeiro contato com o tempo.