terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Uma vez... vai tudo.

Essa semana ia vender uma cama, um colchão e um armário para o filho de um conhecido. Minha mãe ligou para confirmar. Ele disse: "Ô Márcia, não vou precisar mais não. Meu filho morreu".
O filho dele de 18 anos estava voltando do trabalho, indo para a aula, a polícia chegou procurando "os bandidos" e "por engano" disparou três tiros na cabeça do menino que ia dormir em minha cama.
Minha mãe só soube chorar. Eu também. E dentro de cada lágrima eu tinha raiva, dor, pena, mais raiva... muita raiva. Depois de chorar em casa, tive que ir no shopping, fui no banheiro e chorei. Fui na casa de meu pai, chorei escondido no banheiro. De noite chorei em meu quarto. Mas o meu choro era para ter sido um grito. Eu queria gritar com o pai dele, queria dormir com a mãe, com a irmã dele. Eu queria fazer alguma coisa, mas não fiz nada. Só chorei. Eu fiz tudo o que podia? O que pode ser feito com essa família? Ainda não consigo falar muito sobre isso. As palavras são injustas com o que aconteceu.


Eu vi a morte. Ela apareceu em minha frente. Eu não pude ver seu rosto, ela era como uma sombra... e não era clara.
Eu comecei a pensar no que vai me tirar desse planeta, como quem procura num romance, qual é o vilão. O que vai me deixar sem corpo? Um tropeço, um cançer, uma dor, saudade ou "morte morrida"?
Mas eu só procuro saber, porque sei que nunca vou ter a resposta... só quando o dia chegar. Por isso, essa coragem toda de pensar nisso.
Do que esse vilão vai me levar? Não sei, mas de qualquer forma o agradeço pelos quase 22 anos sem me tirar daqui.
Como uma coisa pode ser tão forte ao ponto de me fazer deixar de existir? Logo eu, meu Deus! Será que pra aonde eu vou, tem música? Eu vou poder dançar? Vai ter música pra eu escutar?
Será, meu Deus, que eu vou poder abraçar esse menino que o Vilão me impediu de conhecer?

E lá, finalmente eu vou poder olhar para meu lado e dizer: "Agora vai ser pra sempre!"?

Mas quando ele não consegue me carregar, ele me engorda de Vida. Quando ele não consegue me levar, eu fico mais forte. E devo agradecer à Vida por todas as vezes que me desviou do caminho dele. Por todas as vezes que perdi o ônibus, que pisei no freio, que não fui à festa, que não atravessei a rua, que perdi o avião.

E a morte... ela mesma de cara limpa, eu acho que nunca vou ver. Quando seu rosto estiver se desembaçando em minha frente, eu vou passar para o outra lado... e viva eu vou estar... novamente.
Aí eu vou ter a certeza de que não era um Vilão, mas o Coringa da vida. Brincou comigo e eu acreditei.

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