segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

O que cabe num segundo?

Me parece cada vez mais, que a vida nunca é tão longe. O passado nunca está tão lá atrás e o futuro geralmente não demora muito... quando eu vejo: chegou!, quando acordo: passou!, e o passado está todo aqui em mim e quando eu penso, achando que passou, eu vejo: continua aqui dentro. E desse jeito, eu estou sempre perto do que eu fui e perto do que um dia eu achei que fosse ser.
Quando eu era criança de verdade, perguntei pra minha tia como eram os segundos e ela não respondeu. Então eu mostrei pra ela o que eram os segundos: "1,2,3,4,5.... é assim, tia?" E eu contei tão rápido que os números se embaralharam em minha boca, não sabia o que era 3, 4 ou 5 porque todos eles pareceram ser um número só, de tão pertinho que ficaram em minha voz. E então eu tive como resposta: "Sim! Assim são os segundos!". Pronto, eu soube o que era o tempo.
Passou dias, meses ou anos... não sei exatamente porque o tempo da criança é outro. Então se passou esse tempo e eu descobri que aquilo que eu achava que eram segundos, na verdade eram milésimos de segundos ou coisa menor. Depois dessa constatação, facilitada por um relógio de ponteiros, vi que os segundos são mais lentos do que eu pensava e aí o mundo ficou mais devagar e mais sem graça. Eu vi os ponteiros dando seus passos vagarosos e pensei suspresa: "Isso que é segundo? Que coisa mais sem graça" E todo meu corpinho de criança se encheu de uma monotonia sem tamanho. Eu achava que o mundo era mais rápido. Em um segundo dava pra fazer muito mais coisa do que eu imaginava: "Isso que eles dizem que é rápido demais, na verdade cabe muita coisa dentro".
Depois disso, toda vez que eu via um adulto com pressa, eu pensava: "Pra quê isso? Ele tem todo um segundo demorado e fica assim!" Passei a achar os adultos dramáticos, porque o meu segundo cabia um tanto de coisa e o deles não cabia nada... só pressa.


Esse foi o meu primeiro contato com o tempo.

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