segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Delicadeza. Candura. Cuidado. Suave. Leve. Doçura. Amoroso. Veloso.

Triscar com zelo. Tocar com graça. Abraçar com as pontas dos dedos.

Eu vi. E me vi mãe. Num choro eu fui todas as mães que até aquele dia não tinha sido. Em meu ventre havia o destino da mulher.

Eu vi. Sou grata à infinda beleza do seu toque amoroso e sou infinda em ser mãe.

Passarinho

"Traga-me um copo d'água, tenho sede
E essa sede pode me matar
Minha garganta pede um pouco d'água
E os meus olhos pedem teu olhar

A planta pede chuva quando quer brotar
O céu logo escurece quando vai chover
Meu coração só pede teu amor
Se não me deres, posso até morrer"






Cara cor
Agem

Cor
Ação

Ber ço
Beco

Ape
Teço

Tarde, margem
Tro
peço

Zelo, imploro,
Obe
deço

Subo, muro,
Trincheira

Caio, raio,
Cordilheira.

Morro, nasço,
Passo.

Amasso, amordaço,
Liberto.

Acerto, aceito,
Abraço.


Abraço.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011


"Você precisa
Saber da piscina
Da margarina
Da Carolina
Da gasolina
Você precisa
Saber de mim
Baby, baby
Eu sei
Que é assim
Baby, baby
Eu sei
Que é assim
Você precisa
Tomar um sorvete
Na lanchonete
Andar com gente
Me ver de perto
Ouvir aquela canção
Do Roberto
Baby, baby
Há quanto tempo
Baby, baby
Há quanto tempo
Você precisa
Aprender inglês
Precisa aprender
O que eu sei
E o que eu
Não sei mais
E o que eu
Não sei mais
Não sei
Comigo
Vai tudo azul
Contigo
Vai tudo em paz
Vivemos
Na melhor cidade
Da América do Sul
Da América do Sul
Você precisa
Você precisa...
Não sei
Leia
Na minha camisa
Baby, baby
I love you
Baby, baby
I love you..."

O Amor deve ser sutil, deve ser de manhãzinha. O Amor deve estar em meus cantos, nos sinais da minha pele e na cicatriz do seu ombro. O Amor deve estar essencialmente na abertura ao aprendizado. O Amor imanta sutilmente os seres amantes e um dia, quase como uma surpresa eles se olham: "Estamos aqui dentro!". O Amor constrói sem jogar fora o que caiu por terra. O Amor sabe o seu gosto de forma tão profunda, que passado uns tempos, ele próprio vira seu gosto.
O meu Amor está em meus cabelos e pelos. Está em meus poros e pele. Está em meu bocejo quando acordo. Está em minha sonolência e em meus despertar. Está atrás dos meus olhos. Está entre as minhas mãos e o mundo.
Mas ele realmente está quando se percebe que ele não está mais.
Ele passa a Ser.
Postergar. Transferir. Adiar.

Esperar. Sentar. Respirar.

Fazer.


E quando a vida de uma pessoa é toda uma postergação? Onde ela vive? No sim ou no não?

E quando a vida de outra pessoa é só esperar? Onde ela vive? No despedir ou no encontrar?

Me parece que na negação há o sim. Que na espera há o encontro. Que no ato há o ócio.

Novo ensaio

Tem vezes que vida estancada, é vida concentrada. Tudo bem, é também parada. Mas não é porque ela está fitada no nada, que ela está vazia, oca.

Catatonia, estado de coma, depressão. Ainda assim, há vida. Estancada, talvez somente condensada muda de tantos não ditos, não abraçados, podados, amputados, castrados. Há vida. E com nossos olhos de superfície, fica um tanto distante de se ver essa Vida.

Na verdade, se não se sente, não se vê.

É tempo de ensaiar a lucidez. Da cegueira, estamos craques.

Dia cheio

Tem dias que a gente se sente como quem chegou e nasceu

A vida brotou de repente ou foi o mundo então que cresceu?

Mas eis que chega a roda-viva e carrega as bobeiras pra lá...


Hoje o dia foi todo preenchido pelo essencial. E o essencial é bom.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Milagre

Viva!

E,

Continuo...


Viva!

E,

Continuo...


...

...

Nesse final de ano, meu caderninho verde acabou. Voltei pro computador. 
O caderninho verde sempre vai estar lá. E se o computador acabar?


Sou da terra. Como de mão, ando com os pés no chão.


Sou Touro de pernas-raízes. Preciso ter nas palmas.





"Quem me acode à cabeça e ao coração
neste fim de ano, entre alegria e dor?
Que sonho, que mistério, que oração?
Amor"



C. Drummond



Não como o último pedaço. Não bebo o último gole. Leio do fim para o começo.

Dezembro é início. Trancar é abrir pra fora. Fechar é recomeçar.


Até.

Ops!


Até...



Vertigem.

É tempo de olhar para dentro.

Lá fora, já é tudo repetição.

Mudam os personagens, continua o enredo.

Aqui dentro vai ser tudo novo.

Olha pra dentro, Vitória...

Posse, eu posso?

Eu não sei. Hoje me perguntei diversas vezes.

Se eu pudesse, seria só meu?

Mas já que eu não posso, faço o quê com a posse?

Latifúndio da dor.

Melhor calar?


( )


Sim. Me calei. Mas o hiato, nos causou dor maior do que qualquer dito.

Shh...

Silêncio. Dor não divide espaço com voz.

Tato.

Sou o que faço e o que assiste. Sou o que constrói, o que destrói e o que assiste passivo o início e o fim. Sou os últimos grãos do que já fui, sou a onda que me derruba do que eu pude ser. Sou o medo de me ver. Sou meu choro diário. Sou o espectador correndo da sua dor. Sou espreita. Sou pressa. Sou tantas vezes, tentativa de ser perfeita. Sou angústia, sou dúvida. Sou calma, vagarosa. Firme, forte. Eu trisco, eu arranho. Eu toco.

Em tudo eu toco. Não precisa encostar. Pra sentir, basta existir. Um vulto. Um calafrio. Beirando a pele na fronteira do que não era e do que passou a ser. Pelos suspensos, eriçados. Ar que respira lá em cima. Depois, insustentável, ele desce...

Em tudo eu toco. Encosto. Beiro.

Em tudo tropeço. Mergulho. Inteiro.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Imantados

Eu quero catar conchinhas, quero sujar os pés de areia e lamber meus dedos com o restinho de sal que o peixe deixou. Quero te ver cantando, te escutar falando, te ouvir calado. Quero aulinha, nossas criancinhas. Quero correr atrás do menino, quero riscar o chão com giz, quero ralar meus joelhos, quero subir no galho mais alto. Quero ser pura, quero te amar puro, quero sorrir puro. Quero sentir sua boca bebendo o Amor dos meus olhos, quero nosso enlace, quero nosso compasso, quero nossos passos. Quero cacau, cajá e lichia. Quero sons, cores, sabores. Quero silêncio, quero gargalhada. Quero nossa dança, nosso peito. Quero nosso ar, quero dividir, quero voar. Quero o amanhecer, o entardecer, o anoitecer. Quero encostar, escorregar, entrar, ficar. Quero nosso cheirinho. Quero calças coloridas, cordas de violão, batida de tambor. Quero jasmim. Quero nosso serzinho. Quero passarinho. Quero cair, tropeçar. Quero erguer, desatar. Quero cuidar. Quero crescer. Somos amar.
Paz.

Sonhos matinais



Parei, e me senti. Só veio o Amor. Mas não é qualquer Amor, agora eu falo desses que tomam o corpo e fazem dele a sua casa, melhor: o seu quarto. As suas portas, são os nossos pequenos poros, as janelas, são nossos olhos. A varanda, os caderninhos, a pele, os passarinhos, as crianças, as mãos dadas, a pureza, a verdade.

Eu ando deixando pegadas... é o Amor que escorre.


Meu Amor é manso, é forte, é suave, é .
Entre nós, há 18 anos. Entre nós há o nosso ar. Entre nós, não há nós.


"Respira comigo?", e depois disso, eu esqueci como é respirar só. 




Saint-Exupéry, em um dos seus livros, disse sobre as árvores:



"Plantada na terra por suas raízes, plantada nos astros por seus ramos, ela é o caminho da 


troca entre as estrelas e nós".



E como árvores, nós somos, quando amamos.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Minha escola

A minha escola é feita de coisinhas. São minhas palavrinhas, meus caderninhos, meus cheirinhos, minhas florzinhas, minhas musiquinhas, minhas poesiinhas.
São pequenininhas, às vezes quase pó. Às vezes quase ar. Muitas vezes, chá.
Lápis de cor.
Clarice, Fernando, Anais.
Folhinha entrando em minha unha, até quando consigo não abrir os olhos? Vou indo, vou indo, brinco de não enxergar.
A minha escola, são as perguntinhas.



Vc brinca de quê?
Vc segura minha mão pra eu não me perder?
Não pode na linha branca.
Se engolir o caroço, vai nascer uma árvore dentro de vc!
Não, elas não são de algodão.
Cuidado que aí é fundo!
Pode deixar, eu não vou apagar a luz...
Deita em meu colo, eu tô aqui, foi só um sonho.
Deixe que eu assopro. Não, não vai arder.
Eu te dei papel, por que parede não é lugar de tinta.
Calça os pés!
Chão de banheiro não é escorregadeira.
Tá bom, só mais essa vez.
Se eu balançar mais alto vc vai cair!
Olha pro lado esquerdo e depois olha pro lado direito, espra ficar vermelho.
Coloca tudo no baú, menina!
Não, Deus não é a mesma coisa que Jesus.
O segundo é menor que o minuto, depois vem o milésimo de segundo.
Ele vai voltar.
Bata na porta antes de entrar.
Segura no garfo direito.
Qual a palavrinha mágica?

Não sei, ninguém nunca me perguntou isso. Mas eu acho que é o que move a gente, dizem que Deus é isso.

Escola

São as coisinhas. São minhas palavrinhas, meus caderninhos, meus cheirinhos, minhas florzinhas, minhas musiquinhas, minhas poesiinhas.
São pequenininhas, às vezes quase pó. Às vezes quase ar. Muitas vezes, chá.
Lápis de cor.
Clarice, Fernando, Anais.
Folhinha entrando em minha unha, até quando consigo não abrir os olhos? Vou indo, vou indo, brinco de não enxergar.
Vc brinca de quê?
Vc segura minha mão pra eu não me perder?
Não pode na linha branca.
Se engolir o caroço, vai nascer uma árvore dentro de vc!
Não, elas não são de algodão.
Cuidado que aí é fundo!
Pode deixar, eu não vou apagar a luz...
Deita em meu colo, eu tô aqui, foi só um sonho.
Deixe que eu assopro. Não, não vai arder.
Eu te dei papel, por que parede não é lugar de tinta.
Calça os pés!
Chão de banheiro não é escorregadeira.
Tá bom, só mais essa vez.
Se eu balançar mais alto vc vai cair!
Olha pro lado esquerdo e depois olha pro lado direito, espra ficar vermelho.
Coloca tudo no baú, menina!
Não, Deus não é a mesma coisa que Jesus.
O segundo é menor que o minuto, depois vem o milésimo de segundo.
Ele vai voltar.
Bata na porta antes de entrar.
Segura no garfo direito.
Qual a palavrinha mágica?

Não sei, ninguém nunca me perguntou isso. Mas eu acho que é o que move a gente, dizem que Deus é isso.

No canto

Comi um milho, guardei em meu peito uma jasmim, vi um menino bonito no ponto de ônibus comendo biscoito, comi amendoim, tomei suco de cajá.
Não é isso que chamam Felicidade?
Eu tenho a impressão de que as maiores coisas que existem são sempre bem pertinho do coração e dos olhos. A beleza do mistério da Felicidade é justamente a existência desse sem-fim, sem-nome que buscamos todos os dias. Se paramos de correr, se paramos de respirar ofegantemente... eis que surge. Nos mais bonitos cantinhos.
No canto do seu sorriso, no canto do sofá, no canto do caderno, no canto da fotografia, no canto da palavra, no cnto do sol, no canto do passarinho.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Onidor

Dor foi feita pra proteger e pra doer.
Sobrevivi por conta dela e morro por ela.

E mesmo quando ela não está perto,
de longe ela grita:

"Ó eu aí, no buraco no peito!"

segunda-feira, 13 de junho de 2011

"Peguei um baláio, fui na feira roubar tomate e cebola
Ia passando uma véia, pegou a minha cenoura
"Aí minha véia, deixa a cenoura aqui
Com a barriga vazia não consigo dormir"
E com o bucho mais cheio começei a pensar
Que eu me organizando posso desorganizar
Que eu desorganizando posso me organizar
Que eu me organizando posso desorganizar"

C. Science

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Escafandro e Camafeu.

São as palavras mais íntimas e mais distantes de mim. Sempre as tive aqui em mim, mas durante anos não sabia os seus significados. Amava, porque o seus sons eram bonitos e eu imaginava que quando descobrisse o significado, iria achar bonito. Vivi o mistério durante muito tempo... o não-saber é belo.
Pois bem, faz um bom tempo que fui assistir à um filme "O escafandro e a borboleta"; fui sem saber o que era escafandro e quando meu amigo quis me explicar, eu pedi pra parar. Assisti o filme sem saber. Depois de alguns dias, acabei com o mistério, peguei o dicionário. Pronto, me apresentei ao escafandro e ele também me conheceu, viramos amigos. Ele, de fato, é bonito. Ajuda o homem a respirar, entrega um novo pulmão, faz a gente poder ser peixe.
Quanto ao camafeu, até essa semana, relutava fortemente em saber seu significado e continuava o achando uma das coisas mais lindas do mundo. Aí, Vovó Minha, me mostrou um brinco seu, bem antigo e disse: "É bonito, não é habib? É um camafeu". Pronto, todo mistério se desfez e da forma mais bonita. Até hoje ela não sabe o que fez com o camefeu e comigo. Existem momentos que são tão suaves e tão belos, que eu não ouso prende-los em palavras. Esse foi um desses. Ele está lá, eterno.

Agora eu ando por aí, com o escafandro e o camafeu. Sem mistério, mas com beleza. Eu sabia que eles eram lindos.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Aprendendo a respirar

Eram dois homens, na beira da praia. Acabaram de se conhecer, o que tinham em comum, além da idade, era o mar. Então, conversaram sobre ele:

- Sempre que eu tento me catar, eu me espalho.

- É? E eu me dissolvo... quem vai ter mais trabalho?

- Eu não sei.

- Pois é... como água, eu es-corro de mim.

- Como éter, me fundo com o ar.

- E depois vc se respira?

- Geralmente me falta o ar.

- Ah...

Os dois, por não se entederem, resolveram andar. Ás vezes, os pés em movimento, clareiam a cabeça. E o moço que não consegue se respirar, continuou:

- É porque eu nunca quero as pedras da beira da praia. Sempre quero as do fundo, as que dão trabalho pra pegar. Só que, eu me pergunto: e se eu for? e se faltar o ar? se meus pulmões não suportarem?

- Vamos?

- É que eu não sei nadar...

- Ah... então acho melhor vc ficar com as pedrinhas da beira da...

- Vc tem um escafandro?

Na tigela

Já que o dia está sendo assim, permeado pela energia vital freudiana, vou até o fim.
Hoje, re-escutei essa música: "Seu suor é o melhor de vc".

E só hoje me toquei da tamanha pretensão desse homem. Ele faz o tipo "tão cheio de si", "cheio de toda a certeza do universo" de sua virilidade, que me irrita. Mas essa irritação não demora muito e logo depois vem o oposto dela: a certeza de que ele é muito. E sim: ele tem o melhor de mim e eu guardo pra ele. Ele quer se soltar e não consegue, é meu salvador e quer meu resto, é meu prazer, está em meu suor e o melhor de mim... está nele.
Nem ele tem a certeza do que é, do que quer e nem eu. Mas, eu e ele temos uma única certeza: o desejo cortante. Com palavras atrapalhadas, narciso e doação, retenção e gozo. Tudo junto e fundido. E o que torna esse homem forte e desejável, é justamente esse caos, essa dúvida exposta com tapa na cara. O caos atrai, isso é fato.
Na vida, se busca ordem. Nas pessoas, caos. Porque assim, a gente vai se resolvendo enquanto resolve o outro.

E esse homem, me entrega o caos em uma grande tigela e me manda comer com minhas mãos, sem despertiçar e guardar um pouco pra ele. Porque ele se atrai por seu caos, ele quer se provar... mas antes: eu.

Eu provo. Guardo em mim. Guardo tudo em mim. E lhe digo, em baixo tom, encostando aos poucos: "O seu melhor está em mim".

Páginas táteis.

Certa vez, Antoine Saint-Exupéry disse que a "a sensualidade é ridícula" e eu concordo porque eu sei (humm) o que ele quis dizer com isso. Quando o homem vive essa sensualidade de forma forçada, eu sinto asco. Quando uma mulher faz isso, quase sempre beira o cômico.
Essa coisa programada, posada, estilizada, travestida de sei-lá-o-quê, nunca, nunquinha me foram confortáveis. Durante alguns anos, na adolescência, me senti masculina e como estratégia compensatória, me afeminei muito; muita maquiagem, saltos e mais saltos, calças justas e mais justas. É fase. Passou.
Redescobrir minha feminilidade e minha sensualidade (ui!) não foi do dia pra noite... e também não foi o processo mais suave da minha vida, porque minha parte infantil sempre ocupou muito espaço em minhas "instâncias psíquicas".

Isso tudo pra dizer o seguinte: quem me ajudou nesse retorno à feminilidade perdida, foi Anais Nin.
Em minha viagem pra Buenos, conheci uma menina-maravilhosa, que levou em sua mala um livro dessa mulher, que pegou emprestado de um amigo.
Sem detalhes da história, foi por conta desse livro e dos grifos do dono do livro, que eu alumiei uma parte minha, com uma luz tão forte, que eu vi foi coisa...

Me encontrei com Anais e com seu universo, cheio de corpo e flúidos e suor. E muitas palavras. Grande experiência. Soul grata.

Minha casa azul.

Agora à noite sonhei que estava em uma casa. Uma casa velha, caindo aos pedaços, azul. Ela era azul, em tons desbotados "e aquela num tom de azul, azul inexistente, azul que não há, azul que é pura memória de algum lugar". Era um azul tão lindo, e seus tons iam do azul marinho ao quase branco. A tinta, em algumas partes estava descascando. Ela não era minha, e uma pessoa me apresentava à ela, mostrava os cômodos, e alertava "ela está muito velha, pode cair em qualquer momento". A casa era redonda, parecia uma oca, mas era de concreto, tinha sala, quarto. Eu tocava algumas partes e ela estava fofa, era muito frágil. Ela era tão antiga, mas tão infantil...A casa era frágil, eu tinha que andar bem devagar pra ela não cair. Mas eu a amava tanto! Eu estava revisitando a casa, com um saudosismo, mas a pessoa estava me apresentando à ela, como se não soubesse que eu a conhecia. Minha sensação era: "ela não vai cair", mesmo vendo com meus olhos, que ela estava caindo. Era tão velhinha, estava pingando, com mofo, mas eu gostava dela e estava feliz por estar ali dentro. A sua fragilidade me fazia desejar cuidar. Era desejo de tatear com mãos leves, aos pouquinhos, devagar, com voz baixa e olhar sereno. Só assim, ela não cairia. Cuidar da casa. Eu a amava por ser frágil, por demandar de mim passos brandos e uma delicadeza que trisca as coisas. A minha casa me ensina a ser suave. E me ensina a ter força para reconstruir, carregar tijolos, galões de tinta, se preparar para a chuva. Me ensina a ser fortemente delicada.



De que casa estava falando?
O que o consciente omite, o inconsciente grita.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Rendo-me.

Passei dias sem escrever aqui. Fui me guardando em pequenos papéis, que foram se perdendo e com eles foram pedacinhos meus. Sinto que meu ar estava em suspensão. Agora voltei a respirar.

Acho que estava me testando. Será vício, será pura necessidade de reflexão, catarse diária? Sedução do olhar do outro? Preciso mesmo escrever?


O tempo passou e cá estou eu, de novo. Como mulher que se separa do marido e deixa uma fresta da porta aberta. Hoje, arrombei a porta.

Hoje, não tive papel e caneta e me vi amputada, porque tudo escorreu pelos olhos e minhas mãos não sabiam o que fazer. Foi difícil ficar só com lágrimas, as mãos pareciam perdidas, tateavam em um escuro.

Minhas lágrimas foram de félicidade. Fé no Humano. Alegria que se transforma em água e sal e me molha.
Mas, elas não foram completas. Eu desejei tranformá-las em palavras, porque assim, poderia revisitá-las em algum momento futuro. Palavra é posto.

Por isso, voltei.

As palavras me deixam mais bonita. São elas que pintam meus dias, que tranformam cinza em verde. Enfeitam meus cabelos, pintam meus lábios, perfumam meu cheiro.

Me rendo à vc, Palavra. Lhe entrego minhas mãos. Faça delas o que sentir vontade. São suas.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Humana, 22 anos.

Hoje, eu recebi flores. Abracei muitos dos que amo. Escutei a voz de outros, que também amo. Eu almocei e jantei com pessoas que eu amo. Eu escutei palavras doces, senti os olhares de Amor. Hoje eu senti minha saúde. Hoje eu vi o mundo e me lembrei de que isso só é possível porque existe o Sol.
Hoje eu senti saudade de mim, da criança que fui, da adolescente que fui. Mas me confortei com a certeza que eu tenho de que eu sempre vou sentir saudade do passado e um dia vou sentir saudade de hoje. Por isso, pelo fato de saber que sempre vou sentir saudade de algo, eu tento cada dia mais perceber o milagre de estar viva em cada dia meu. Tento ir aos poucos e num exercício diário, minimizar minha vaidade e meu orgulho. Tento não ser medíocre com o que sou, com meus sonhos. Tento não sentir medo da minha luz, como Mandela certa vez falou.
E todos os dias enxergo o quanto sou privilegiada de ter um corpo saudável, de não sentir fome, de ter a família e os amigos que eu tenho. De, apesar de tudo, morar no Brasil.
Eu me sinto bem com a história que construí nesses 22 anos. Lembro dos enredos, dos personagens e da fotografia de cada momento que vivi. Tudo está aqui.
O que eu quero pra minha vida? O que eu quero, eu estou fazendo, sendo e vivendo. O que me anima é ser útil, é fazer algum sentido para quem está do meu lado, é poder de alguma forma ser positiva para alguém, é ser útil para o crescimento do outro. O sentido, em última instância, é sempre o outro. É sempre o outro a razão de estar viva. E é através do meu trabalho, dos meus estudos, das minhas escolhas que eu posso viver a práxis dos meus valores.
Minha casa é o meu corpo, é através dele que minha evolução na Terra se dá. Quero cuidar bem dele, quero cuidar bem do corpo do outro, sempre lembrando que "quando se toca um corpo, se toca uma história, uma memória". E é aqui nessa pele, sangue, carne e ossos, que todas as minhas expriências estão pintadas, onde a tinta entra na tela e tudo vira uma coisa só. Mas, mais do que isso, em meus genes, existem todos meus antepassados, minha árvore de raízes infinitas que me unem à toda humanidade e me fazem ousar chamar com voz trêmula, esses Homens de irmãos.
Sou Humana e quero fazer parte da construção desse "Humano" que nós, de forma incansável, tentamos alcançar. Quero alcançar o tempo em que Ser Humano dispensa qualquer forma medíocre de identidade, como números em contas correntes, cor da pele, em qual Deus se acredita ou deixa de acreditar ou em qual pedaço de terra se mora.
Nesse momento, eu acredito que, ou nossos valores mudam, ou a gente de forma global, se mata, através de todos os tipos de violência e pela agressão ao nosso planeta, que chora, esquenta, seca e inunda.
Os valores e a ética não estão mais ligados à uma religião ou qualquer tipo ideal de "bom samaritano". Eles devem ser reconstruídos e devem ressurgir urgentemente, para não entrarmos em colapso, em âmbito global. Com esses valores instituídos pelo sistema que vivemos, onde o capital rege nossas relações, naturalmente as relações são corroídas pelo capital. Subjetividade e comportamento estão sempre ligados à cultura que estamos inseridos, e esses aqui, estão fadados ao fracasso. E por conta desse meu Amor natural (?) pela minha espécie, eu tento todo-santo-dia à trancos e barrancos ser esse Humano ideal, sabendo que vou morrer caminhando atrás dele.
Mas... no mais é bom viver. Muito bom viver. E eu estou me sentindo mais velha com 22 anos. Não era pra ser natural esse sentimento. Ele só existe por causa do calendário. Mas, sim! Eu me sinto mais velha da noite para o dia, como se houvesse passado centenas de dias em minha vida. Sem calendário, esse ano não existiria. Ele é só uma tentativa nossa de dar ordem as coisas, porque sem uma noção de tempo linear, nossa cabeça piraria.

Mais uma que me acompamnha:
"Não é a perfeição, mas a totalidade que se espera de vc" - C.G.Jung

Gracias a la Vida!

Mais um ano se passou. Mais um ano chegou.

Já ouvi uma história de que de sete em sete anos o ser humano renova seu ciclo. Quando escutei isso, de imediato eu não concordei. Mas foi só pensar um pouco e vi que comigo essa idéia se encaixa. Os meus 21 anos, foi o ano mais produtivo, mais forte, mais consciente, mais reflexivo e mais amoroso de minha vida. Muitas vezes eu me vi aos avessos. Me surpreendi comigo inúmeras vezes. Comecei de fato a me realizar com a psicologia e ter a consciência de tudo o que eu posso com ela, e eu posso muito. Redescobri meu corpo. Redescobri o gosto das comidas. Comecei a capoeira. Estudei fotografia. Viajei, viajei, viajei.
E agora, eles se foram.
Ontem de noite, antes de dormir, tomei um susto quando senti a necessidade irrecuperável de me despedir dos meus 21 anos. É estranho não ter mais essa idade, já é saudoso ter passado por ele.
21 anos, foi um ano de passagem. O meu rito de passagem. Agora eu estou maior, já posso mais coisas e devo mais coisas pro mundo, pras pessoas. E como todo rito de passagem, foi também doloroso, minha pele descamou e eu, sem aceitar, voltei no caminho várias vezes pra catá-la. Hoje eu percebo, os pedaços tinham que ficar lá, voltar pra terra.
Com outra pele, eu começo a ter 22 anos nessa Terra. E como todo começo, grande parte minha ainda está lá atrás. E hoje, várias vezes eu percorri em imagens, aqueles caminhos passados. Re-senti o não, os sim, o adeus, as saudades, as vitórias, os re-começos, os choros, os abraços, as despedidas. Eu re-senti, mais uma vez, o Amor.
E aqui estou. De pele nova, ainda desbotada, em algumas partes cicatrizando, em outras firmes e regeneradas, outras intactas como pele de bebê. E com essa pele, com essas marcas eu sigo.
Eu continuo. Eu continuo...
Eu reafimo: nada passa. Aqui dentro tudo fica. As minhas memórias não acessadas, minhas células, matéria-energia. Está tudo aqui, nesse Eu-espaço-sem-fim.
Eu vivo essa Vida que me foi dada. Vivo essa família, esses amigos, esse Amor, esse corpo que sou eu. Vivo essa Terra, esse novo século, esse ano, esse dia, esse único eterno - o agora.
Eu quero a Vida com tudo o que ela me traz. Como um copo de suco, eu bebo o sumo, a espuma e os caroços. Tudo o que me for dado, eu vivo. Eu ando, eu vejo, eu respiro, eu corro, eu abraço, eu choro, eu grito, eu destruo, eu re-construo, eu tropeço, eu levanto, eu... Vivo.
Com esse corpo que me acompanha, com  essa alma que anima, com esse espírito que vivifica. Com minha mãe e meu pai e tudo o que eu sou, por eles.

Em Deus, em mim.

E, com meu Vovô Rai, eu verbalizo: Vence o Amor!

sábado, 30 de abril de 2011

"Serás doce e humilde de coração, nunca medindo tua mansidão e brandura" - O Evangelho Segundo o Espiritismo


Faz alguns anos que essa frase me segue e eu a sigo. Eu sempre tenho a impressão de que ela é possível. Ela me remete as palavras equilíbrio e sabedoria. Eu desejo acreditar que, mesmo em situações aversivas, é possível não ser também aversivo e assim o que não é positivo, é neutralizado pelo positivo.
Ela me ajuda a caminhar para cima e para frente.

Obrigada, meu Deus, por mais um dia de Vida.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Cai chuva! Deixa o mundo escorrendo, escoa pela terra, volta pro céu e chove mais.
Cai chuva! Chora suas lágrimas de Deus, molha e limpa a dor do Homem.

Chove chuva! Molha meus cabelos, roupa, pele.
Chove chuva! Se confunde com meu suor.

Vem chuva, amansa o sal que escorre dos meus olhos.
Vem chuva, me espalha com vc. Deixa eu ser, também, vc.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Dentro

O sol está tímido essa manhã e as folhas dançam com o vento calmo, que agora passa.
Meu homem, eu estou aqui.
Meu corpo está mais quente do que de costume e eu deixo a água fria me tocar aos poucos.
E eu estou aqui, homem.
Os meus dedos estão enrugados e eu continuo aqui.
Aqui, homem.
Mais uma vez, eu arrumo minha estante, espero o bolo no forno.
E eu continuo aqui, homem.
Começou a chover, os bichinhos se escondem e eu sinto frio. Em silêncio, eu falo: "Seja paciente...".  Eu cato meus rabiscos pelo chão, revejo fotografias.
Eu estou aqui, homem.
Me vejo relendo o livro que vc me deu... é a forma de te sentir mais aqui.
E eu continuo aqui, homem.
As cigarras gritam, eu tapo meus ouvidos, elas insistem. O sol se despede. Eu não quero me despedir.
Eu me deito, vou dormir, homem.

Nós estamos aqui.
Dentro.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Peito leve

Helena carregava o universo em seu peito, em uma pedra-pingente que sua mãe lhe presenteou. E sabendo disso, eu lhe perguntei se carregar uma coisa tão grande, era pesado. Ela me disse, que quando se carrega "aqui dentro" o universo passa a ter o peso do nosso próprio corpo, se confunde com nossos átomos-matéria-alma, e pesar fica muito difícil. Eu entendi o que ela me disse, mas uma parte minha não aceitou aquela resposta. Como que uma coisa-sem-fim, cheia de Nebulosas, inícios e fins, estrelas, planetas, buracos negros, não-matérias poderiam caber nela, menina Helena? Tão pequena, tão menina. Então ela me disse que nunca tinha estudado, nunca tinha visto um número, nem uma balança, por isso não sabia o que era distância, nem peso.
Por não conhecer o limite dos pesos e das distâncias, Helena simplesmente carregava. Sem saber como e nem porquê, ela simplesmente achava bonito aquele céu pendurado em seu peito.

Eu quase a desviei do seu caminho, lhe enchendo de perguntas e hesitações. Mas, por não entender tantas palavras novas, ela continuou caminhando, com seu universo no peito, sem peso e sem distância e estranhando todos os olhares assustados de quem lhe vê.
E eu voltei. Mas antes de ir, ela segurou meu braço e me perguntou feliz, só por me oferecer: "Quer um pedaço do meu céu?"



(Sobre minha amiga, que tem o coração de céu)

Do que o limite é capaz

Desde pequena eu tenho essa mania de antever o meu enterro. Não existe nada de macabro, triste ou doloroso nisso. Foi uma estratégia infantil que criei para falar coisas que não consigo e só conseguiria se soubesse que iria morrer. E isso sempre acaba gerando uma cartarse.
Hoje de manhã eu tive mais um desses surtos. Só que foi diferente. Eu falei tudo o que queria para todas as pessoas. Não foram duas, ou três como de costume. Foram todas, absolutamente todas. E com isso, veio muito choro. E um alívio depois. E mais um pouco depois, a coragem pra poder falar tudo isso aos poucos, enquanto ainda estou aqui.
Eu acho impressionante o poder das situações extremas. A psicologia diz que esses momentos geram uma capacidade de elaboração mais rápida. Eu concordo.
O ruim é quando se espera esses momentos para se ter coragem de agir, de mudar e disso eu não gosto.
Esperar morrer, esperar adoecer, esperar, esperar, esperar qualquer tipo de limite para agir. Isso é fraco, é medíocre.
E em nosso país, os três poderes estão craques nisso e pior: agem de forma punitiva e não educativa.
Já descambei pra outro assunto.
Depois eu falo mais sobre essa relação entre limites e mudança.
Meu limite de fome chegou.

Os maiores tesouros, estão em segredo/ O não-dito

O Grande Amor, meu maior sonho, meu maior prazer. Minhas manias. Meus vícios.
Meu melhor beijo, meu abraço mais apertado. Meu pecado.
Quase sempre, só eu sei. Meus tesouros são só meus e vivem aqui, formando teias, empoeirados, quando não mexo neles. Alguns estão amarelados. Mas outros, eu futuco todos os dias e aí, algumas pessoas têm acesso à eles. Mas meus maiores tesouros, estão em segredo.
Eu os guardo e nunca os verbalizo. Os apresento de todas as formas, menos com a palavra, porque para eles, todas essas letras são como montinhos de pó entulhados no canto da porta. E eles vêm pro mundo quando querem, são arredios. Se mostram com minhas lágrimas, com meus pulos, com meu choro, com minha vontade de ficar mais, com meu sangue correndo mais rápido.
Os meus tesouros, são o que eu tenho de mais íntimo, é a minha parte mais funda e a mais livre. São o que eu tenho de mais insano e mais lúcido.
Os meus tesouros não são guardados em um baú em um canto de sala, eles não são arrumados. Eles vivem em meus pés, mãos e coração e me fazem levantar da cama todos os dias pra tentar ordená-los. São como brinquedos de criança que insistem em não se arrumar, se achando donos da casa.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Hoje, eu escolho.

Hoje, o dia tem o peso de uma pétala. O peso das coisas que triscam, encostam meio que escorregando pela pele. Hoje as cores são claras, como quando o sol dá seu último adeus. Hoje é dia de comer de mão, brincar com Gabriel e desenhar com tintas e dedos.
Hoje é dia de abraçar e só abraçar. Acolher e cuidar.
Hoje é dia de acordes com cheiro de jasmim, que eu guardo em meu peito. Hoje minha voz canta baixo, e só aqui perto, bem pertinho vc pode me escutar... sem esforço, só com a vontade de chegar, encostar.
Hoje eu não seguro, eu deixo escapolir pra pegar no chão e lá ficar, com preguiça de levantar.
O ritmo dos meus passos lembra o de uma senhora de fios brancos, os meus olhos vêem as coisas daqui de baixo, como uma criança e tudo parece tão grande...
Hoje é dia de Manoel de Barros e suas coisas pequenas, é dia de Tiê, Beethoven e sua Moonlight Sonata


Hoje é dia bom. Eu escolhi ser assim. Eu escolhi, hoje, amar.

domingo, 10 de abril de 2011

Tenho sonhado muito com o fim do mundo. Esse é meu maior medo infantil, e ele tem voltado quando durmo. Ele se iniciou com meu contato com uma bíblia infantil, que na parte do apocalipse, existiam páginas e páginas com fogo e seres com expressões assustadoras. Era muito vermelho. Era feio e forte.
E quando acordo, tantas vezes me deparo com esse medo. Morte, mediocridade, vaidade, violência, exploração, alienação, amputação, injustiça.
Não é pessimismo. É medo, e ele deixa minhas lentes sujas de fumaça... e tudo fica turvo e confuso.
eu não quero que o véu se descubra. eu quero não saber, quero a não-certeza. quero me espantar com o infinito e todas as suas possibilidades. quero continuar me assustando com o novo.
eu quero não entender. quero intuir e seguir. e voltar e desfazer. refazer o nó. desfaze-lo outra vez. e mais uma, e mais uma... apertar e folgar. folgar, deixar solto. prender.

Não tem fim. Não tem fim. Não tem fim.
A TV dentro da TV. O espelho dentro do espelho.
Não tem fim...

A evolução não tem fim. E ela é pra cima.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Os meus laços

Logo depois que eu conheço uma pessoa, eu a entrego uma fita e a pessoa segura em uma ponta e eu seguro na outra. Assim, nós fazemos um laço, com quatro mãos. Ele pode ser bem dado, bem forte ou frouxo. E com o passar dos dias, com a chuva e o vento esse laço pode se desfazer... ou não. Depende de como eu e o outro fizemos.
E a fita, a gente que escolhe. De seda, de papel, de algodão. Algumas duram mais e outras duram menos.

Assim são meus laços. Eles são moldados, desenhados com quatro mãos.

terça-feira, 5 de abril de 2011

O que a gente compra

Nós, mulheres, arrancamos da gente o que nos serviu durante milênios: pelos e cutículas.
Hoje, na selva de pedra, eles não servem pra mais nada. Andar por aí com essas partes do corpo, é sinônimo de desleixo e até falta de higiene.

Não temos mais o costume de cavar buraco na terra, nem desfacelar carne fresca de bicho. Então, por ser desnecessária para uma maior proteção de nossos dedos, ela acabou gerando emprego e uma nova classe de trabalhadoras: as manicures. E essas peles são arrancadas de nossos dedos, levando às vezes, um pouquinho de sangue. Mas nada além do que uma mulher pode aguentar para ficar bela. Eu, durante muito tempo fiz a unha em salão, depois passei a não ver mais sentido em tirar parte de minha pele que insiste em renascer e além disso, meus dedos ficavam frágeis. Hoje eu só faço colori-las. Gosto de cores e se podesse até minha pele seria colorida. Amo Frida, amo Lila. Como não sou índia e não pinto minha pele, deposito todas as cores nas unhas e só nelas, já que maquiagem também não é meu melhor ramo. E o salão de beleza, foi aposentado de minha vida, já que ele só existia para a extinção de minhas cutículas. Ahh, e ainda tem gente XY, que acha pouco existir e ainda faz unha.

Quanto aos pelos, no ser humano, eles servem para nos proteger do sol e diminuir o contato entre a pele nos cantos do nosso corpo. Mas mesmo assim, a gente arranca. Uns mais, outros menos. Uns bem mais, outros bem menos. E por falar nisso, que coisa triste é essa nova tendência desses seres XY tirar os fios da sombrancelha e axila. Avê Maria, é feio demais de ver.

(Axila é uma palavra feia. Mas dentre as outras opções eu só consigo falar essa. Eu tenho aversão à muitas palavras e essa é uma).

Essa coisa de arrancar, limpar e desinfectar, está demais hoje. É uma super higienização de tudo e tem lugar que meus olhos ardem de tão branco que tudo é, e eu espirro de tanto cheirinho. É porque ninguém quer mais ar puro. Quer ar com cheiro de flores do campo, jasmim, alecrim, tudo misturado. É cheiro no banheiro, cheiro na sala, cheiro que liga quando a gente passa. Semana passada peguei o daqui da sala que tinha vida própria e joguei fora. Toda vez que eu passava o bicho soltava um cheiro e ainda fazia um som. Era cada susto...

É isso. Senti uma vontade enooorme de falar sobre essas duas classes excluídas e desgarradas de nossa terra. E sobre essa coisa de comprar a poluição do nosso ar.

Pra eu me caber...

Eu me crio em outra.


Eu amo meu nome. Mas amo também Consuelo. E foi com esse batismo que eu criei esse alter-ego, que me sustenta quando em mim, eu não caibo. E também sempre quando eu me acho pouco pro que eu quero ser, eu viro Consuelo. Ela me ajuda.

Hoje eu sou Consuelo. E só ela. Mudei de casa.
Estou cheia dessa minha vontade que me projeta e me lança pra um futuro que eu não enxergo. Estou cheia de vontade de mudança. De utopia mesmo, que é essa coisa me me move, me faz andar e acordar todos os dias. Se não fose por ela, eu não sentiria o calor do sol em minha pele e qualquer desentendimento me jogaria no chão.


Uhhh!

E hoje eu sou Consuelo, porque só eu não tô cabendo em mim.

Agora vou escutar Science.

É hoje, que eu não durmo.

domingo, 3 de abril de 2011

Em meu terreno... há liberdade.

É sempre bom lembrar de que antes de se colocar uma coisa no mundo, essa coisa é sua.Antes de ser lá fora, a sua casa era vc.

Antes do Amor ser do outro, ele ficou aqui em mim. E mesmo quando sai, seus restos continuam aqui e se eu regar, mais e mais vão florir.

Mas o joio também pode criar raízes. Assim como um majericão.

Eu não escolho as sementes jogadas em minha terra, mas eu escolho quais eu vou regar. E quais eu quero que criem raízes em mim
Mais uma vez sonhei que o mundo estava acabando. Todo mundo correndo pela Av. Paralela, bolas de fogo caindo.
Caos. Caos. Caos. E junto com ele veio uma ressignificação de relações e vínculos, veio perdão. Pessoas correndo atrás de outras pra falar do Amor. Afinal, o mundo estava acabando e morrer com coisas mal resolvidas não era bom...

Eu entendi esse sonho. Ele fala sobre a minha crença de que se algo está mal resolvido, ele está incompleto e enquanto as coisas não ficarem bem, a gestalt ainda vai estar aberta.

É só uma tendência. Tem coisas que devem estar longe mesmo.

Mas na maioria das vezes, eu tenho a certeza de que todo mal deve se transformar em Bem e isso faz parte da evolução das coisas. O mal é um estágio anteriror ao Bem, e como eu acredito em auto-atualização, o Bem deve ser alcançado.

O mal é estagnação. O Bem é crescimento.



auto-atualização: conceito da Gestalt que diz que todo sujeito tende a buscar o seu crescimento, como uma árvore que sempre busca o sol.

sábado, 2 de abril de 2011

a pedra

vc pode lavar meus cabelos e me colocar pra dormir, depois colocar minha roupa, forrar a cama e cobrir com o lençol que faz um vento antes de cair em minha pele. pode fazer uma concha com suas mãos, enche-las de todas as águas e colocar em minha boca pra eu beber o fim da sede.
seus cabelos cor-de-sol, pele cor de terra e tendencia a achar o mar infinito, porque ele é tão lindo quanto o céu e além disso, a gente pode entrar nele.
e a gente entra... vai até o fundo e cata uma pedra. nos entregamos e nos presenteamos com essas coisas duras e sem significado.

mas tinha tanto sentido... essa pedra.
eu gosot do construído, gostoi do ameno, do calmo. me traz uma sensação de mar depois da tempestade.
mas, tenho uma tendencia maior à tempestade que precede à calmaria. á chuva de canivete. as gotas que entram e derrubam as portas. os leves tapas vindos do céu..
gosto do que suspende e do que faz o ar faltar. gosto do susto, do indesperado.
gosto de unhas encravadas na pele, entega sem medo.
gosto de nao ter medo.
aquilo que me tira o ar, que me faz duvidar do que é real de tanto que é.
surpresa, palavra inesperada, adeus não suportado, medo não compreendido.
eu quero minhas veis expostas formamando teias em volta de mim... e o meu sangfue circulando, me cobrindo de vida.
não bata na porta, não pergunte porque, não duvide.
não peça licença, não pergunte o nome, não pergunte.
siga. faça. intua.

qualquer limite é mais uma ilusão e vc deve estar lúcido e desiludido.

desilusão é o que te sustenta.

sabe que o que te limita é a crença de ser limitado? e só issso?
e agora que sabe não ser, o que faz??

não bata na porta, não interfone, não ligue.

fale.

seja.

quinta-feira, 31 de março de 2011

vontade de colo

me deito na rede cheia de preguiça, ela é meu colo quando minha mãe não está.
mas deitar nela é pouco, eu quero ser o seu emaranhado de linhas, quero ter seu balanço de ninar e envolver quem nela deita.

na rede...

sábado, 26 de março de 2011

e se a bateria acabar, será que vai salvar?

permissão ao meio-termo

o único meio termo que eu gosto é a meia-luz. ela tem uma cor só dela, amarelada, que em fotos deixa a pele bem bonita. a meia-luz toca nas coisas, chega devagarzinho e por si só já é uma companhia. ela trisca os objetos, quase que enconstando, se debruçando preguiçosa. é tímida-atrevida: mostra pela metade. é essa a graça dela.
eu estava quase dormindo, levantei para escrever sobre ela. as palavras não podiam esperar. ela também não.
meia-luz tem voz, também: ela fala manso e o seu ritmo é vagaroso e intenso. ela respeita o escuro, eles se entendem, por isso eu gosto dela. ela é mais feminina quando é mais clara e masculina quando é mais escura.
eu agora tô dando pra personificar as coisas, objetar cheiros, colorir movimentos. eu tenho uma séria tendência à sinestesia e eu gosto disso. esses dias passei minutos com um amigo descrevendo o cheiro do eperfume dele e no final, deu uma fotografia: o cheiro é acolhedor e dá vontade de abraçar, é amadeirado, a cor dele é marrom-médio, ele é morno, é uma casa de madeira com a luz do sol no final da tarde deixando a madeira mais dourada, em volta da casa tem árvores baixinhas e alguns eucaliptos, na mesa um café foi derramado.

quanto à luz... eu tenho astigmatismo e isso que deu início ao meu apreço por ela.
além da sinestesia, uma vez eu experimentei a cinestesia: eu acordei(devo ter acabado de sair do sono REM) e não sabia onde estava meu braço esquerdo. quando voltei ao estado de vigília, isso passou.
as palavras são semente aqui dentro, quando sentimento.
brotam quando viram pensamento.
caem de madura quando escritas ou faladas.
e eu as mordo, gosto do seu sumo.
e engulo suas sementes pra nascer mais aqui dentro.

assim é ciclo do fruto do verbo.

A Flor que avoa

"Deus não dá asas à cobra. Mas têm umas que ele abriu uma exceçãozinha".
Minha amiga disse que está aprendendo a voar. E eu acredito. Ela voa, mas não é cobra. É pássaro que confunde as suas asas com as folhas e o resto do que a envolve de tão grande que elas são. De perto, ela não consegue ver o tamanho de suas penas e do que lhe faz voar. Eu as vejo de um outro ângulo e de mais longe, então eu posso sinalizar: "Flor, vc sabe voar!".

vestida de universo

naquela mesa: destreza. o seu corpo se derramou. era jacarandá, mas ela não sabia mais o que era madeira e o que era pele. a textura da mesa foi como gelo para a sua pele, que era morna. e ela se confundiu com aquele objeto, quando se viu esparramada nele. e deixando o seu corpo escorrer dele... e... e... não existia mais nada para ser dito, além de tudo o que pulsava e gritava pelos poros. ela tinha certeza de que a sua pele não só a cobria, como também a expunha. e ela se desabotoou por dentro, botão por botão. desabotoou-se e ao fazer isso, as linhas de disolveram com o suor. elas eram muito finas e qualquer desejo as rompiam. elas se desfizeram em suas mãos... e a menina se assutou, seu ar se suspendeu. ela se viu vestida de universo e só de universo. mas depois, sem esforço ela percebeu o quanto é bom se desfazer aos poucos, com suas próprias mãos e o olhar do outro. ele olhou seu cheiro.

era jacarandá. ela gosta do verbo que fecha a palavra.

dar nome é bom, parece que assim ela sente mais o que sente. dar nome limita, mas também clareia.
ela queria um nome, era jacarandá.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Só não ajoelho, porque não dá pra dançar.

Está muito bom viver a época do Baiana System. Estou me sentindo nos tempos dos Tropicalistas, da "A cor do Som", do Mangue-beate.
Eles estão re-revolucionando a música com a guitarra baiana. Não fazem parte de nenhum movimento musical, mas são Ponta de Lança. Só não ajoelho, porque assim não dá pra dançar.

Merecem e eu dou toda a minha energia corporal e todos os meus sorrisos em seus shows. O último assisti em Recife, no polo do Rec-Beat, com direito à máscaras da banda e tudo. Fora a minha sandália de couro que esgaçou, foi gostoso demais.


                                                                                                   

Sobre mãos, cheiros...

Cheguei no quarto de minha mãe, ele cheirava à jasmim. Minha mãe não sentia... tirei ela do quarto, quando ela voltou, ela sentiu. Perguntei se era algum perfume, algum desses cheirinhos de ambiente. Ela disse que não. "É Jesus que está presente". Que felicidade eu senti. O engraçado é que, faz um tempo que todas as vezes que eu passo por um pé de jasmim, eu arranco uma e coloco em meu peito. Minha roupa e minha pele ficam com o seu cheiro. Mais engraçado é quando eu soube que minha avó materna (que eu não conheci), também fazia isso.

Falando em cheiro, uma vez, na faculdade eu fui no banheiro, lavei as mãos só com água. Quando cheguei na sala, senti um cheiro de rosas bem forte... cheirei minhas colegas e não era ninguém. Passou uns minutos, percebi que eram minha mãos.

Falando em mãos, uma vez dormi com Minha Vovó Ange, na mesma cama. No outro dia, quando acordei, ela me disse: "Vi, essa noite vc colocou a mão em minha cabeça e ela estava muito quente. Eu tentei te acordar e não consegui. Vc estava dormindo e ficou assim alguns minutos".

Um dia eu quero entender isso. Sobre mãos e cheiros.


Acabei de falar com meu avô no telefone, fui agarader à um cd de Carlos Gardel que ele me deu de presente, porque segundo ele, era pra eu viver a Argentina aqui também. Dentro da conversa ele me disse uma coisa: "Tudo é novo quando acontece".

Eu quero chegar na idade dele surpreendendo. Assim como ele à mim.

Asco

"A sua inveja faz a minha fama"

Ô frasezinha triste. Como diz um amigo: "Esquizofrenia social da porra!"
Pior é quando colocam Deus no meio disso: "Deus que me deu", escrito atrás de um carro é triste... talvez pior que a Idade Média e o Concílio de Trento.

É ser muito mesquinho, criar a sua identidade baseada na inveja do outro.

Eu só me sinto MAIS, quando eu sou MAIS para o outro e não do que o outro. Mas hoje, as coisas estão tão viradas, que a gente chegou a esse ponto, a gente criou essa cultura do ganha-perde se sobressaindo ao ganha-ganha.
Chegamos ao ponto de precisarmos gerar inveja e cobiça no outro para nos afirmamos como gente.
O individual sempre acima do coletivo. Resultado: um bando de zumbi com colunas duras e coração que bate em ritmo de baladas.

Tá, eu sei que estou sendo radical... mas nessa fase eu preciso disso. Preciso negar muita coisa, pra depois afirmar com mais leveza. E agora eu nego radicalmente tudo que passa por essa lógica.

Ensaio sobre a lucidez

Subversivo, utópico, louco, natureba.


Eu não suporto essas palavras, me dói escutá-las.
A sociedade capitalista que nós construímos historicamente é falida por ser excludente, doentia e decadente.
O que se prega hoje, é que os valores e a estrutura social atual são um fato. Esquecem de nos dizer que, se ela foi constríuda, ela pode ser desconstruída. Estão aí o Terceiro Setor, os movimentos socias, o Orçamento Participativo, etc. Essas, que são as formas encontradas pela pouplação de criar melhorias em nossa qulidade de vida, enquanto o Estado e a "Democracia" não dão conta...

Borderline, depressão, esquizofrenia: se é para dar nome, esses são alguns deles que são consequência dessa estrutura social que nós criamos.
Subversivos, loucos, utópicos e naturebas, são muitas vezes uma manifestação de saúde no meio dessa real loucura que vivemos. Existem as pessoas que vivem de fachada, existem os radicais dogmáticos, mas eles não são todos. E esses nomes são, para mim, pessoas que criaram estratégias e novos caminhos para uma socidade mais igualitária e lutaram pela real democracia, que está longe disso que vivemos. Lutaram e lutam para a existência de Cidadãos, com direitos e vão além dessa cidadania castrada e amputada.

O que me traz vontade de viver é ter a certeza de que existem outros caminhos, outros valores e uma outra ética. E quem me traz isso, um dia foi chamado de SUBVERSIVO, UTÓPICO, LOUCO E NATUREBA.

Eles são os mais sensatos e os mais lúcidos. O resto, é zumbi andando.



Tudo isso veio depois da bendita hora que eu assisti o "Saia Justa", onde eles apresentaram ao seu público um economista norte americano que afirma, através de um livro, que a cidade gera felicidade, riqueza e alegria.

Resta saber pra quem.


"A verdade desse mundo vêm de uma grande mentira. Mas está tudo mudando..."

"Se vc cortar a raíz demais, vc pode ser levado pelo vento"

 E eu quero esse vento, porque essa raíz que me foi dada, eu tenho aversão. Esses valores que rondam como fantasmas... eu não quero.

Eu escolho. Eu nego. Eu afirmo. Eu cresço.

Ode ao Insignificante

Com licença, Inignificante, o seu mal cheiro tomou o meu lugar
Com licença, Insignificante, sua idade é alta e seu preço é baixo
Com licença, Insignificante, os panos que te cobrem são farrapos e seus pés estão rachados de tanto andar
Com licença, Insignificante, o que vc diz? Não me interessa escutar
Com licença, Insignificante, a sua casa fica nas margens de onde eu moro e eu não quero te encontrar
Com licença, Insignificante, suas doenças criam filas e eu quero ultrapassar
Com licença, Insignificante, vc não tem cultura e nem é educado, não há o que conversar
Com licença, Insignificante, os seus dedos estão sujos do que vc chama de comida, favor não encostar
Com licença, Insignificante, vc é gente? eu te confundo com o meu lixo e suas cores se confundem com o asfalto e à noite fica difícil diferenciar
Com licença, Insignificante, eu não tenho mais centavos para dar
Com licença, Insignificante, vc insiste em incomodar


Com licença, Insignificante, eu posso tropeçar.

terça-feira, 22 de março de 2011

de quem eu sei

agora eu me pergunto o que é conhecer uma pessoa. e se é necessário conhecer, para confiar. existem pessoas que eu só sinto e já confio. outras que eu demoro pra desvendar. outras que são sempre uma pessoa nova em cada encontro. quem pode garantir que eu te conheço? vc e eu? e se a resposta for sim, o que muda? se eu não te conhecesse e só te sentisse uma vez, seria diferente?
o que me faz confiar em vc? não é tempo e nem a quantidade de informações que eu tenho sobre vc e sua vida. é a linguagem da alma. é por conta dela que eu te conheço e ela não sabe sua cor, seu preço, seus medos e seus anos. ela sabe e isso basta.
eu te conheço porque eu te sinto. em uma tarde, debaixo de uma sombra da árvore mais bonita eu posso conhecer vc e de forma tão profunda, que talvez os anos não fossem nunca capazes de condensar tamanha compreensão do que vc é.
quanto mais eu te sinto, mais eu te conheço. eu sinto o tom de sua voz, sinto seu olhar e seu silêncio. as palavras e os fatos são muitas vezes desculpas, são como o pretexto pra vc se desabotoar em minha frente.
e assim eu te conheço. e assim eu te sinto.
é do tato, é do olfato, é da intuição... é assim que eu te conheço.
não é do tempo. e as referencias escorrem entre meus pensamentos e escapolem aos pouquinhos pelos meus pés.

Jung e meu caderno.


É verdade, tudo chega na hora certa, até a hora de estrear um caderno.
Faz dois anos que comprei um caderninho. Ele é japonês, é bordado, tem capa floral de tecido e as folhas são mais finas e amareladas e cada uma tem três camadas. Eu sempre tive pena de usar. Mas hoje, o meu dia foi feito pra ele.
Faz dois dias que eu tenho exercitado mais o meu tempo e forma de meditação e oração. E sinto que uma das conseqüências disso, é a minha maior percepção sobre as sincronicidades de cada dia. E hoje, quando cheguei em casa, em meditação, eu percebi que vivi quatro momentos lindos em meu dia. Me parece que o dia foi feito pra mim hoje. Eu não ganhei na mega-sena, eu não entreguei meu TCC, eu não ganhei mais uma coleção de Cd´s e não descobri mais um livro maravilhoso. O que mudou foi o meu olhar e por conta disso, os fatos também mudaram.
O caderno agora vai ser ocupado. Ele vai guardar o meu olhar atento. Meu mais novo companheiro.

Na hora certa.

"Quando o melhor momento chegar, vai entrar sem bater e o chão vai tremer alto com um trovão"

segunda-feira, 21 de março de 2011

Personagem

Eu lhe desejo e lhe amo. Lhe admiro, também. Eu amo a forma que seus lábios tomam, quando vc ri de mim. E olhar vc sendo, é uma das minhas maiores diversões. E eu rio de vc, descaradamente. E vc sabe do que eu acho graça... é que eu te acho tão peculiar...
Cada formato que seu corpo toma, seus contornos e linhas são tão maleáveis... e eu sempre tenho a certeza de que elas são desenho pra eu colorir. E eu te sujo com todas as minhas cores e vc, mais uma vez, ri e me chama de criança. Brinca comigo, ri, gargalha até a barriga doer e o ar faltar. Vc é meu parque, meu circo, minha folha em branco e meus potes de tinta, minhas linhas coloridas, meus confetes.
Vc é festa pra mim. Festa-de-todo-dia.

Lembra de quando vc me perguntou quanto era o ingresso?
Quero escrever assim. Vc já me disse que eu não tenho muita ordem em minha cabeça e isso faz vc ter prazer em me escutar. Vc me acha distraída e já me chamou de Flor-da-noite, foi só uma vez, mas até hoje eu me sinto "A Flor-da-noite". Vc me deu um nome.
Como vc consegue falar sobre o peso da vida de forma leve? Vc diz que eu sou leve, mas eu quase nunca concordo. Vc gosta de laranja e eu de verde; a gente precisa parar de comprar roupas dessas cores... o que acha de vermelho? Vc nunca entendeu minha difilculdade com o vermelho.
Naquele dia, eu não esqueci meu casaco em seu carro, deixei lá mesmo. Foi pra vc ficar mais com meu cheiro. Me deixei aquela noite com vc.
Eu não uso só um perfume. Tenho uns 20. Mas com vc, só uso um. Eu não queria te dizer, pra vc não ter certeza do quanto vc é pra mim, aí inventava aquela história de que não sabia qual era o perfume que usava. Sempre soube e sempre foi o mesmo desde a primeira vez. Eu te enganei. Desculpa.
Antes de te conhecer, eu já te via, te olhava e era cheia de vontade de saber como era sua voz e seu cheiro. Queria saber, também, quem cortava seu cabelo. Uma vez, eu me tropecei perto de vc sem querer e pedi desculpa, vc não disse nada. Tá bom, eu te desejava. Nunca senti vontade de lhe falar isso, sempre achei irrelevante... mentira: tinha vergonha. Uma vez, te vi dançando e eu acho que nunca te quis tanto, tanto! E naquele dia eu te tive, só de te ver. Foi bom. O tecido de sua blusa parecia confortável e eu quis te abraçar.
Vc me acha bonita de saia e vestido. Vc não entende como que eu tenho tanta roupa de flor e como eu consigo unir tantas cores quando me visto e "parecer um carrossel em movimento".
Até hoje vc não entende como que eu, te desejando, não demonstrei nada. Vê uma coisa: nem eu me entendo, vc não precisa entender essa minha estrofe, ela vai ser reescrita. Mas, talvez fosse só pura vontade de vc me ler por dentro. De alguma forma, eu achava que vc me conhecia, até mais do que eu mesma e sabia que vc iria fazer a coisa certa.
Vc me acha engraçada com minha roupa de capoeira. Vc gosta dos meus sinais e eu também gosto deles.
Eu nunca esqueci o dia que vc disse: "Eu acho linda a forma que vc movimenta suas mãos".
Eu amo lhe ver dançar e amo dançar com vc. Não sei o que eu amo mais.
Eu não suporto sua  calça desbotada em baixo. E eu sei que vc não gosta da minha saia verde musgo. Mas a gente se gosta, apesar dessas peças.
Eu sinto mais frio e mais calor do que vc, por isso acho seu corpo resiliente.
Eu gosto tanto, tanto da forma como vc segura no copo e como vc o deixa na mesa. Vc nunca bebe o último gole, porque? E eu nunca como o último pedaço.
Eu tomo susto o tempo todo, por qualquer coisa e desde que vc descobriu isso, vc faz disso sua maior brincadeira. Só quero te lembrar que eu também tenho arritmia.
Eu amo acordar e lhe abraçar. Gosto de lhe ver com os olhos inchados e escutar sua voz rouca... e vc fica bonito, cheio de preguiça. Vc fica tão lento quando acorda, que eu acho que vc tem certeza de que o mundo tem o seu relógio. Eu amo seu ritmo. Quando vc está concentrado em alguma coisa, sua respiração fica mais profunda e vc pisca os olhos mais lentamente. Os seus sons vivem em mim.
Os meus dois livros que estão com vc, eu vou te dar de presente, mas só vou dizer quando vc for me entregar. A sua felicidade vai ser maior.
Vc dança quando anda. Vc canta quando fala. Vc me desenha quando me toca.
Nada que vem de vc é brusco, vc sabe mudar de assunto, de lugar e de feição de uma forma tão fluida, que eu mal percebo que vc mudou. Até pra desligar o telefone, eu não entendo direito se é a hora ou não. Eu amo a sua fluidez.
Eu te abraço mais forte do que vc me abraça, vc sente isso? Tem dias que eu tenho certeza de que do seu lado eu sou frágil. Outros, posso jurar pra qualquer um que eu sou a pessoa mais forte do mundo.
"Ah! Vc... é... huummm.. esqueci! " Por favor, não faça mais isso. Vc abusa da minha curiosidade e a sua falta de curiosidade, ás vezes me irrita. Vc é tão vc e às vezes eu queria ser assim.
Não quero falar mais nada. Quero vc aqui.

E sabe?

Aqui. Essa é sua casa, sim.




(sobre uma menina que criei e um menino que ela encontrou)

Do que eu não posso mais me gabar

Meu corpo é um paraíso quando consigo sentir minha saúde. E agora eu sinto isso e fico muito feliz. Como já foi dito, o bem pode anestesiar... e eu não gosto disso. Perceber o meu bem-estar é um dos meus exercícios diários. Isso tem me deixado mais sensível, pro bem e pro mal, claro. Mas está bom assim... ontem senti meu coração, bem forte e com toda sua vida, sem colocar a mão no peito e sem tapar meus ouvidos pra escutar. Faz tempo que queria senti-lo dessa forma, e agora eu consegui. Estou sentindo mais meu estômago e minha digestão, também. Eu gosto dos sons do meu corpo.
Mas... do que eu não posso mais me gabar? Duas coisas:
 Aconteceu essa semana, por conta de uma crise aguda de sinusite, passei dias com dores de cabeça bem forte. Vivi duas coisas que nunca tinha vivido nesses 21 anos: sentir dor de cabeça(eu sempre me gabei ao dizer que NUNCA senti esse tipo de dor e agora não posso mais fazer isso) e por conta dessa dor, não podia abraçar as pessoas, porque sentia pressão e doía mais. Agora que passou, acho que foi bom ter vivido... dou mais valor aos meus abraços e ao fato de “não sentir minha cabeça”.
Outra coisa que já não posso mais falar e me sentir a exceção do mundo: "Nunca fui assaltada". Hoje, tenho dois em minha ficha: um na Video Hoby, com direito a arma na cabeça; o segundo em Buenos Aires, depois de uma noite misturando tango com samba em uma milonga.
Acabaram meus anos de glória, mas me sinto mais pertencente ao mundo; por dois motivos ruins, eu sei.
É só desculpa que eu crio pra me consolar.

domingo, 20 de março de 2011

Carta à Palavra

"O ser humano é um ser espiritual, tendo uma experiência humana" Theilard Chardin

Que bom resumo que eu encontrei essa semana. Quando eu tiver preguiça de falar ou pensar sobre esses assuntos, vou usar essa frase.
E de uns tempos pra cá, está tão difícil usar as palavras para falar "do espírito", "do Amor", "do humano"... me dá preguiça e eu tenho logo a impressão de que não vou ser entendida ou não vou conseguir passar o que tem aqui dentro.
Mas, como eu não sou um Avatar e ainda vivo nesse corpo, me restam as palavras.



Palavra,

eu amo vc. Cada vez que te conheço mais, mais te amo. Cada uma que existe dentro de vc, é um mundo novo pra mim. E é tão bom te des-cobrir e re-des-cobrir...
Mas às vezes, vc é tão pouquinha... então, pra não te usar mal, através dessas minhas letras ou do som que sai de minha boca, eu prefiro te deixar em casa descansando. Aí, quando vc sair comigo, vc vai se entender mais com o que eu penso e sinto.
Por isso, te deixei em casa hoje. Além do mais, choveu... e eu não quis que vc se molhasse.
A minha voz e as minhas letras são só suas.

Só suas, Palavra.
Sempre que tem muita gente do meu lado, que eu conheço, eu fico meio tonta, não raciocino direito, começo um assunto com um, com outro e não termino. Fico nessa agonia, até me quietar com uma pessoa só. Pronto.
Foi difícil aceitar, mas eu assumo que eu não tenho recursos psíquicos pra lidar com muita gente que eu conheço ao mesmo tempo, de uma vez só. Eu realmente fico tonta de tanta coisa. É uma embolação danada. Me atrapalho toda. Mas hoje eu não aguentei e falei: "Uai, gente! Avê Maria, é coisa demais ao mesmo tempo!" e fiquei conversando com uma pessoa só. Resolvido. Me surpreendi comigo.
Pra mim, não existe coisa mais chata do que ter que cortar a fala de alguém ou ser cortada por uma pessoa, se o assunto for mais sério, claro. Fazer isso, pra mim, é uma agressão enorme... e ser tanto assim, me incomoda. É minha vontade de muito o tempo todo, que chega a pesar. Ser leve não é tão fácil.

"Cuidado com o que vc deseja!"

Não. Eu nunca acreditei em coincidência... mas também nunca tive tanta certeza do que ela é. E acho que coincidência, talvez nem seja a melhor palavra para dar nome à esses fatos, porque com ela, tudo perde qualquer sentido possível, tudo é por acaso. E fica tudo cinza. Eu prefiro descobrir o sentido que existe nelas.
Em uma época, vivia essas coisas e não associava à nenhum nome, depois usei "mistério" e "destino" ao mesmo tempo. Hoje estou sem nome. E quero ficar sem nome, pelo menos por agora. No lugar dele, eu simplesmente descrevo pra mim, ou pro outro, a experiência vivida. Aí, cabe ao outro querer dar um nome (o que é muito comum) ou só se espantar com o que eu digo.

Eu me espanto com as coisas da minha vida. Me espanto com as repetições, principalmente. Tudo que se repete, é porque ainda nao foi completamente vivido, e enquanto não for, vai continuar batendo na porta.
A questão é compreender o porque disso. E depois, o que fazer com isso. Ou, descobrir fazendo.
Bom... e aqui eu fico com meu álbum de coisas repetidas. Ele tem algumas páginas amareladas, de tanto eu folhear, tem outras que estão grudadas e eu não consigo abrir. Tem uma que as letras estão desbotadas e uma outra só tem rabisco. Algumas folhas eu já li e reli, e nada. Mas hoje eu quero ficar aqui, cheia de não entender nada.

Mas, qual é a relação da coincidência com o desejo? É que, quando eu quero uma coisa muito-muito aqui dentro, as coisas lá fora se movimentam. Aí, eu acho que é "coincidência" e esqueço do meu poder, por só desejar.

Agora lembro do que Mell me disse: "Cuidado com o que vc deseja, Vitória!".

Eu tomo cuidado.

sábado, 19 de março de 2011

Chegou.

"E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: "Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência - e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez - e tu com ela, poeirinha da poeira!". Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderías: "Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!" Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: "Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?" pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?"

F.N., em A Gaia Ciência




Faz um longo tempo que tento lembrar em qual livro de Nietzsche, ele fala sobre o Eterno Retorno. Desde a primeira fez que me deparei com essa idéia, ela não sai de minha cabeça. Procurava em meus livros e não achava. E ontem, depois de ter vivido mais um retorno... hoje eu encontrei. O que realmente importa, chega na hora certa. Nem um pôr-do-sol antes, nem três horas depois, com nenhum sorriso perdido, com nenhum adeus não dado. Tudo chega na hora certa quando se deseja profundamente. A consciência pode até pelejar contra o tempo, as veias podem saltar da pele, mas existe uma Pleni-consciência atemporal que me traz A Hora Certa.



http://www.youtube.com/watch?v=4sXGzFuoF8g&feature=related

quinta-feira, 10 de março de 2011

VIDA NO LIXO

O ser humano criou, como resultado de sua história, uma nova profissão, um novo ofício, um novo trabalho, uma nova forma de ganhar a vida: catador de lixo, ou melhor, catador de materiais recicláveis.
Na primeira vez que pensei sobre isso, me perguntei: como a gente foi capaz de oficializar e de criar uma profissão, de pessoas que vivem dos restos dos outros?
Depois de assistir ao "Lixo Extraordinário", pensei uma segunda coisa, que não anula a primeira: qualquer trabalho pode ser feito com dignidade e honestidade. Até sobreviver dos restos produzidos pelos outros.




                                                     

                                                                                    Sebastião Carlos dos Santos
                                                                                Mais um ponta de lança brasileiro


O documentário é bem produzido, real e forte. Como quase todo filme que eu assisto, chorei. Mas nesse, até meu pai chorou. Segundo ele, o melhor filme da vida dele. Para mim, foi mais um filme melhor do mundo. Muitos filmes são o melhor filme do mundo pra mim. Mas esse é o melhor de todos. E não é filme. É vida filmada, e vida vivida bem perto de mim. E 99 não é 100. E é bom ver Sebastião no Jô, explicando a diferença entre lixo e material reciclado.
É impressionante a beleza da sabedoria. E é até irônico quando ela desmonta qualquer castelo de intelectualidade.
Buenos Aires cheira a carne e tem o céu pequeno. Céu quadrado. Praças ao redor de mim onde me perco e me acho, homens que despertam desejos, passam por mim com suas barbas mal feitas, bem feitas, me lança olhares de doce e sabores. E de todos, de cada um e todos os cantos e gestos e passos... existe um. Um encontro, um instante que faz valer todos, que faz lembrar que trnsformo a existencia em puro sentimento e poesia.
- posso guardar seu cheiro?
Ela tocou a própria nuca e com as mãos em forma de concha, lhe entregou o seu cheiro. Os olhares se encontram e se fundem, naquele instante se deixa de saber quem se é e só há uma enorme consci~encia de estar viva. Ele respira profundamente seu cheiro e se deixa embriagar dela. E mais do que seu cheiro e mais do que seus poros e pele, mais do que toque, eles já tinham toda uma história de 3 minutos. O não dito comunicava, as palavras eram pronunciadas em pequenos gestos, não havia receio, ela se sentia amada por aquele estranho e ele estava entorpecido pela descoberta daquela mulher. Tudo de cada um era novo. Novo e antigo. Conhecidos caminhos sendo descobertos em cada canto do corpo. E esse mesmo corpo foi como porta para o que ela resolveu de puro desejo chamar de alma. Sentia que viver era desejar e a a alma só se faz viva quando desejante, falatosa, na busca do lançar-se para lá. E ela se lançava, sentia seu vazio se preenchendo, se vestindo de uma alegria rosada, cor de pôr-do-sol e mistério de noite.
E tudo se fez no agora. o maior presente que os dois tinham.
Os corpos se afastaram, os olhares se transbordaram e se recolheram, um último gesto, últmo beijo, as mãos deslizaram fluindo o derradeiro toque. As palavras foram "até logo", mas se sabia que era um adeus. Ela voltava para dentro, tentava secar o que fora inundado, precisava dar conta do turbilhão de seus pensamentos, novamente voltava para o seu vazio. A única verdade permanente é poder mover-se, lançar-se ao mundo e crar a si própria.


Wig e eu
(janeiro 2010 - B.A)

quarta-feira, 2 de março de 2011

http://www.youtube.com/watch?v=pw8USwDP-cg&feature=player_embedded#at=17

Do Amor

Quando vc sentir saudade, sente seu coração e lembra de que o meu, pulsa no mesmo ritmo que o seu.

Assim, estaremos sempre perto. Sempre dentro de nós.


Desde sempre,
até a matéria se transformar
e se con-fundir
com o
ar.
O que eu te dou de presente, é todo o meu presente, com tudo o que eu sou. Existe mais do que isso?

Se existir, os espaços vazios são preenchidos por Amor.

(Dezembro 2010)
O seu rosto foi desenhado por uma flor e seus movimentos foram dados pela dança do acorde mais bonito.


(Para minha amiga-flor)

nossa terra, nosso sal.

A vida parece ser uma grande viagem, com grandes encontros e também pode ser chamada de aventura. Depende da minha vontade. As pessoas e os lugares podem ser uma grande e (e)terna surpresa. Os cheiros, as cores e os olhares podem ter sempre cheirinho de novo. A passagem e o passaporte são a minha vontade de encontro com o outro. Eu desejo profundamente um greencard de gente. Passe livre para conhecer, da forma que nos for possível, cada um que atravessar meu caminho. E que cada um seja como um novo país, um novo território, um novo solo que piso. E que eu queira chegar perto de todas as ruas, que eu conheça as leis, os costumes e os tempeiros de cada um. Que eu não perca a vontade de estar. Que cada um seja como um país, mas se possível, que tenha nome, mas que não tenha fronteiras e se houver pedágio, que eu possa pagar com Amor.

Eu me arrepio, meus póros se abrem para a Vida, de meus olhos escorre àgua com sal.

A Vida agora me assusta com sua força.



Buenos Aires - Janeiro 2011

Qanto mais alto, menor fica.

Existe um tempo, que as palavras são vazias. Na verdade, são cheias de ausência de significado. São vasos sem flores. Eu coleciono momentos de palavras vazias. Elas ficam voando no ar, caem no chão, são chutadas, as letras se embaralham. A dor está em todas as três portas, o grito é mais alto em uma delas. Pai, mãe, filho, às vezes formam uma só palavra de letras embaralhadas. Nos corredores, o vício anda só.
Eu seguro a palavra com as duas mãos e entrego ao outro, ele olha e me entrega a sua interrogação.
Qual língua falamos?
Ontem eu engoli o Amor, mas não digeri bem... ele não passou do meu esôfago. Mas ontem, também ontem, eu engoli o choro e ele desceu todo, e em meu corpo o intestino dissolveu. Não sei se ele ainda está em minha carne ou se já virou outro tipo de matéria.
Hoje eu catei em meu quarto as palavras que usei ontem. Eu pisei em algumas, outras cairam atrás da minha cama e uma outra, eu joguei pela janela. Hoje pela manhã fiz um montinho delas aqui bem no centro do meu quarto. Aqui estão elas:

              família     choro        raiva

vontade      irmão                       saudade
força                                  fé                 unidade

cuidado

até quando                                    ?

passou        anos            sentir

                                                      Rompeu.


Agora seguro todas elas em minha mãos. Mas elas escorrem como água...
E só uma coisa me deixa feliz: poder olhar o medo, daqui de cima. E daqui, ele é bem pequeno. É um ponto vemelho.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

VAIDADE


Vá idade!!!

Aqui mermo não...
e se o meu corpo fosse uma casa e eu gritasse agora, qual parte teria mais eco?

eee ccc ooo

acho que aqui em meu peito, bem no centro...

pouco mais pro lado esquerdo.
E se a bateria acabar? Será que vai salvar?

O que me assuta

Hoje olhei pro céu e lembrei que quando tenho medo dele, ele me parece mais um teto e esqueço mesmo que ele não tem fim. Me defendo dele.
Aí, lembrei da minha liberdade... e tentei pensar em tudo que faço quando tento me esconder dela.
Cheguei à conclusão:
o infinito e a liberdade assustam.

Pensei mais e lembrei que apesar do medo, o que eu tenho de mais profundo é livre e infinito.

Me acalmei.

"O ser humano é estômago e sexo"

Come e come.

Come de novo. Come mais.
                             

 com me.
   me com (e).

Come
Com
Co
C


                                                                                                                                                    Ah!

Surto hedonista.

Ontem eu transformei prazer em verbo. Me senti dona da palavra. Dona mesmo.

Eu prazero. Tu prazeras. Ele prazera.
Nós prazeramos. Vós prazereis. Eles prazeram.

Criei para mim um novo ato: Prazerar.
Ele é muito pra ser só uma qualidade. Tinha que ser ação também.
Pronto. Agora está melhor.

É que eu estou me sentindo muito corpo. Eu sou toda envolvida por pele, que é toda cheia de poros, que são todos abertos pro mundo. Cada poro meu é uma abertura para esse mundo aqui. Outros mundos também, às vezes...

Meus poros abertos. 

Transpira.

Respira. 
certeza
é
que eu sou tez.
pele e poros.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

http://www.youtube.com/watch?v=kcVmGygKzVE&feature=related

Em um tempo eu acreditei em Shopenhauer.

Uma vez, me disseram que o bem é sempre qualitativamente maior do que o mal. Ou seja, uma coisa boa supera sempre todas as coisas más. Tem dias que eu teimo em acreditar nisso. Mas, faz muitos dias que isso persiste em me tomar toda... como uma verdade mesmo. Acreditar nisso me dá força. Não é um ideal distante, um otimismo barato, me parece mesmo um fato.
Não nego a existencia da dor, do sofrimento, da mediocridade, do egoísmo e da vaidade, mas é que aqui dentro de mim, as coisas do Amor sempre bateram com mais força. É como se o meu espaço para o negativo fosse um quartinho bem pequeno e o espaço do bem fosse toda a minha casa, e conscientemente é isso que eu desejo.
Sentir Deus em mim, sentir o meu Amor por minha mãe e por meu pai, conversar com meus amigos, sentir os meus cinco sentidos existindo plenamente em meu corpo, poder caminhar, mergulhar no mar, dançar, brincar com uma criança... tudo isso me toma com uma força e uma explosão de felicidade indescritível e eu digo: "Como é bom viver!". Sim! O positivo é qualitativamente maior. Concordo porque vivo isso, é nisso que eu acredito. Mas houve um tempo, que eu acreditei em Shopenhauer e o seu "´pessimismo" até que me fez bem, mas hoje não faz mais sentido.


Lembro de alguns casos de pessoas que passaram a vida com um sentimento ruim por outra pessoa, outros que viveram afundados nas drogas ou na depressão e mais um monte de história. E por um momento, um encontro com uma pessoa, um momento dominado pelo real Amor, toda aquela sombra fica para trás e tudo vira luz. Para mim, essa é a força qualitativa do bem. É por ela que eu vivo.
O bem me toma por completo e escorre em meus olhos, eu me arrepio e sorrio. É assim que ele existe em mim, desde que eu era pequenininha. Minha Vida pára eu eu sou só Amor. Poderia escrever vários momentos que eu senti isso. Um dia escrevo. O último, eu estava comendo um prato de feijão que minha amiga fez pra mim, depois de um mês só comendo alfajor e salada.