terça-feira, 14 de dezembro de 2010

efeito contrário

o medo da morte está me fazendo amar mais. ou melhor: estou mostrando mais o Amor que tenho aqui dentro.
eu coloco o meu Amor numa galeria de arte. levo pra brincar no quintal. coloco em uma caixa com fitas coloridas. escrevo na pele e no papel. canto no aparecer do sol. faço um jantar só pra ele.

estou mostrando. ainda mais.
qualquer dia pode ser o último. ou meu. ou seu.

qualquer dia pode ser toda a última chance. e a Vida não está de brincadeira, nem nunca esteve.

qualquer dia pode ser A Grande Estréia da minha peça de Amor. E eu lhe convido.

 E eu me convido agora e daqui a três minutos novamente.

amarcia

eu nao queria saber como, nao quero explicar, nao quero entender. eu só quero vida pura. coração exposto. palavras soltas no ar. quero respirar.
coisa ruim é fingir. coisa ruim é a dor. coisa ruim é ver e não enxergar. coisa ruim é não nos conhecer.
coisa ruim é não viver. passar... se arrastando, pelos cantos da vida.
tem minutos que a dor, aqui dói.
faz o que com ela?
espera passar, pra ver no que dá.
se dá Amor, se dá esquecimento, se vira cicatriz, se fica sozinha, se não dá em nada.
se arrastando, passando pelos cantos da vida.
dói. aqui. em nós. em casa dói.
suor, soluço.
abraça... me acalma.
está passando.
respira.
dorme, amanhã já passou.

hoje é amanhã. ainda não passou.

segura minha mão. deixa eu apertar até doer. sente meu sangue correndo. eu estou viva. sente que eu estou viva? consegue me sentir viva?
ainda não passou...
passa... passa... passa...

Mãe! Assopra que está ardendo! Mãe! eu tive um pesadelo! Mãe! Achei que vc tinha me esquecido! Mãe! Tô com saudade dele! Mãe! Cuida de mim...

Te amo, mãe. Te amo... de o Amor molhar meu rosto.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Uma vez... vai tudo.

Essa semana ia vender uma cama, um colchão e um armário para o filho de um conhecido. Minha mãe ligou para confirmar. Ele disse: "Ô Márcia, não vou precisar mais não. Meu filho morreu".
O filho dele de 18 anos estava voltando do trabalho, indo para a aula, a polícia chegou procurando "os bandidos" e "por engano" disparou três tiros na cabeça do menino que ia dormir em minha cama.
Minha mãe só soube chorar. Eu também. E dentro de cada lágrima eu tinha raiva, dor, pena, mais raiva... muita raiva. Depois de chorar em casa, tive que ir no shopping, fui no banheiro e chorei. Fui na casa de meu pai, chorei escondido no banheiro. De noite chorei em meu quarto. Mas o meu choro era para ter sido um grito. Eu queria gritar com o pai dele, queria dormir com a mãe, com a irmã dele. Eu queria fazer alguma coisa, mas não fiz nada. Só chorei. Eu fiz tudo o que podia? O que pode ser feito com essa família? Ainda não consigo falar muito sobre isso. As palavras são injustas com o que aconteceu.


Eu vi a morte. Ela apareceu em minha frente. Eu não pude ver seu rosto, ela era como uma sombra... e não era clara.
Eu comecei a pensar no que vai me tirar desse planeta, como quem procura num romance, qual é o vilão. O que vai me deixar sem corpo? Um tropeço, um cançer, uma dor, saudade ou "morte morrida"?
Mas eu só procuro saber, porque sei que nunca vou ter a resposta... só quando o dia chegar. Por isso, essa coragem toda de pensar nisso.
Do que esse vilão vai me levar? Não sei, mas de qualquer forma o agradeço pelos quase 22 anos sem me tirar daqui.
Como uma coisa pode ser tão forte ao ponto de me fazer deixar de existir? Logo eu, meu Deus! Será que pra aonde eu vou, tem música? Eu vou poder dançar? Vai ter música pra eu escutar?
Será, meu Deus, que eu vou poder abraçar esse menino que o Vilão me impediu de conhecer?

E lá, finalmente eu vou poder olhar para meu lado e dizer: "Agora vai ser pra sempre!"?

Mas quando ele não consegue me carregar, ele me engorda de Vida. Quando ele não consegue me levar, eu fico mais forte. E devo agradecer à Vida por todas as vezes que me desviou do caminho dele. Por todas as vezes que perdi o ônibus, que pisei no freio, que não fui à festa, que não atravessei a rua, que perdi o avião.

E a morte... ela mesma de cara limpa, eu acho que nunca vou ver. Quando seu rosto estiver se desembaçando em minha frente, eu vou passar para o outra lado... e viva eu vou estar... novamente.
Aí eu vou ter a certeza de que não era um Vilão, mas o Coringa da vida. Brincou comigo e eu acreditei.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

"Eu quero entrar nessa música, em cada acorde, cada melodia e em sua harmonia.
Meu Deus! Eu sou isso que eu escuto agora! Entra em cada canto meu!
É tão belo, tão belo!!!"     18.11.10

Escrevi isso na primeira vez que escutei "Stay or leave". Tinha chegado de uma festa... cheia de gente, de cores e um monte de som. Liguei o computador e escutei. Tudo parou e a escutei por mais de uma hora. De novo, de novo e de novo.
É tão bom que eu não consigo dizer o que sou eu e o que é ela, quando escuto. Me rendo. E é a coisa mais linda que já ouvi.
Tem coisa que a madrugada deixa mais bonita. Mas nesse caso não foi isso.




http://www.youtube.com/watch?v=-LiagSjiPXA
"O espaço entre
O que está errado ou certo
É onde eu estarei escondido, esperando por você"

"Coveiro,
Quando cavar minha cova
Você poderia deixá-la rasa
Para que eu possa sentir a chuva?"
 
"Você não gostaria de estar sentado no topo do mundo com suas pernas balançando?"

"Acordar nu bebendo café
Fazendo planos para mudar o mundo
Enquanto o mundo está mudando nós mesmos
Era bom, bom amor"


Dave
Matthews

respirAR

"Distraídos venceremos" P. Leminski

"O acaso vai nos proteger" - Sérgio Britto

"É só deixar pra lá que tudo se resolve" - Paulinho Boca de Cantor


E pensando nessas coisas ditas por eles três, conversando com uma amiga, chegamos à essa conclusão: Se vc fica em cima tudo se abafa. Se vc sai... tudo respira.
É bom deixar respirar.

Todos os poros respirando.

Amor pra quem, mesmo?


Sempre me pareceu que Amor que é Amor, não grita, não é espalhafatoso, não usa plumas, nem salto alto. Amor que é Amor, não manda carro de som com "palhaços-furta cor "que soltam fogos na porta do colégio, nem flores pra turma toda ver. Não entendo e nem quero entender a necessidade que alguns têm de mostrar para o outro o Amor, já que ele cabe tão bem nos que se amam... sem sobrar, nem faltar.  Quer dizer... entendo e acho meio estranho. Acho fraco também e quando me peguei fazendo isso, vi que por trás só existia insegurança. É a velha necessidade do olhar do outro. Se sentir invejado pra se sentir digno de alguma coisa boa. Essa lógica é triste. Tento fugir disso o máximo que posso, só pelo fato de ser perda de tempo. Afinal, eu quero viver a minha vida e não a vida que o outro acha que eu tenho.
Qualquer um consegue perceber o Amor que aparece com a decadente necessidade de aparecer e o Amor que aparece só pelo fato de ser Amor, de ser lindo e puro. E é tão bom quando vejo ou sinto esse Amor que aperece sem ambição... um casal de pré-adolescentes, dois amigos, uma menina que ama seu cachorro, que ama sua mãe ou que se ama. Uma senhora que ama a Vida, um senhor que ama dançar. Uma criança que ama o priminho, a mãe que ama o filho. João que ama Maria, que ama João, que ama Maria, que ama João...

Pois bem, pra mim Amor é calmo e forte e essas duas coisas nunca se chocam, mas andam de mãos dadas.



"Falais baixo se falais de Amor!"
Shakespeare


"Se tu me amas, ama-me baixinho.
Não o grites de cima dos telhados,
deixa em paz os passarinhos.
Deixa em paz a mim!

Se me queres, enfim,
tem de ser bem devagarinho, amada,
que a vida é breve,
e o amor mais breve ainda."

(Mario Quintana - Bilhete)

Dois Passos

Dave Matthews Band

"Diga, meu amor, eu vim para você com as melhores intenções
Você se deitou e me deu exatamente o que procurava.
...
Ei meu amor, você acredita que duraremos no mínimo 1000 anos
Ou mais se não fosse por isso:
Nossa carne e sangue
Isso amarra você e eu
Me limita

Iremos celebrar
Porque a vida é curta, mas doce com certeza
Nós estamos escalando de dois em dois
Para ter certeza que esses dias continuem
Essas coisas não podemos mudar

Ei meu amor, você vem para mim assim como vinho vem para essa boca
Cansada de água o tempo todo
Você sacia meu coração e você sacia minha mente

Iremos celebrar
Porque a vida é curta
Mas doce com certeza
Nós estamos escalando de dois em dois
Para ter certeza que esses dias continuem
Essas coisas não podemos mudar
Celebremos, você e eu, escalando de dois em dois,
Para ter certeza que esses dias continuem, coisas que não podemos mudar"

...

O que cabe num segundo?

Me parece cada vez mais, que a vida nunca é tão longe. O passado nunca está tão lá atrás e o futuro geralmente não demora muito... quando eu vejo: chegou!, quando acordo: passou!, e o passado está todo aqui em mim e quando eu penso, achando que passou, eu vejo: continua aqui dentro. E desse jeito, eu estou sempre perto do que eu fui e perto do que um dia eu achei que fosse ser.
Quando eu era criança de verdade, perguntei pra minha tia como eram os segundos e ela não respondeu. Então eu mostrei pra ela o que eram os segundos: "1,2,3,4,5.... é assim, tia?" E eu contei tão rápido que os números se embaralharam em minha boca, não sabia o que era 3, 4 ou 5 porque todos eles pareceram ser um número só, de tão pertinho que ficaram em minha voz. E então eu tive como resposta: "Sim! Assim são os segundos!". Pronto, eu soube o que era o tempo.
Passou dias, meses ou anos... não sei exatamente porque o tempo da criança é outro. Então se passou esse tempo e eu descobri que aquilo que eu achava que eram segundos, na verdade eram milésimos de segundos ou coisa menor. Depois dessa constatação, facilitada por um relógio de ponteiros, vi que os segundos são mais lentos do que eu pensava e aí o mundo ficou mais devagar e mais sem graça. Eu vi os ponteiros dando seus passos vagarosos e pensei suspresa: "Isso que é segundo? Que coisa mais sem graça" E todo meu corpinho de criança se encheu de uma monotonia sem tamanho. Eu achava que o mundo era mais rápido. Em um segundo dava pra fazer muito mais coisa do que eu imaginava: "Isso que eles dizem que é rápido demais, na verdade cabe muita coisa dentro".
Depois disso, toda vez que eu via um adulto com pressa, eu pensava: "Pra quê isso? Ele tem todo um segundo demorado e fica assim!" Passei a achar os adultos dramáticos, porque o meu segundo cabia um tanto de coisa e o deles não cabia nada... só pressa.


Esse foi o meu primeiro contato com o tempo.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Eu sempre tive um ideal de voz masculina e até semana passada quem se encaixava nesse perfil era Chris Cornell. Mas o posto de liderança caiu.
Estava procurando umas músicas no youtube, acabei encontrando Lee Dewyze. Ele foi o último vencedor do "Ídolos" Norte Americano e por causa dele todos os meus preconceitos contra programa de calouros e jurados foram extintos. Por causa de Lee, todos os programas de jurados e calouros de todo o planeta foram perdoados pela sua existência.

A sua voz é doce, leve, forte, calma e pesada. É muito viva. E mais inetressante é a capacidade dele de deixar músicas bonitas ainda mais bonitas, como "The Boxer",  "Hallelujah" e "Falling Slowly".

Eu já tinha essa voz em mim e ele só colocou pra fora.

E achando pouco ele ainda me aparece com um par de olhos azuis, transbordando timidez e autenticidade em cada música que canta. Olha por baixo, usa bem as palavras em cada entrevista e se move de um jeito de dar vontade de levar pra casa.

Voltei pra minha adolescência de Ricky Martin. É verdade Vitória, só falta o cartaz na porta do armário.

(Vale a pena escutar a sua versão de "Use somebody" do Kings of Leon´s)






Meus Graus Celsius

A minha relação com a temperatura do meu corpo sempre foi interessante. Quando eu era pequena, só via meu pai um fim de semana por mês e quando esse dia chegava eu ficava muda durante algumas horas e também sentia febre, um pouco diferente de Amélie Poulain, que o coração disparava. Quando fui para o primeiro dia de aula, tive febre. Quando beijei na boca de um menino pela primeira vez, senti febre no outro dia. Quando estou muito feliz, meu corpo fica quente. Quando fico cheia de vontade forte de alguma coisa eu fico quente. Quando estou feliz demais, fico quente.
Parece que meu sangue corre nas veias e artérias com o dobro de velocidade, como se quisesse me dar energia extra pra vida que escorre da alma.
Falando de sangue que corre, lembrei dessa música de Ronei Jorge que amo... vou deixar ela guardada aqui.
E forte é uma das palavras que mais gosto. Uso muito. Mais do que dor e Amor.

Que seja forte. Mesmo se der febre.


CIRCULE SEU SANGUE - Ronei Jorge e os ladrões de bicicleta

Quando você sair de casa,
do recinto de cena,
não tenha pena de mim.
Quando a noite cair de velha,
de besta, faminta...
Não saia se o sol sair.
Quando você me abraça forte,
muito forte, fortíssimo...
Não tenha pena de mim.
Não tenha pena de mim!

O Dia Feliz

Eu me sinto tão bem agora, mas tão bem que eu tenho certeza que todo o planeta sabe disso. Sabe sim, todo mundo sabe que eu sou só Felicidade agora. E é tanta que eu não ouso dizer o motivo. E está me enchendo por dentro ao ponto de eu querer ficar sozinha agora, só me sentindo. Se eu abrir a boca pra falar sobre ela, vou parecer uma boba e isso que sinto passa longe de bobagem.
Vindo pra casa eu sorri pra uma senhora e ela sorriu pra mim. Sem motivo. Assim como quem quer dividir um pedaço de bolo de tão gostoso que está, eu dividi minha felicidade com ela. E com seu sorriso doce ela me disse: "Felicidade!". E naquele momento, eu e ela, fomos a mesma coisa e agente não precisava de mais nada. Meu ônibus chegou e eu deixei ir, fiquei com preguiça de levantar a mão e minha vontade de estar do lado daquela que sorriu pra mim era grande. Fiquei. Estava viva do lado dela com essa minha Alegria e ela sabia disso.
Agora eu tento explicar pra mim o motivo de tanta coisa boa. Não sei. Nada aconteceu de diferente. Não conheci nenhum lugar novo, nenhuma pessoa nova, não recebi nenhuma notícia fora do comum. Mas acho que aí está a razão disso tudo: não precisar de uma razão pra me sentir assim.

Agora vou ficar só, sem palavras.

...

As minhas esquinas escondidas, minhas penumbras, minhas sombras, os meus cantos. O não dito, o não pensado, o escondido, o guardado. Porta entreaberta.
Gosto do incômodo. Da roupa pinicando, do frio na barriga, do corte na pele. Gosto do tropeço, gosto de apagar, da folha manchada. Gosto da lágrima enxugada. Gosto da gargalhada ridícula. Gosto de mãos suando, do corpo quente. Gosto do quase, do inacabado. Gosto do antes. Gosto do que se espera. Gosto do tudo o que quero, antes de ser lá fora. Gosto de não gostar do fim. Gosto da dor que me lembra a minha saúde.

Gosto do sussuro que grita e do grito calado.

O que entra sem pedir licença, murro no estômago. O que rasga. O que constrange, o que derruba.Gosto do que está vivo. Odeio meio termo. Que fique longe de mim o neutro e a apatia. Quero vida correndo com as palavras.
Gosto de destruir e construir. Gosto de reticências. Gosto de ...

domingo, 21 de novembro de 2010

Um Viva à Moreno!

Ontem, voltando das “coisas boas que acontecem de noite”, depois de bons encontros, lá vou eu com uma amiga e um amigo pra algum outro lugar. Não sei como, eu comecei a falar do Psicodrama. Resolvi aplicar em mim mesma uma das técnicas. Pronto. Gritei com toda minha força algumas palavras que queria ter dito uma semana atrás em um grupo. Soquei o banco de trás. Gritei mais. Falei um tanto de nome bonito.
Alívio!
Moreno é um gênio.  Eu gritei com tanta força, que toda minha raiva reprimida sumiu, do mesmo jeito que tinha aparecido.
 Milagre? Não. Psicodrama.


Dos que desistem.


 “E os que desistem? Conheço uma mulher que desistiu. E vive razoavelmente bem: o sistema que arranjou para viver é ocupar-se”  Clarice, em: Dies Irae.
Lendo isso me lembrei daquelas pessoas que só vivem ocupadas, “na correria”, no “vuco-vuco”, abafadas, com pressa, agoniadas, sem tempo. E percebi uma coisa: existe uma diferença entre viver e ocupar-se.
Eu prefiro a primeira opção.
Pois é... aí, faz um tempo, eu fui em um aniversário. Só conhecia a aniversariante, então pensei: “Maravilha! Me resta conhecer todo mundo!” Fui puxando conversa com um e com outro, até me fixar em uma menina, gente boa. E contanto um caso, ela soltou: “Eu não tenho tempo para nada!” E eu correspondi com meu típico comportamento que não passa por filtros:  “ Voce tem tempo para tudo, exceto para voce”.
Como tantas outras vezes, falei demais com gente desconhecida. A menina me olhou com uma cara espantada e soltou um “Oxe!”. Depois veio o nosso silencio preenchendo toda a sala. Eu não sabia o que dizer, continuei calada com minha frase ecoando por toda a casa e todo o universo. Sustentei o silêncio e ela soltou: “É verdade, vou pensar nisso”.



Caros Amigos

Em minha estante eu tenho amigos. Quando a vida me cansa ou eu canso dela eles são meus melhores companheiros. E tem dias que preciso dormir com eles do meu lado.
Ontem dormi com Clarice. Tem dias que durmo com Pierre Weil, outros com Reich. Mas o melhor na cama comigo é Fernando Pessoa. Ele é demais. Me abraça por dentro, não tem pretensão de me entender  e eu acabo me entendendo só de lê-lo.  Ás vezes ele cala e só contempla a vida, ás vezes está cego dos olhos e outras vezes diz que amar é “a eterna inocência”. Mas nada me acalenta tanto como dormir do seu lado. E hoje eu dormi com ele.
Lendo Clarice, inspirada em um conto (Futuro Improvável), eu  falei sobre o dia que nao vou ter mais corpo:

VAI TUDO
uma vez eu irei.
vai ser só uma.
Vai ser de uma só vez.
Vai tudo.

Sem soluço.
Sem metade.
Vai tudo.

Não fica parte,
E  à parte disso:
Vai tudo.

A dívida

A minha vontade de dizer que amo, de mostrar meu amor sempre me sabotam. Parece que sempre poderia ter mostrado mais: colocado em palavras, abraçado mais forte, ter tido mais cuidado. E assim, me parece que o Amor sempre me escapole nessa minha tentativa de expressá-lo. E olha que eu não sou dessas que tem dificuldade de dizer que ama.
Uma vez uma amiga me disse que não diz para o namorado que o ama, e me pareceu nao estar satisfeita com esse comportamento. E eu perguntei pra ela porque, ela não respondeu, mas disse: “é uma coisa boa, uma vontade de querer estar perto, de cuidar. Sinto saudade, sinto uma ligação tão forte...” E eu disse:  “Se isso não é amor, então o que é?” E ela riu. Foi como se ela quisesse ser respaldada por outra pessoa, pra poder dizer “eu amo você”.  Sabe quando a gente tem certeza de uma coisa, mas precisa da aprovação do outro, só como garantia? Pois é. Foi isso. Acho isso tão infantil... e muito engraçado. Me peguei fazendo isso esses dias. É a velha necessidade do olhar do outro. "Olha, se alguma coisa der errado eu não estou sozinha nessa. Vc também sabia..."

Insegurança, medo, desconfiança, mágoas... tudo isso faz a gente se podar do novo, se podar do outro. Mas pra mim o Amor é perto. Sempre foi perto e cada pessoa que eu encontro, é sempre uma nova chance de Amor em minha frente. Não sinto medo de amar e espero nunca sentir. Sei da dor e a sinto, mas quando me encho do Bem, não existe espaço pra mais nada.
Eu vivo por muitos motivos, mas o essencial é sempre o outro. O que seria de mim sem minha mãe, meu pai, meus irmãos, meus avos, meus tios, minhas tias, meus amigos? É tão bom saber que estou no mundo e tenho a possibilidade infinita a todo momento de encontrar pessoas, descobrir cada universo dela, dele, daquele, daquela.  A beleza do encontro é o meu maior vício. Ás vezes machuca muito, outras vezes angustia, outras me faz chorar de felicidade.  Mas pra mim é tudo Vida, mesmo quando ela é medíocre. E se eu estou nela, devo aceitar tudo como genuíno e válido, depois eu aprovo ou desaprovo ou faço o que sentir vontade. Mas tudo é valido e cheio de sentido.
E o sentido da minha vida é o outro, sempre. Mas sempre que acaba o dia e eu começo a pensar sobre ele e sempre vem a mesma sensação: eu poderia ter mostrado mais o meu Amor. Pro colega de sala, pro homem que me pediu um trocado, pra meu irmão, pra minha mãe, pra minha amiga. Tem dias que me parece que eu não correspondo a toda minha existência, que eu sou pouco, sou metade, sou quase, sou pingos e não tenho a força de uma queda d’água.
 É como se um dia de vida fosse pra mim a Grande Oportunidade do Amor viver. Mas aí vem todas as contingências e eu fico sempre em dívida com ele.
Esses dias encontrei a melhor definição do Amor, que já vi:
“Amar é desejar o crescimento do outro”.

Ponto.
Quando eu sou Eu, permito ao outro ser também. É impressionante a força de quando se é congruente com o que se passa aqui dentro. E faz tempo que já cheguei a conclusao de que nao ser Eu dá muito trabalho. E além disso: eu acabo atraindo pessoas que nao são de fato quem eu desejo do meu lado.
Nada melhor do que usar a palavra que se deseja, o abraço com a intensidade que quero.
Nada melhor do que chegar, me afastar, sair, entrar, falar e calar quando EU quero.
Saber qual o MEU desejo, me limpar daquelas vergonhas que nao sao minhas, daqueles medos que nao sao meus.

E esse Eu que falo, não se aproxima em nada do egoísmo, é o contrário disso: é ter consciência de mim e dos meus atos, para ser mais real com o outro.
E assim, 10 toneladas saíram dos meus ombros.
E assim, vc me viu como EU SOU.

E eu pude viver cada dia como uma Vida toda.

Cada dia da minha vida tem o peso de toda a minha vida. Cada açao, cada pensamento é tudo o que sou.
E em cada encontro, o milagre: ESTAMOS VIVOS! E podemos dizer: eu me sinto, eu te sinto!

Nesse instante como é bom viver!
d EU s

domingo, 7 de novembro de 2010

Esses seres que
insistem em existir.
Escuras, sujas
elas se camuflam com o chão,
buracos e ralos.
Persistem em existir.
Pisadas e massacradas:
coitadas.
Não passam de indesejáveis, incomodáveis
e insuportáveis seres.

São seres?

São objetos identificáveis:

são baratas.

socorro!





corro




.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Vinda de Deus

Quando o vento me toca, eu sinto e não vejo, eu penso: cadê ele?

Quando o vento venta, toca as folhas de uma árvore e eu ouço, eu penso: cadê ele?

E depois de pensar essas duas coisas, eu penso: está mais do que comprovado de ele está aqui. Mas eu continuo querendo vê-lo.

E isso tudo me lembra uma outra coisa... que eu prefiro não dar um nome nunca, não tenho a ambição de limitá-lo. Por isso chamo-o de O Grande Inominável.

Do muito de cada coisa ( I )

Hoje eu fui a tarde toda. Eu não fui eu.
Eu fui o cheiro de rua que o vento trouxe, fui o som dos passos, fui o som do ventilador, fui o silêncio. Fui a luz que clareava todo o quarto, a penumbra e a sua ausência. Eu não fui eu nessa tarde. Eu fui toda a tarde com cada coisa que existia nela, e ás vezes fui eu. Fui o som de cada canto de cada pássaro, fui aquela folha que caiu, fui o som do carro que passou e fui inclusive... eu. Fui o som dos talheres que batiam um no outro, fui as vozes que nasciam e morriam, e fui também mais uma coisa: eu.
Naquela tarde fui também eu.
Mas antes disso eu fui cada som que a tarde trouxe pra mim, e com cada um dele a sua própria Vida. E no final dela, bem agora, eu fui a vontade de ver no escuro. Eu não queria ligar a luz... fazer isso era como se estivesse invadindo o espaço do escuro e desrespeitando a ida do Sol.
Eu nao quis teimar. Fiquei com meus sons escuros.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

vamos conversar?

Sinal Fechado

Paulinho da Viola

– Olá! Como vai?
– Eu vou indo. E você, tudo bem?
– Tudo bem! Eu vou indo, correndo pegar meu lugar no futuro... E
você?
– Tudo bem! Eu vou indo, em busca de um sono tranqüilo...
Quem sabe?
– Quanto tempo!
– Pois é, quanto tempo!
– Me perdoe a pressa - é a alma dos nossos negócios!
– Qual, não tem de quê! Eu também só ando a cem!
– Quando é que você telefona? Precisamos nos ver por aí!
– Pra semana, prometo, talvez nos vejamos...Quem sabe?
– Quanto tempo!
– Pois é...quanto tempo!
– Tanta coisa que eu tinha a dizer, mas eu sumi na poeira das
ruas...
– Eu também tenho algo a dizer, mas me foge à lembrança!
– Por favor, telefone - Eu preciso beber alguma coisa,
rapidamente...
– Pra semana...
– O sinal...
– Eu procuro você...
– Vai abrir, vai abrir...
– Eu prometo, não esqueço, não esqueço...
– Por favor, não esqueça, não esqueça...
– Adeus!
– Adeus!
– Adeus!





 mas isso eu não quero pra minha Vida não... nem um pouquinho!
 então, repito:

"Eu odeio falar... mas eu AMO conversar"

sinal vermelho

acelera. pára. corre. pára. devagar. buracos. pessoas atravessam. espera. sinal abre. prédios. ruas. curvas. esquerda. direita. ré. buzina. sinal vermelho. sinal verde. pára. segue.

fumaça. carro grande como uma casa. carro velho. fusca. caminhonete. verde. vermelho. prata. preto. prata. preto.

caos. trânsito. vento no rosto.

cada um em seu caminho, dividindo o mesmo espaço e em lugares diferentes. é muita gente o tempo todo. passa. atravessa. corre. pula. grita. corre. corre. corre. bate.

mas hj vivi uma coisa nova: parei em um sinal vermelho e verde. as duas luzes estavam ligadas. podia seguir ou parar. eu parei. o vermelho pareceu mais forte.

porque eu segui o vermelho e não o verde? porque parar e nao continuar? na verdade, ele não estava mais forte não... isso é desculpa.

a vida é que ás vezes, não nos dá a opção do meio, da metade, do meio termo. e eu escolhi parar.

foi o melhor caminho.



faz alguns dias que comecei a dirigir sozinha. e depois de algumas saídas, percebi que ás vezes guiar um carro lembra como é tentar guiar minha vida.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Baby 

Caetano Veloso

"Você precisa saber da piscina, da 
Margarina, da Carolina, da gasolina
Você precisa saber de mim
Baby, baby, eu sei que é assim
Baby, baby, eu sei que é assim
Você precisa tomar um sorvete
Na lanchonete, andar com gente
Me ver de perto.
Ouvir aquela canção do Roberto
Baby, baby, há quanto tempo
Baby, baby, há quanto tempo
Você precisa aprender inglês
Precisa aprender o que eu sei
E o que eu não sei mais
E o que eu não sei mais
Não sei, comigo vai tudo azul Contigo vai tudo em paz
Vivemos na melhor cidade
Da América do Sul
Da América do Sul
Você precisa, você precisa
Não sei, leia na minha camisa
Baby, baby, I love you
Baby, baby, I love you"






Vestida de Universo - forma bonita de dizer: nua, pelada, com as vergonhas à mostra. Com nada, sem nada. Vestida de minha pele. Vestida de Universo.

domingo, 24 de outubro de 2010

"Nos seres profundos todas as experiências vividas permanecem por muito tempo"
                                                                                                       F. Nietzsche

Permanecem... e dessa maneira, tudo fica. Lá fora passa, aqui dentro tudo fica.

pegando no que sinto

Choro. Lágrima. Água salgada que escorre dos meus olhos.

Emoção materializada. Sente. Sai.

Quando choro, consigo pegar no que sinto. E vou pegando, tocando, molho meus dedos, sinto o gosto salgado. Fico extasiada. Me molha o que me doía, me molha o que não coube em meu sorriso.

Aqui dentro se encheu de tanto.

Pergunta secular

"O nascimento de uma alma é coisa demorada..."

Não existe frase que resuma tão bem a maior dúvida minha, e talvez de toda humanidade.
Como vim me parar aqui, desde quando que eu existo. Foi rápido, eu nascer? Foi aos poucos... ou não era e passei a ser? Assim: não era --- passei a ser. Ou: não era --- fui sendo?
Essa pergunta me toma um tempo danado. Outras também ocupam um espaço em mim muito grande. E eu fico me enchendo de perguntas milenares... até minha tampa. Mas é bom. E o mundo nunca fica óbvio, e nunca é resumido em uma revista científica e nas respostas que me são dadas. Eu quero mais do que elas, eu quero a minha resposta. E uma resposta pra cada dia. Ter uma só também é chato.

Outra coisa que me deixa curiosa: quando eu for só espírito eu vou sentir falta do meu corpo? Esse corpo aqui me traz muita coisa boa e eu acho que vou sentir falta dele, do contato, da contemplação, de parar e sentir tudo pulsando cheio de Vida. Mas lá pode ser melhor, como falam. 6 sentidos, 7 sentidos, 8 sentidos. Haja espírito.
Essa é outra coisa que eu acho maravilhosa: estar Viva. Eu não sei se eu escolhi, não sei como que vim parar aqui... mas quando vejo meu corpo cicatrizando, sem eu escolher isso, eu fico abismada. Tá, existem explicaçoes biológicas e até simples de entender esse processo. Mas eu não tô falando disso. O que me deixa paralisada é que sinto que parece que tem uma coisa que quer que eu viva. Primeiro: por eu existir e segundo: por eu cicatrizar. Eu vim, existo e além disso, ainda continuo. Impressionante. Nossa Senhora, demais isso. Eu continuo. Estou continuando. Estou sendo... sendo... sendo... Fui. Sou. Continuo sendo.
Isso me lembrou uma coisa que disse: "Eu sou para além do que as formigas e minhocas comem". E é isso mesmo. Isso é um fato, por motivos que  posso explicar e principalmente pelas coisas que me fazem calar.

Ver essa ferida em meu pé cicatrizar sem eu mandar é lindo demais. Isso pra mim é tão bonito que me dá mais vontade de viver, porque o meu corpo quer viver. Que coisa linda.

" Gracias a la Vida! "

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O não-dito

Não era sábado, nem domingo, tão pouco sexta-feira de lua cheia. Mas ela estava com vontade de sair, ser feliz com outros, beber sorrisos. A vontade era tanta, que esperar sair de casa já foi uma celebração. Vestiu o vestido mais colorido que tinha, pintou as unhas, esolheu o melhor cheiro. Não se olhou, no espelho não caberia ela.
Abriu a porta, o viu. Se encheu de Amor. O abraço de sempre. Nenhuma palavra e se alguma fosse dita, tudo aquilo ia ficar preso nela, como colocar o Amor numa jaula. Então, ficou quieta. Mas só por fora.
Lá dentro só ela sabia o tanto de coisa que borbulhava, feito água quente na panela. E aquilo era tão grande dentro dela, que tinha a certeza de ele estava percebendo.  Aquilo tudo era tão forte dentro dela, que ela tinha certeza de que não precisava fazer nada para alguma coisa acontecer. Ela sentia que todo o universo sabia do que pulsava lá dentro, então esperou que ele agisse.
Esperou.
E a noite foi embora como quem se despede só com o olhar e um leve movimento com a cabeça. Os dois sabiam. Ficaram com o não-dito.

Das pessoas

Tem gente que só de ouvir uma palavra ou ver a foto, eu já fico melhor.
As últimas que têm provocado isso em mim são Chico Science e Darcy Ribeiro.

Darcy, antropólogo, estudioso profundo da história do nosso país e da América Latina, intelectual e amoroso, otimista (no melhor sentido da palavra). Desenvolveu projetos e concretizou idéias na área da educação; viveu com os índios e sobre eles escreveu alguns livros, lutou pelo desenvolvimento da sua autonomia. Mas o que eu mais admiro nele é a leveza com que ele fala sobre o nosso país. Em qualquer entrevista sua, sempre há um sorriso e explicitamente uma vontade de que o nosso país seja melhor. Além disso tudo, ele foi capaz de falar a coisa mais linda que já ouvi : "Fracassei em tudo o que tentei na vida. Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui. Tentei salvar os índios, não consegui. Tentei fazer uma universidade séria e fracassei. Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei. Mas os fracassos são minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu"
Lembro da primeira vez que a ouvi. Chorei. Chorei de não sei o quê. Eu estava cheia de uma coisa que não sei dar nome. Não é esperança, não é felicidade, é muito mais do que isso. Até hoje não encontrei um nome e por isso é tão forte, tão vivo em mim.

VIVA DARCY!





Francisco de Assis França. De Recife, dos mangues, da lama, do maractu.
Ele é muito. No palco, é lindo. Seus movimentos expressam a sua vontade de Vida, de mudança, de revolução. São dez passos a cada segundo, mãos e braços se mexem numa dança cheia de graça. Inteiro na vontade de passar suas idéias e melodias que são reflexo da história de nosso país, da américa latina e de figuras que lutaram por um Humano melhor. E ele diz em seu monólogo ao pé do ouvido:

"Viva Zapata!
Viva Sandino!
Viva Zumbi
Antônio conselheiro!
Todos os panteras negras
Lampião sua imagem e semelhança
Eu tenho certeza eles também cantaram um dia"


Ele é uma manifestação ambulante e viva do processo de autonomia do ser humano. Não queria ser um líder. Era isso que ele queria:


"ÓI! ESCUTE! RELIGIÕES CONSTRÓEM TEMPLOS, CONSOMEM MENTES E MISÉRIAS ATRAVÉS DE SUAS MÚSICAS DE PALAVRAS IDIOTAS. VC QUE ESTÁ AÍ SENTADO, LEVANTE-SE! HÁ UM LÍDER DENTRO DE VC! GOVERNE-O! FAÇA-O FALAR!"


E eles me inspiram, me enchem de coisa boa.
Estiveram aqui, andando a passos largos. Com a utopia sendo o boi da carroça.

Estão aqui.

Procuro despir-me do que aprendi.
Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,
e raspar a tinta com que me pintaram os sentidos,
Desencaixotar minhas emoções verdadeiras.
Desembrulhar-me e ser eu, não Alberto Caeiro,
mas um animal humano que a natureza produziu.
Mas isso (triste de nós que trazemos a alma vestida!),
isso exige um estudo profundo,
uma aprendizagem de desaprender...
                                             (Alberto Caeiro)

Se eu estivesse em um programa sendo entrevistada e no final a entrevistadora perguntasse: "Vitória, uma frase, uma citação que vc goste", com toda minha certeza seria esse trecho de poema de Fernando Pessoa.
Me limpar do que me disseram que era viver, ser feliz ou ser triste. Me limpar dos desejos que não são meus. Daí, viver com um pouco mais de Verdade, um pouco mais de Realidade.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Homem ou homens?

Sempre me intrigou escutar "Isso não é humano!"

E depois de ouvir isso, me pergunto: o que é Ser Humano?

Em algum momento da nossa história, o ser humano se encaixou no perfil que temos de Ser Humano? Sim: em atitudes, pessoas isoladas, histórias de vida. No mundo existem vários exemplos que se encaixam nesse perfil e posso citar alguns: Darcy Ribeiro, Nelson Mandela, Chico Xavier, meu avô.

Tá. Mas são pessoas, atitudes. Nunca foi o Ser Humano, raça humana, homo sapiens


O que eu penso é que é humano tudo que é do Homem. O bom e o ruim. E essa expressão: Isso é/não é Humano, é na verdade uma verbalização de um ideal nosso, do que nós humanos desejamos do Homem.

Não foi fácil para eu entender isso. Pra todo mundo que eu já falei sobre isso, a reação sempre foi: "Essa conclusão que vc chegou é óbvia". Mas pra mim não foi. Foi importante.

Pelo menos menos temos um ideal de Homem. Essa frase é como um parâmetro nosso, um termômetro. Tem utilidade.

Só me arrependo do que não fiz?

"O que vc resiste, persiste" C. G. Jung

Ou seja... não dá para se esconder do que é latente, do que pulsa, mesmo que essa coisa esteja atrás da porta ou no fundo da gaveta. Isso eu já entendi faz tempo. Teoria é sempre linda.

Então...o certo é ceder para "a coisa" não persistir mais.

MAS, e se der errado, se "a coisa" não sair do jeito esperado? Que é que faz? Isso Jung não disse.

O que resta é tentar me convencer de que "eu só me arrependo do que não fiz".

Ô frazesinha boba. Nem todo erro é um grande aprendizado, nem todo erro traz de mãos dadas Aquela lição de moral dos contos de fada, nem todo erro é compreendido. Tem erro que a gente nem sabe que é erro ou que a gente nem sabe que o outro acha que foi um erro.

Por isso, me arrependo dos erros que sei e também dos que não conheço. Se podesse, voltaria atrás e faria diferente.

Tá. Se não tivesse errado, talvez não teria aprendido. Mas isso não me impede de me sentir arrependida.

Que necessidade é essa de estar bem com tudo sempre, até com os erros?

coisas do Amor Amoroso

vamos nos amar.
sem drama, dor ou rancor.
vamos viver de cuidado, carinho e colo.
sorte, suor e sabor.

cada dia, uma vida toda.
cada beijo, todo nosso corpo.
cada olhar, toda nossa alma.

flutuar. pisar já não é preciso.
respirar. meu ar, seu ar, nosso ar.

e de nós dois, um nascer.
florir nossa Vida, nossa casa.

e leve seremos...
forte e leve... nós seremos.
(08.09.10)

coisas do Amor Amoroso: me fazem confundir vontade com futuro.

Onde mais longe o Homem foi

- Mãe, o Homem foi na Lua?
- Foi filha?
- Foi.
- E ele voltou mais moço, não foi?
-Não mãe. Acho que voltou mais velho.
- E o que encontrou lá?
-Nada, mãe.
-Nada?
-Nada. Acho que areia.
-Areia?
-É. Areia.
                                    (Diálogo do filme "Casa de Areia")



Ás vezes é mais longe chegar aqui dentro.

Saudosismo

Resisti, resisti, resisti e estou aqui.
Meus caderninhos coloridos, perfumados e amorosos vão sentir falta de minhas mãos e de minhas letrinhas redondas. Isso aqui me faz perder muita coisa, mas ganhei tempo. Minhas idéias eram rápidas demais pro movimento de minha mão direita.
Não vou aposentar tudo o que tenho de material escolar, guardado em minhas caixinhas. Eles vão ficar sendo usados em dias mais calmos, com idéias com passos de formiguinha. Aqui os passos não são passos, não dá nem tempo de pisar no chão e nem de apagar com minhas borrachinhas com cheiro de morango.
Ó...
Não tem erro pra assoprar, não sai cheiro de tinta... não dorme do meu lado, não pego, não abraço, não molha quando choro... não viro a folha e nem rasgo de tanto apagar.
Sons do teclado, coisa que não pego.
Aqui o erro é apagado e não existe mais. Não tem nem marquinha pra lembrar que errei...
O grande amigo do erro é a memória. Se nao fosse ela, eu não estaria mais viva. Mas aqui ele é apagado e não deixa rastros... aí eu posso nem lembrar do que errei há dois segundos, já que minha memória não é das melhores.
Mas... a vantagem! Essa eu me lembro: tempo.
Tempo e praticidade. Coisa moderna... dois dos grandes deuses do meu tempo.
Mas não vou perder as coisas pequenas, não. Nunca.
É só questão de adaptação.

vassoura cheia de sentido

Dia de semana. Hoje mesmo. Estava no computador, lendo. O único som era o teclado e o vento cantando só pra mim. Escutei: "Vitória! Vc não quer casar não, é?", bradou Maricélia pra mim. "Mas como é que vc adivinhou"? "Ué! Eu passei a vassoura no seu pé! Quando passa vassoura no pé, a mulher não casa mais não! Oxe! Vc não quer casar não?".
Não. Não foi a pergunta que me assustou, porque a resposta eu tenho clara faz tempo. O susto foi o seguinte: ela perguntou se eu não queria casar, mas antes de perguntar já tinha o meu destino em suas mãos, junto com a vassoura.
Mas como que pode isso? Me pergunta uma coisa e depois já me dá a resposta, que era para ser minha? E o pior é ver o meu destino resumido á uma vassoura em meu pé!
Ok. Depois do susto que tomei por achar que ela tinha invadido minhas idéias inconscientes e conscientes, pensei: como se formam essas pequenas crenças, esses rituais do dia-nosso-de-cada-dia?
Não há relação de causalidade entre um fato e outro, também não consigo enxergar nenhum tipo de lógica, mesmo viajando muuuito.
Ok. Acho que devo recorrer á História, só ela pode ser capaz de explicar isso. Uma vez me explicaram a origem da idéia de que "comer manga não pode depois do banho", que veio nos tempos da escravidão aqui no Brasil, onde os senhores não queriam que os negros comessem as mangas que caíam do pé, então criaram essa mentirada para elas não serem comidas.
Se procurar, um sentido vou encontrar... na história ou em minha cabeça. E se não houver, acabo dando.
Ficar sem sentido ou achando que ela leu meus pensamentos é que não dava...
E essa coisa de dar sentido é um assunto que gosto muito.
Niilismo. Ele veio pra dizer que nada tem um sentido em si, mas de alguma forma acaba dando um sentido à tudo: ausência de sentido e consequentemente uma autonomia e responsabilidade nossa por tudo. Coitada das coisas-em-si.
Acho esse assunto de sentido pesado. Não queria acabar com ele.
Então... manga, amarelo, algodão, rosa, perfume, leve, gostoso.
Agora ficou mais leve. leve. leve.
leve com " l "minúsculo sempre. L pesa.