segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Eu sempre tive um ideal de voz masculina e até semana passada quem se encaixava nesse perfil era Chris Cornell. Mas o posto de liderança caiu.
Estava procurando umas músicas no youtube, acabei encontrando Lee Dewyze. Ele foi o último vencedor do "Ídolos" Norte Americano e por causa dele todos os meus preconceitos contra programa de calouros e jurados foram extintos. Por causa de Lee, todos os programas de jurados e calouros de todo o planeta foram perdoados pela sua existência.

A sua voz é doce, leve, forte, calma e pesada. É muito viva. E mais inetressante é a capacidade dele de deixar músicas bonitas ainda mais bonitas, como "The Boxer",  "Hallelujah" e "Falling Slowly".

Eu já tinha essa voz em mim e ele só colocou pra fora.

E achando pouco ele ainda me aparece com um par de olhos azuis, transbordando timidez e autenticidade em cada música que canta. Olha por baixo, usa bem as palavras em cada entrevista e se move de um jeito de dar vontade de levar pra casa.

Voltei pra minha adolescência de Ricky Martin. É verdade Vitória, só falta o cartaz na porta do armário.

(Vale a pena escutar a sua versão de "Use somebody" do Kings of Leon´s)






Meus Graus Celsius

A minha relação com a temperatura do meu corpo sempre foi interessante. Quando eu era pequena, só via meu pai um fim de semana por mês e quando esse dia chegava eu ficava muda durante algumas horas e também sentia febre, um pouco diferente de Amélie Poulain, que o coração disparava. Quando fui para o primeiro dia de aula, tive febre. Quando beijei na boca de um menino pela primeira vez, senti febre no outro dia. Quando estou muito feliz, meu corpo fica quente. Quando fico cheia de vontade forte de alguma coisa eu fico quente. Quando estou feliz demais, fico quente.
Parece que meu sangue corre nas veias e artérias com o dobro de velocidade, como se quisesse me dar energia extra pra vida que escorre da alma.
Falando de sangue que corre, lembrei dessa música de Ronei Jorge que amo... vou deixar ela guardada aqui.
E forte é uma das palavras que mais gosto. Uso muito. Mais do que dor e Amor.

Que seja forte. Mesmo se der febre.


CIRCULE SEU SANGUE - Ronei Jorge e os ladrões de bicicleta

Quando você sair de casa,
do recinto de cena,
não tenha pena de mim.
Quando a noite cair de velha,
de besta, faminta...
Não saia se o sol sair.
Quando você me abraça forte,
muito forte, fortíssimo...
Não tenha pena de mim.
Não tenha pena de mim!

O Dia Feliz

Eu me sinto tão bem agora, mas tão bem que eu tenho certeza que todo o planeta sabe disso. Sabe sim, todo mundo sabe que eu sou só Felicidade agora. E é tanta que eu não ouso dizer o motivo. E está me enchendo por dentro ao ponto de eu querer ficar sozinha agora, só me sentindo. Se eu abrir a boca pra falar sobre ela, vou parecer uma boba e isso que sinto passa longe de bobagem.
Vindo pra casa eu sorri pra uma senhora e ela sorriu pra mim. Sem motivo. Assim como quem quer dividir um pedaço de bolo de tão gostoso que está, eu dividi minha felicidade com ela. E com seu sorriso doce ela me disse: "Felicidade!". E naquele momento, eu e ela, fomos a mesma coisa e agente não precisava de mais nada. Meu ônibus chegou e eu deixei ir, fiquei com preguiça de levantar a mão e minha vontade de estar do lado daquela que sorriu pra mim era grande. Fiquei. Estava viva do lado dela com essa minha Alegria e ela sabia disso.
Agora eu tento explicar pra mim o motivo de tanta coisa boa. Não sei. Nada aconteceu de diferente. Não conheci nenhum lugar novo, nenhuma pessoa nova, não recebi nenhuma notícia fora do comum. Mas acho que aí está a razão disso tudo: não precisar de uma razão pra me sentir assim.

Agora vou ficar só, sem palavras.

...

As minhas esquinas escondidas, minhas penumbras, minhas sombras, os meus cantos. O não dito, o não pensado, o escondido, o guardado. Porta entreaberta.
Gosto do incômodo. Da roupa pinicando, do frio na barriga, do corte na pele. Gosto do tropeço, gosto de apagar, da folha manchada. Gosto da lágrima enxugada. Gosto da gargalhada ridícula. Gosto de mãos suando, do corpo quente. Gosto do quase, do inacabado. Gosto do antes. Gosto do que se espera. Gosto do tudo o que quero, antes de ser lá fora. Gosto de não gostar do fim. Gosto da dor que me lembra a minha saúde.

Gosto do sussuro que grita e do grito calado.

O que entra sem pedir licença, murro no estômago. O que rasga. O que constrange, o que derruba.Gosto do que está vivo. Odeio meio termo. Que fique longe de mim o neutro e a apatia. Quero vida correndo com as palavras.
Gosto de destruir e construir. Gosto de reticências. Gosto de ...

domingo, 21 de novembro de 2010

Um Viva à Moreno!

Ontem, voltando das “coisas boas que acontecem de noite”, depois de bons encontros, lá vou eu com uma amiga e um amigo pra algum outro lugar. Não sei como, eu comecei a falar do Psicodrama. Resolvi aplicar em mim mesma uma das técnicas. Pronto. Gritei com toda minha força algumas palavras que queria ter dito uma semana atrás em um grupo. Soquei o banco de trás. Gritei mais. Falei um tanto de nome bonito.
Alívio!
Moreno é um gênio.  Eu gritei com tanta força, que toda minha raiva reprimida sumiu, do mesmo jeito que tinha aparecido.
 Milagre? Não. Psicodrama.


Dos que desistem.


 “E os que desistem? Conheço uma mulher que desistiu. E vive razoavelmente bem: o sistema que arranjou para viver é ocupar-se”  Clarice, em: Dies Irae.
Lendo isso me lembrei daquelas pessoas que só vivem ocupadas, “na correria”, no “vuco-vuco”, abafadas, com pressa, agoniadas, sem tempo. E percebi uma coisa: existe uma diferença entre viver e ocupar-se.
Eu prefiro a primeira opção.
Pois é... aí, faz um tempo, eu fui em um aniversário. Só conhecia a aniversariante, então pensei: “Maravilha! Me resta conhecer todo mundo!” Fui puxando conversa com um e com outro, até me fixar em uma menina, gente boa. E contanto um caso, ela soltou: “Eu não tenho tempo para nada!” E eu correspondi com meu típico comportamento que não passa por filtros:  “ Voce tem tempo para tudo, exceto para voce”.
Como tantas outras vezes, falei demais com gente desconhecida. A menina me olhou com uma cara espantada e soltou um “Oxe!”. Depois veio o nosso silencio preenchendo toda a sala. Eu não sabia o que dizer, continuei calada com minha frase ecoando por toda a casa e todo o universo. Sustentei o silêncio e ela soltou: “É verdade, vou pensar nisso”.



Caros Amigos

Em minha estante eu tenho amigos. Quando a vida me cansa ou eu canso dela eles são meus melhores companheiros. E tem dias que preciso dormir com eles do meu lado.
Ontem dormi com Clarice. Tem dias que durmo com Pierre Weil, outros com Reich. Mas o melhor na cama comigo é Fernando Pessoa. Ele é demais. Me abraça por dentro, não tem pretensão de me entender  e eu acabo me entendendo só de lê-lo.  Ás vezes ele cala e só contempla a vida, ás vezes está cego dos olhos e outras vezes diz que amar é “a eterna inocência”. Mas nada me acalenta tanto como dormir do seu lado. E hoje eu dormi com ele.
Lendo Clarice, inspirada em um conto (Futuro Improvável), eu  falei sobre o dia que nao vou ter mais corpo:

VAI TUDO
uma vez eu irei.
vai ser só uma.
Vai ser de uma só vez.
Vai tudo.

Sem soluço.
Sem metade.
Vai tudo.

Não fica parte,
E  à parte disso:
Vai tudo.

A dívida

A minha vontade de dizer que amo, de mostrar meu amor sempre me sabotam. Parece que sempre poderia ter mostrado mais: colocado em palavras, abraçado mais forte, ter tido mais cuidado. E assim, me parece que o Amor sempre me escapole nessa minha tentativa de expressá-lo. E olha que eu não sou dessas que tem dificuldade de dizer que ama.
Uma vez uma amiga me disse que não diz para o namorado que o ama, e me pareceu nao estar satisfeita com esse comportamento. E eu perguntei pra ela porque, ela não respondeu, mas disse: “é uma coisa boa, uma vontade de querer estar perto, de cuidar. Sinto saudade, sinto uma ligação tão forte...” E eu disse:  “Se isso não é amor, então o que é?” E ela riu. Foi como se ela quisesse ser respaldada por outra pessoa, pra poder dizer “eu amo você”.  Sabe quando a gente tem certeza de uma coisa, mas precisa da aprovação do outro, só como garantia? Pois é. Foi isso. Acho isso tão infantil... e muito engraçado. Me peguei fazendo isso esses dias. É a velha necessidade do olhar do outro. "Olha, se alguma coisa der errado eu não estou sozinha nessa. Vc também sabia..."

Insegurança, medo, desconfiança, mágoas... tudo isso faz a gente se podar do novo, se podar do outro. Mas pra mim o Amor é perto. Sempre foi perto e cada pessoa que eu encontro, é sempre uma nova chance de Amor em minha frente. Não sinto medo de amar e espero nunca sentir. Sei da dor e a sinto, mas quando me encho do Bem, não existe espaço pra mais nada.
Eu vivo por muitos motivos, mas o essencial é sempre o outro. O que seria de mim sem minha mãe, meu pai, meus irmãos, meus avos, meus tios, minhas tias, meus amigos? É tão bom saber que estou no mundo e tenho a possibilidade infinita a todo momento de encontrar pessoas, descobrir cada universo dela, dele, daquele, daquela.  A beleza do encontro é o meu maior vício. Ás vezes machuca muito, outras vezes angustia, outras me faz chorar de felicidade.  Mas pra mim é tudo Vida, mesmo quando ela é medíocre. E se eu estou nela, devo aceitar tudo como genuíno e válido, depois eu aprovo ou desaprovo ou faço o que sentir vontade. Mas tudo é valido e cheio de sentido.
E o sentido da minha vida é o outro, sempre. Mas sempre que acaba o dia e eu começo a pensar sobre ele e sempre vem a mesma sensação: eu poderia ter mostrado mais o meu Amor. Pro colega de sala, pro homem que me pediu um trocado, pra meu irmão, pra minha mãe, pra minha amiga. Tem dias que me parece que eu não correspondo a toda minha existência, que eu sou pouco, sou metade, sou quase, sou pingos e não tenho a força de uma queda d’água.
 É como se um dia de vida fosse pra mim a Grande Oportunidade do Amor viver. Mas aí vem todas as contingências e eu fico sempre em dívida com ele.
Esses dias encontrei a melhor definição do Amor, que já vi:
“Amar é desejar o crescimento do outro”.

Ponto.
Quando eu sou Eu, permito ao outro ser também. É impressionante a força de quando se é congruente com o que se passa aqui dentro. E faz tempo que já cheguei a conclusao de que nao ser Eu dá muito trabalho. E além disso: eu acabo atraindo pessoas que nao são de fato quem eu desejo do meu lado.
Nada melhor do que usar a palavra que se deseja, o abraço com a intensidade que quero.
Nada melhor do que chegar, me afastar, sair, entrar, falar e calar quando EU quero.
Saber qual o MEU desejo, me limpar daquelas vergonhas que nao sao minhas, daqueles medos que nao sao meus.

E esse Eu que falo, não se aproxima em nada do egoísmo, é o contrário disso: é ter consciência de mim e dos meus atos, para ser mais real com o outro.
E assim, 10 toneladas saíram dos meus ombros.
E assim, vc me viu como EU SOU.

E eu pude viver cada dia como uma Vida toda.

Cada dia da minha vida tem o peso de toda a minha vida. Cada açao, cada pensamento é tudo o que sou.
E em cada encontro, o milagre: ESTAMOS VIVOS! E podemos dizer: eu me sinto, eu te sinto!

Nesse instante como é bom viver!
d EU s

domingo, 7 de novembro de 2010

Esses seres que
insistem em existir.
Escuras, sujas
elas se camuflam com o chão,
buracos e ralos.
Persistem em existir.
Pisadas e massacradas:
coitadas.
Não passam de indesejáveis, incomodáveis
e insuportáveis seres.

São seres?

São objetos identificáveis:

são baratas.

socorro!





corro




.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Vinda de Deus

Quando o vento me toca, eu sinto e não vejo, eu penso: cadê ele?

Quando o vento venta, toca as folhas de uma árvore e eu ouço, eu penso: cadê ele?

E depois de pensar essas duas coisas, eu penso: está mais do que comprovado de ele está aqui. Mas eu continuo querendo vê-lo.

E isso tudo me lembra uma outra coisa... que eu prefiro não dar um nome nunca, não tenho a ambição de limitá-lo. Por isso chamo-o de O Grande Inominável.

Do muito de cada coisa ( I )

Hoje eu fui a tarde toda. Eu não fui eu.
Eu fui o cheiro de rua que o vento trouxe, fui o som dos passos, fui o som do ventilador, fui o silêncio. Fui a luz que clareava todo o quarto, a penumbra e a sua ausência. Eu não fui eu nessa tarde. Eu fui toda a tarde com cada coisa que existia nela, e ás vezes fui eu. Fui o som de cada canto de cada pássaro, fui aquela folha que caiu, fui o som do carro que passou e fui inclusive... eu. Fui o som dos talheres que batiam um no outro, fui as vozes que nasciam e morriam, e fui também mais uma coisa: eu.
Naquela tarde fui também eu.
Mas antes disso eu fui cada som que a tarde trouxe pra mim, e com cada um dele a sua própria Vida. E no final dela, bem agora, eu fui a vontade de ver no escuro. Eu não queria ligar a luz... fazer isso era como se estivesse invadindo o espaço do escuro e desrespeitando a ida do Sol.
Eu nao quis teimar. Fiquei com meus sons escuros.