sábado, 30 de abril de 2011

"Serás doce e humilde de coração, nunca medindo tua mansidão e brandura" - O Evangelho Segundo o Espiritismo


Faz alguns anos que essa frase me segue e eu a sigo. Eu sempre tenho a impressão de que ela é possível. Ela me remete as palavras equilíbrio e sabedoria. Eu desejo acreditar que, mesmo em situações aversivas, é possível não ser também aversivo e assim o que não é positivo, é neutralizado pelo positivo.
Ela me ajuda a caminhar para cima e para frente.

Obrigada, meu Deus, por mais um dia de Vida.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Cai chuva! Deixa o mundo escorrendo, escoa pela terra, volta pro céu e chove mais.
Cai chuva! Chora suas lágrimas de Deus, molha e limpa a dor do Homem.

Chove chuva! Molha meus cabelos, roupa, pele.
Chove chuva! Se confunde com meu suor.

Vem chuva, amansa o sal que escorre dos meus olhos.
Vem chuva, me espalha com vc. Deixa eu ser, também, vc.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Dentro

O sol está tímido essa manhã e as folhas dançam com o vento calmo, que agora passa.
Meu homem, eu estou aqui.
Meu corpo está mais quente do que de costume e eu deixo a água fria me tocar aos poucos.
E eu estou aqui, homem.
Os meus dedos estão enrugados e eu continuo aqui.
Aqui, homem.
Mais uma vez, eu arrumo minha estante, espero o bolo no forno.
E eu continuo aqui, homem.
Começou a chover, os bichinhos se escondem e eu sinto frio. Em silêncio, eu falo: "Seja paciente...".  Eu cato meus rabiscos pelo chão, revejo fotografias.
Eu estou aqui, homem.
Me vejo relendo o livro que vc me deu... é a forma de te sentir mais aqui.
E eu continuo aqui, homem.
As cigarras gritam, eu tapo meus ouvidos, elas insistem. O sol se despede. Eu não quero me despedir.
Eu me deito, vou dormir, homem.

Nós estamos aqui.
Dentro.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Peito leve

Helena carregava o universo em seu peito, em uma pedra-pingente que sua mãe lhe presenteou. E sabendo disso, eu lhe perguntei se carregar uma coisa tão grande, era pesado. Ela me disse, que quando se carrega "aqui dentro" o universo passa a ter o peso do nosso próprio corpo, se confunde com nossos átomos-matéria-alma, e pesar fica muito difícil. Eu entendi o que ela me disse, mas uma parte minha não aceitou aquela resposta. Como que uma coisa-sem-fim, cheia de Nebulosas, inícios e fins, estrelas, planetas, buracos negros, não-matérias poderiam caber nela, menina Helena? Tão pequena, tão menina. Então ela me disse que nunca tinha estudado, nunca tinha visto um número, nem uma balança, por isso não sabia o que era distância, nem peso.
Por não conhecer o limite dos pesos e das distâncias, Helena simplesmente carregava. Sem saber como e nem porquê, ela simplesmente achava bonito aquele céu pendurado em seu peito.

Eu quase a desviei do seu caminho, lhe enchendo de perguntas e hesitações. Mas, por não entender tantas palavras novas, ela continuou caminhando, com seu universo no peito, sem peso e sem distância e estranhando todos os olhares assustados de quem lhe vê.
E eu voltei. Mas antes de ir, ela segurou meu braço e me perguntou feliz, só por me oferecer: "Quer um pedaço do meu céu?"



(Sobre minha amiga, que tem o coração de céu)

Do que o limite é capaz

Desde pequena eu tenho essa mania de antever o meu enterro. Não existe nada de macabro, triste ou doloroso nisso. Foi uma estratégia infantil que criei para falar coisas que não consigo e só conseguiria se soubesse que iria morrer. E isso sempre acaba gerando uma cartarse.
Hoje de manhã eu tive mais um desses surtos. Só que foi diferente. Eu falei tudo o que queria para todas as pessoas. Não foram duas, ou três como de costume. Foram todas, absolutamente todas. E com isso, veio muito choro. E um alívio depois. E mais um pouco depois, a coragem pra poder falar tudo isso aos poucos, enquanto ainda estou aqui.
Eu acho impressionante o poder das situações extremas. A psicologia diz que esses momentos geram uma capacidade de elaboração mais rápida. Eu concordo.
O ruim é quando se espera esses momentos para se ter coragem de agir, de mudar e disso eu não gosto.
Esperar morrer, esperar adoecer, esperar, esperar, esperar qualquer tipo de limite para agir. Isso é fraco, é medíocre.
E em nosso país, os três poderes estão craques nisso e pior: agem de forma punitiva e não educativa.
Já descambei pra outro assunto.
Depois eu falo mais sobre essa relação entre limites e mudança.
Meu limite de fome chegou.

Os maiores tesouros, estão em segredo/ O não-dito

O Grande Amor, meu maior sonho, meu maior prazer. Minhas manias. Meus vícios.
Meu melhor beijo, meu abraço mais apertado. Meu pecado.
Quase sempre, só eu sei. Meus tesouros são só meus e vivem aqui, formando teias, empoeirados, quando não mexo neles. Alguns estão amarelados. Mas outros, eu futuco todos os dias e aí, algumas pessoas têm acesso à eles. Mas meus maiores tesouros, estão em segredo.
Eu os guardo e nunca os verbalizo. Os apresento de todas as formas, menos com a palavra, porque para eles, todas essas letras são como montinhos de pó entulhados no canto da porta. E eles vêm pro mundo quando querem, são arredios. Se mostram com minhas lágrimas, com meus pulos, com meu choro, com minha vontade de ficar mais, com meu sangue correndo mais rápido.
Os meus tesouros, são o que eu tenho de mais íntimo, é a minha parte mais funda e a mais livre. São o que eu tenho de mais insano e mais lúcido.
Os meus tesouros não são guardados em um baú em um canto de sala, eles não são arrumados. Eles vivem em meus pés, mãos e coração e me fazem levantar da cama todos os dias pra tentar ordená-los. São como brinquedos de criança que insistem em não se arrumar, se achando donos da casa.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Hoje, eu escolho.

Hoje, o dia tem o peso de uma pétala. O peso das coisas que triscam, encostam meio que escorregando pela pele. Hoje as cores são claras, como quando o sol dá seu último adeus. Hoje é dia de comer de mão, brincar com Gabriel e desenhar com tintas e dedos.
Hoje é dia de abraçar e só abraçar. Acolher e cuidar.
Hoje é dia de acordes com cheiro de jasmim, que eu guardo em meu peito. Hoje minha voz canta baixo, e só aqui perto, bem pertinho vc pode me escutar... sem esforço, só com a vontade de chegar, encostar.
Hoje eu não seguro, eu deixo escapolir pra pegar no chão e lá ficar, com preguiça de levantar.
O ritmo dos meus passos lembra o de uma senhora de fios brancos, os meus olhos vêem as coisas daqui de baixo, como uma criança e tudo parece tão grande...
Hoje é dia de Manoel de Barros e suas coisas pequenas, é dia de Tiê, Beethoven e sua Moonlight Sonata


Hoje é dia bom. Eu escolhi ser assim. Eu escolhi, hoje, amar.

domingo, 10 de abril de 2011

Tenho sonhado muito com o fim do mundo. Esse é meu maior medo infantil, e ele tem voltado quando durmo. Ele se iniciou com meu contato com uma bíblia infantil, que na parte do apocalipse, existiam páginas e páginas com fogo e seres com expressões assustadoras. Era muito vermelho. Era feio e forte.
E quando acordo, tantas vezes me deparo com esse medo. Morte, mediocridade, vaidade, violência, exploração, alienação, amputação, injustiça.
Não é pessimismo. É medo, e ele deixa minhas lentes sujas de fumaça... e tudo fica turvo e confuso.
eu não quero que o véu se descubra. eu quero não saber, quero a não-certeza. quero me espantar com o infinito e todas as suas possibilidades. quero continuar me assustando com o novo.
eu quero não entender. quero intuir e seguir. e voltar e desfazer. refazer o nó. desfaze-lo outra vez. e mais uma, e mais uma... apertar e folgar. folgar, deixar solto. prender.

Não tem fim. Não tem fim. Não tem fim.
A TV dentro da TV. O espelho dentro do espelho.
Não tem fim...

A evolução não tem fim. E ela é pra cima.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Os meus laços

Logo depois que eu conheço uma pessoa, eu a entrego uma fita e a pessoa segura em uma ponta e eu seguro na outra. Assim, nós fazemos um laço, com quatro mãos. Ele pode ser bem dado, bem forte ou frouxo. E com o passar dos dias, com a chuva e o vento esse laço pode se desfazer... ou não. Depende de como eu e o outro fizemos.
E a fita, a gente que escolhe. De seda, de papel, de algodão. Algumas duram mais e outras duram menos.

Assim são meus laços. Eles são moldados, desenhados com quatro mãos.

terça-feira, 5 de abril de 2011

O que a gente compra

Nós, mulheres, arrancamos da gente o que nos serviu durante milênios: pelos e cutículas.
Hoje, na selva de pedra, eles não servem pra mais nada. Andar por aí com essas partes do corpo, é sinônimo de desleixo e até falta de higiene.

Não temos mais o costume de cavar buraco na terra, nem desfacelar carne fresca de bicho. Então, por ser desnecessária para uma maior proteção de nossos dedos, ela acabou gerando emprego e uma nova classe de trabalhadoras: as manicures. E essas peles são arrancadas de nossos dedos, levando às vezes, um pouquinho de sangue. Mas nada além do que uma mulher pode aguentar para ficar bela. Eu, durante muito tempo fiz a unha em salão, depois passei a não ver mais sentido em tirar parte de minha pele que insiste em renascer e além disso, meus dedos ficavam frágeis. Hoje eu só faço colori-las. Gosto de cores e se podesse até minha pele seria colorida. Amo Frida, amo Lila. Como não sou índia e não pinto minha pele, deposito todas as cores nas unhas e só nelas, já que maquiagem também não é meu melhor ramo. E o salão de beleza, foi aposentado de minha vida, já que ele só existia para a extinção de minhas cutículas. Ahh, e ainda tem gente XY, que acha pouco existir e ainda faz unha.

Quanto aos pelos, no ser humano, eles servem para nos proteger do sol e diminuir o contato entre a pele nos cantos do nosso corpo. Mas mesmo assim, a gente arranca. Uns mais, outros menos. Uns bem mais, outros bem menos. E por falar nisso, que coisa triste é essa nova tendência desses seres XY tirar os fios da sombrancelha e axila. Avê Maria, é feio demais de ver.

(Axila é uma palavra feia. Mas dentre as outras opções eu só consigo falar essa. Eu tenho aversão à muitas palavras e essa é uma).

Essa coisa de arrancar, limpar e desinfectar, está demais hoje. É uma super higienização de tudo e tem lugar que meus olhos ardem de tão branco que tudo é, e eu espirro de tanto cheirinho. É porque ninguém quer mais ar puro. Quer ar com cheiro de flores do campo, jasmim, alecrim, tudo misturado. É cheiro no banheiro, cheiro na sala, cheiro que liga quando a gente passa. Semana passada peguei o daqui da sala que tinha vida própria e joguei fora. Toda vez que eu passava o bicho soltava um cheiro e ainda fazia um som. Era cada susto...

É isso. Senti uma vontade enooorme de falar sobre essas duas classes excluídas e desgarradas de nossa terra. E sobre essa coisa de comprar a poluição do nosso ar.

Pra eu me caber...

Eu me crio em outra.


Eu amo meu nome. Mas amo também Consuelo. E foi com esse batismo que eu criei esse alter-ego, que me sustenta quando em mim, eu não caibo. E também sempre quando eu me acho pouco pro que eu quero ser, eu viro Consuelo. Ela me ajuda.

Hoje eu sou Consuelo. E só ela. Mudei de casa.
Estou cheia dessa minha vontade que me projeta e me lança pra um futuro que eu não enxergo. Estou cheia de vontade de mudança. De utopia mesmo, que é essa coisa me me move, me faz andar e acordar todos os dias. Se não fose por ela, eu não sentiria o calor do sol em minha pele e qualquer desentendimento me jogaria no chão.


Uhhh!

E hoje eu sou Consuelo, porque só eu não tô cabendo em mim.

Agora vou escutar Science.

É hoje, que eu não durmo.

domingo, 3 de abril de 2011

Em meu terreno... há liberdade.

É sempre bom lembrar de que antes de se colocar uma coisa no mundo, essa coisa é sua.Antes de ser lá fora, a sua casa era vc.

Antes do Amor ser do outro, ele ficou aqui em mim. E mesmo quando sai, seus restos continuam aqui e se eu regar, mais e mais vão florir.

Mas o joio também pode criar raízes. Assim como um majericão.

Eu não escolho as sementes jogadas em minha terra, mas eu escolho quais eu vou regar. E quais eu quero que criem raízes em mim
Mais uma vez sonhei que o mundo estava acabando. Todo mundo correndo pela Av. Paralela, bolas de fogo caindo.
Caos. Caos. Caos. E junto com ele veio uma ressignificação de relações e vínculos, veio perdão. Pessoas correndo atrás de outras pra falar do Amor. Afinal, o mundo estava acabando e morrer com coisas mal resolvidas não era bom...

Eu entendi esse sonho. Ele fala sobre a minha crença de que se algo está mal resolvido, ele está incompleto e enquanto as coisas não ficarem bem, a gestalt ainda vai estar aberta.

É só uma tendência. Tem coisas que devem estar longe mesmo.

Mas na maioria das vezes, eu tenho a certeza de que todo mal deve se transformar em Bem e isso faz parte da evolução das coisas. O mal é um estágio anteriror ao Bem, e como eu acredito em auto-atualização, o Bem deve ser alcançado.

O mal é estagnação. O Bem é crescimento.



auto-atualização: conceito da Gestalt que diz que todo sujeito tende a buscar o seu crescimento, como uma árvore que sempre busca o sol.

sábado, 2 de abril de 2011

a pedra

vc pode lavar meus cabelos e me colocar pra dormir, depois colocar minha roupa, forrar a cama e cobrir com o lençol que faz um vento antes de cair em minha pele. pode fazer uma concha com suas mãos, enche-las de todas as águas e colocar em minha boca pra eu beber o fim da sede.
seus cabelos cor-de-sol, pele cor de terra e tendencia a achar o mar infinito, porque ele é tão lindo quanto o céu e além disso, a gente pode entrar nele.
e a gente entra... vai até o fundo e cata uma pedra. nos entregamos e nos presenteamos com essas coisas duras e sem significado.

mas tinha tanto sentido... essa pedra.
eu gosot do construído, gostoi do ameno, do calmo. me traz uma sensação de mar depois da tempestade.
mas, tenho uma tendencia maior à tempestade que precede à calmaria. á chuva de canivete. as gotas que entram e derrubam as portas. os leves tapas vindos do céu..
gosto do que suspende e do que faz o ar faltar. gosto do susto, do indesperado.
gosto de unhas encravadas na pele, entega sem medo.
gosto de nao ter medo.
aquilo que me tira o ar, que me faz duvidar do que é real de tanto que é.
surpresa, palavra inesperada, adeus não suportado, medo não compreendido.
eu quero minhas veis expostas formamando teias em volta de mim... e o meu sangfue circulando, me cobrindo de vida.
não bata na porta, não pergunte porque, não duvide.
não peça licença, não pergunte o nome, não pergunte.
siga. faça. intua.

qualquer limite é mais uma ilusão e vc deve estar lúcido e desiludido.

desilusão é o que te sustenta.

sabe que o que te limita é a crença de ser limitado? e só issso?
e agora que sabe não ser, o que faz??

não bata na porta, não interfone, não ligue.

fale.

seja.