terça-feira, 5 de abril de 2011

O que a gente compra

Nós, mulheres, arrancamos da gente o que nos serviu durante milênios: pelos e cutículas.
Hoje, na selva de pedra, eles não servem pra mais nada. Andar por aí com essas partes do corpo, é sinônimo de desleixo e até falta de higiene.

Não temos mais o costume de cavar buraco na terra, nem desfacelar carne fresca de bicho. Então, por ser desnecessária para uma maior proteção de nossos dedos, ela acabou gerando emprego e uma nova classe de trabalhadoras: as manicures. E essas peles são arrancadas de nossos dedos, levando às vezes, um pouquinho de sangue. Mas nada além do que uma mulher pode aguentar para ficar bela. Eu, durante muito tempo fiz a unha em salão, depois passei a não ver mais sentido em tirar parte de minha pele que insiste em renascer e além disso, meus dedos ficavam frágeis. Hoje eu só faço colori-las. Gosto de cores e se podesse até minha pele seria colorida. Amo Frida, amo Lila. Como não sou índia e não pinto minha pele, deposito todas as cores nas unhas e só nelas, já que maquiagem também não é meu melhor ramo. E o salão de beleza, foi aposentado de minha vida, já que ele só existia para a extinção de minhas cutículas. Ahh, e ainda tem gente XY, que acha pouco existir e ainda faz unha.

Quanto aos pelos, no ser humano, eles servem para nos proteger do sol e diminuir o contato entre a pele nos cantos do nosso corpo. Mas mesmo assim, a gente arranca. Uns mais, outros menos. Uns bem mais, outros bem menos. E por falar nisso, que coisa triste é essa nova tendência desses seres XY tirar os fios da sombrancelha e axila. Avê Maria, é feio demais de ver.

(Axila é uma palavra feia. Mas dentre as outras opções eu só consigo falar essa. Eu tenho aversão à muitas palavras e essa é uma).

Essa coisa de arrancar, limpar e desinfectar, está demais hoje. É uma super higienização de tudo e tem lugar que meus olhos ardem de tão branco que tudo é, e eu espirro de tanto cheirinho. É porque ninguém quer mais ar puro. Quer ar com cheiro de flores do campo, jasmim, alecrim, tudo misturado. É cheiro no banheiro, cheiro na sala, cheiro que liga quando a gente passa. Semana passada peguei o daqui da sala que tinha vida própria e joguei fora. Toda vez que eu passava o bicho soltava um cheiro e ainda fazia um som. Era cada susto...

É isso. Senti uma vontade enooorme de falar sobre essas duas classes excluídas e desgarradas de nossa terra. E sobre essa coisa de comprar a poluição do nosso ar.

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