quinta-feira, 10 de março de 2011

Buenos Aires cheira a carne e tem o céu pequeno. Céu quadrado. Praças ao redor de mim onde me perco e me acho, homens que despertam desejos, passam por mim com suas barbas mal feitas, bem feitas, me lança olhares de doce e sabores. E de todos, de cada um e todos os cantos e gestos e passos... existe um. Um encontro, um instante que faz valer todos, que faz lembrar que trnsformo a existencia em puro sentimento e poesia.
- posso guardar seu cheiro?
Ela tocou a própria nuca e com as mãos em forma de concha, lhe entregou o seu cheiro. Os olhares se encontram e se fundem, naquele instante se deixa de saber quem se é e só há uma enorme consci~encia de estar viva. Ele respira profundamente seu cheiro e se deixa embriagar dela. E mais do que seu cheiro e mais do que seus poros e pele, mais do que toque, eles já tinham toda uma história de 3 minutos. O não dito comunicava, as palavras eram pronunciadas em pequenos gestos, não havia receio, ela se sentia amada por aquele estranho e ele estava entorpecido pela descoberta daquela mulher. Tudo de cada um era novo. Novo e antigo. Conhecidos caminhos sendo descobertos em cada canto do corpo. E esse mesmo corpo foi como porta para o que ela resolveu de puro desejo chamar de alma. Sentia que viver era desejar e a a alma só se faz viva quando desejante, falatosa, na busca do lançar-se para lá. E ela se lançava, sentia seu vazio se preenchendo, se vestindo de uma alegria rosada, cor de pôr-do-sol e mistério de noite.
E tudo se fez no agora. o maior presente que os dois tinham.
Os corpos se afastaram, os olhares se transbordaram e se recolheram, um último gesto, últmo beijo, as mãos deslizaram fluindo o derradeiro toque. As palavras foram "até logo", mas se sabia que era um adeus. Ela voltava para dentro, tentava secar o que fora inundado, precisava dar conta do turbilhão de seus pensamentos, novamente voltava para o seu vazio. A única verdade permanente é poder mover-se, lançar-se ao mundo e crar a si própria.


Wig e eu
(janeiro 2010 - B.A)

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